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LIVROS
ROMANCE
Lançada no país há menos de 20 dias, obra dos estreantes Ian Caldwell e Dustin Thomason está entre os mais vendidos
"Enigma do Quatro" leva thriller à Renascença
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria dos livros-enigma-com-fundo-histórico-e-algum-verniz-erudito reaqueceu as fornalhas em 2003 com a explosão de
"O Código Da Vinci", seguida das
boas vendas do aqui ainda inédito
(cem contra um cafezinho que
não demoram a lançar) "Dante's
Club" (Clube de Dante), de Matthew Pearl.
"O Enigma do Quatro", romance de estréia de dois jovens recém-saídos das universidades de Harvard e Princeton, sinalizou no ano
passado que as listas de best-sellers dos EUA ainda tinham apetite para este filão. E as nossas listas
não ficam atrás.
Lançado há menos de 20 dias no
Brasil, "O Enigma", da dupla Ian
Caldwell e Dustin Thomason,
acaba de escalar cinco postos e
atingir o terceiro lugar entre as
ficções no "top ten" da Folha.
A editora Planeta investiu pesado para isso. A Folha apurou que
ela pagou US$ 30 mil (R$ 78 mil)
pelos direitos da obra -"O Código Da Vinci" teria custado US$ 12
mil (R$ 31 mil) para a Sextante.
A relação de "O Enigma do
Quatro" com "O Código Da Vinci" não é fortuita. Uma consulta
ao site Google com os nomes em
inglês dos dois romances aponta
55 mil menções conjuntas.
Assim como o livro de Dan
Brown, o trabalho de Caldwell e
Thomason envolve um mistério
relacionado ao Renascimento. Na
obra da dupla, amigos desde os
oito anos de idade, a fonte dos
suspenses é um livro real do século 15, o "Hypnerotomachia Poliphili" (que teve a primeira edição
integral em inglês só em 1999).
Caldwell descobriu o tal cartapácio em um curso e, palavras de
Thomason em entrevista à Folha,
"logo achamos que um texto misterioso do século 15 era um ótimo
assunto em torno do qual criar
um thriller intelectual". Leia abaixo outros trechos da conversa.
(CASSIANO ELEK MACHADO)
Folha - Existem traços de mistério
"mágico" em "O Enigma do Quatro", e boa parte dos best-sellers
recentes, de "Harry Potter" a Paulo
Coelho, lidam com formas diferentes de "feitiços". O sucesso desses
temas está ligado ao desencantamento do mundo contemporâneo?
Dustin Thomason - Parece que
existe um leitorado forte para esses assuntos hoje, mas talvez essa
tendência seja particularmente
relacionada à riqueza de certos
períodos históricos. Em sua essência, "O Enigma" é uma homenagem ao Renascimento, esse incrível período no qual emergiram
muitos dos nossos maiores tesouros artísticos. "O Enigma" talvez
tenha apelo por abrir uma porta
para esse passado esplendoroso.
Folha - Você se lembra do momento exato em que vocês decidiram que fariam um romance de
mistério que girasse em torno de
um obscuro livro renascentista?
Thomason - Foi precisamente
três meses antes do meu ingresso
na faculdade de medicina e três
meses antes que Ian começasse a
trabalhar em uma empresa de internet. Nossa opção por escrever
sobre um assunto tão obscuro foi
quase tão otimista quanto a nossa
ambição de escrevermos um livro
totalmente a quatro mãos.
Folha - Não existem muitos livros
feitos a quatro mãos no mercado.
Como vocês fizeram para administrar a divisão da feitura do livro?
Thomason - Ian e eu já tínhamos
testado a sinergia de nossas mãos
para a ficção quando éramos
crianças, mas fazíamos peças que
provavelmente ninguém se interessaria em ler atualmente. Quando começamos a escrever seriamente em parceria, o fazíamos
em computadores vizinhos. Mas
seis anos depois já conseguíamos
tocar o trabalho nos falando por
telefone diversas horas por dia,
com centenas de milhas de distância. Nós inclusive aprendemos
a escrever com a mesma voz narrativa sobre aquilo que combinávamos pelo telefone.
Folha - Os Estados Unidos são um
dos únicos países do mundo onde é
possível conseguir sucesso instantâneo e consistente com um romance de estréia. Vocês acreditavam que fariam um "strike" quando começaram a escrever?
Thomason - Como em qualquer
empreitada artística, existiu nesta
uma boa quantidade de risco. E
também uma boa dose de esperança. Mas qualquer um que escreva um livro pensando em ficar
rico terá dificuldades. Nós escrevemos este livro porque tínhamos
uma história para contar. Foi sorte que outros quisessem lê-la.
Folha - Vocês dizem que começaram "O Enigma" anos antes do lançamento de "O Código Da Vinci" e
que o livro de Dan Brown não foi
uma influência. Mas vocês estão
"condenados" a serem comparados com ele. Ajuda ou atrapalha?
Thomason - A comparação com
o "Código" é um bocado lisonjeira. Esperamos que os leitores
achem nossa história tão emocionante quanto as de Brown.
Folha - Vocês conseguiram testar
o gosto de decifrar algum dos mistérios do "Hypnerotomachia Poliphili"? Descobriram algo nele que
especialistas não sabiam?
Thomason - A única coisa que
talvez tenhamos descoberto sobre
o "Hypnerotomachia" é que existem outras pessoas comuns que
podem ficar tão encantadas por
seus mistérios como nós éramos.
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