São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2005

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LIVROS

ROMANCE

Lançada no país há menos de 20 dias, obra dos estreantes Ian Caldwell e Dustin Thomason está entre os mais vendidos

"Enigma do Quatro" leva thriller à Renascença

DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria dos livros-enigma-com-fundo-histórico-e-algum-verniz-erudito reaqueceu as fornalhas em 2003 com a explosão de "O Código Da Vinci", seguida das boas vendas do aqui ainda inédito (cem contra um cafezinho que não demoram a lançar) "Dante's Club" (Clube de Dante), de Matthew Pearl.
"O Enigma do Quatro", romance de estréia de dois jovens recém-saídos das universidades de Harvard e Princeton, sinalizou no ano passado que as listas de best-sellers dos EUA ainda tinham apetite para este filão. E as nossas listas não ficam atrás.
Lançado há menos de 20 dias no Brasil, "O Enigma", da dupla Ian Caldwell e Dustin Thomason, acaba de escalar cinco postos e atingir o terceiro lugar entre as ficções no "top ten" da Folha.
A editora Planeta investiu pesado para isso. A Folha apurou que ela pagou US$ 30 mil (R$ 78 mil) pelos direitos da obra -"O Código Da Vinci" teria custado US$ 12 mil (R$ 31 mil) para a Sextante.
A relação de "O Enigma do Quatro" com "O Código Da Vinci" não é fortuita. Uma consulta ao site Google com os nomes em inglês dos dois romances aponta 55 mil menções conjuntas.
Assim como o livro de Dan Brown, o trabalho de Caldwell e Thomason envolve um mistério relacionado ao Renascimento. Na obra da dupla, amigos desde os oito anos de idade, a fonte dos suspenses é um livro real do século 15, o "Hypnerotomachia Poliphili" (que teve a primeira edição integral em inglês só em 1999).
Caldwell descobriu o tal cartapácio em um curso e, palavras de Thomason em entrevista à Folha, "logo achamos que um texto misterioso do século 15 era um ótimo assunto em torno do qual criar um thriller intelectual". Leia abaixo outros trechos da conversa.
(CASSIANO ELEK MACHADO)

 

Folha - Existem traços de mistério "mágico" em "O Enigma do Quatro", e boa parte dos best-sellers recentes, de "Harry Potter" a Paulo Coelho, lidam com formas diferentes de "feitiços". O sucesso desses temas está ligado ao desencantamento do mundo contemporâneo?
Dustin Thomason -
Parece que existe um leitorado forte para esses assuntos hoje, mas talvez essa tendência seja particularmente relacionada à riqueza de certos períodos históricos. Em sua essência, "O Enigma" é uma homenagem ao Renascimento, esse incrível período no qual emergiram muitos dos nossos maiores tesouros artísticos. "O Enigma" talvez tenha apelo por abrir uma porta para esse passado esplendoroso.

Folha - Você se lembra do momento exato em que vocês decidiram que fariam um romance de mistério que girasse em torno de um obscuro livro renascentista?
Thomason -
Foi precisamente três meses antes do meu ingresso na faculdade de medicina e três meses antes que Ian começasse a trabalhar em uma empresa de internet. Nossa opção por escrever sobre um assunto tão obscuro foi quase tão otimista quanto a nossa ambição de escrevermos um livro totalmente a quatro mãos.

Folha - Não existem muitos livros feitos a quatro mãos no mercado. Como vocês fizeram para administrar a divisão da feitura do livro?
Thomason -
Ian e eu já tínhamos testado a sinergia de nossas mãos para a ficção quando éramos crianças, mas fazíamos peças que provavelmente ninguém se interessaria em ler atualmente. Quando começamos a escrever seriamente em parceria, o fazíamos em computadores vizinhos. Mas seis anos depois já conseguíamos tocar o trabalho nos falando por telefone diversas horas por dia, com centenas de milhas de distância. Nós inclusive aprendemos a escrever com a mesma voz narrativa sobre aquilo que combinávamos pelo telefone.

Folha - Os Estados Unidos são um dos únicos países do mundo onde é possível conseguir sucesso instantâneo e consistente com um romance de estréia. Vocês acreditavam que fariam um "strike" quando começaram a escrever?
Thomason -
Como em qualquer empreitada artística, existiu nesta uma boa quantidade de risco. E também uma boa dose de esperança. Mas qualquer um que escreva um livro pensando em ficar rico terá dificuldades. Nós escrevemos este livro porque tínhamos uma história para contar. Foi sorte que outros quisessem lê-la.

Folha - Vocês dizem que começaram "O Enigma" anos antes do lançamento de "O Código Da Vinci" e que o livro de Dan Brown não foi uma influência. Mas vocês estão "condenados" a serem comparados com ele. Ajuda ou atrapalha?
Thomason -
A comparação com o "Código" é um bocado lisonjeira. Esperamos que os leitores achem nossa história tão emocionante quanto as de Brown.

Folha - Vocês conseguiram testar o gosto de decifrar algum dos mistérios do "Hypnerotomachia Poliphili"? Descobriram algo nele que especialistas não sabiam?
Thomason -
A única coisa que talvez tenhamos descoberto sobre o "Hypnerotomachia" é que existem outras pessoas comuns que podem ficar tão encantadas por seus mistérios como nós éramos.


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