Em "Batman - O Cavaleiro das Trevas", de 1986, Frank Miller subverte a personalidade do super-herói

PEDRO CIRNE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Batman mudou em 1986. Ele desistiu de sua aposentadoria, teve seu confronto final com o Coringa, adotou uma parceira chamada Robin e deu uma surra homérica em Superman, seu outrora amigo de décadas. Estes são alguns momentos de "O Cavaleiro das Trevas", minissérie em quatro partes que mexeu com o gênero de super-heróis nas HQs norte-americanas.
Roteirista e desenhista da série, Frank Miller criou uma história violenta, sombria e imprevisível. Ele voltou aos personagens em 2001 para uma continuação, lançada em três partes. E os sete capítulos da série saem agora em volume único no Brasil na edição "Batman - O Cavaleiro das Trevas".
Quando o primeiro "O Cavaleiro" foi lançado, em 1986, ele seguiu um caminho diferente dos títulos de super-heróis. A série não pertencia ao universo "oficial": nada do que Miller fizesse repercutiria nas revistas dos personagens.
A inocência de alguém fantasiar-se de homem-morcego para enfrentar criminosos, vencendo sempre, foi deixada de lado. Tudo ficou mais tenso e violento, menos... o Superman. O primeiro de todos os super-heróis foi apresentado como alguém tão inocente e sem cérebro que se transformou em uma marionete do presidente norte-americano.
"O Cavaleiro das Trevas" saiu no mesmo ano de "Watchmen", de Alan Moore, outra série que criticava os super-heróis. O resultado é que houve uma guinada no gênero: os editores e roteiristas tentaram tornar os personagens mais sombrios, mortais e com problemas existenciais. Quase "humanos", ou o mais próximo que pudessem chegar da humanidade.
Quando o segundo "O Cavaleiro das Trevas" foi lançado, 15 anos depois, o gênero de super-heróis não era o mesmo. Havia exceções, mas de um modo geral a fantasia e a inocência deixaram de existir. Miller usou seu novo "O Cavaleiro das Trevas" como uma caricatura do gênero.
Batman e Superman foram levados ao extremo. O homem-morcego virou um ditador manipulador e autoritário e Superman, um covarde burro que leva uma nova surra, agora de seus ex-companheiros da Liga da Justiça.
Nos dois momentos em que foram lançadas, as séries pareciam histórias de super-heróis.
Mas o humor ácido e o questionamento do que estava sendo feito com os personagens transformaram os dois "O Cavaleiro das Trevas" em algo além.