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OSCAR 2008
"Só adaptamos o romance de um grande americano"
Tom blasé marca a vitória de Joel e Ethan Coen, de "Onde os Fracos Não Têm Vez", na 80ª edição do prêmio da Academia
DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES
Uma reação tímida, quase
fria, estava estampada em Joel
e Ethan Coen nos bastidores do
Kodak Theater logo após a
maior consagração da dupla de
irmãos cineastas pela indústria
do cinema dos EUA. Com estatuetas em mãos, os americanos
haviam acabado de vencer os
Oscars de melhor filme, direção
e roteiro adaptado por "Onde
os Fracos Não Têm Vez", e ainda tinham visto o espanhol Javier Bardem levar o prêmio de
ator coadjuvante pelo longa.
No palco, Ethan havia sido
monossilábico: "Eu não tenho
muito a acrescentar ao que já
disse mais cedo. Obrigado".
Joel complementara: "Estamos
muito gratos a todos vocês por
nos deixar a continuar brincando na nossa caixa de areia, então obrigado a todos".
Nos bastidores da 80ª edição
do principal prêmio da indústria do cinema, os Coen seguiram o ritual imposto pela Academia das Artes e Ciências Cinematográficas. Na coxia do
teatro, posaram para fotos com
Martin Scorsese -que lhes entregara o prêmio de direção- e
seguiram para uma entrevista
coletiva com jornalistas de todo
o mundo, incluindo a reportagem da Folha.
Mantiveram sempre o ar blasé e o tom de que nada daquilo
era tão importante assim. Fizeram questão de valorizar a obra
original que resultou no filme e
de elogiar os outros quatro indicados ao prêmio principal da
noite: "Sangue Negro", "Desejo
e Reparação", "Conduta de Risco" e "Juno".
"Eu acho que foi um ano especial em termos que -isso parece clichê, mas....- todos os
filmes foram muito interessantes para mim pessoalmente, e
esse não é sempre o caso", disse
Ethan, 50. "Havia filmes fantasticamente bons. Nós só
adaptamos o romance de um
grande americano, Cormac
McCarthy, e tentamos fazer
justiça ao livro", completou.
Sobre a rotina de trabalho da
dupla, os cineastas reafirmaram sua filosofia de trabalho,
cooperativa, sem hierarquia.
"Nós sempre fizemos filmes do
mesmo jeito. Não há divisão de
trabalho. É um esforço colaborativo de cima a baixo. Ninguém manda em ninguém. E é
assim que queremos continuar
fazendo nossos próximos filmes", declarou Joel, 53.
Os diretores ainda brincaram com os jornalistas ao comentar a derrota na categoria
montagem (para "Ultimato
Bourne"), em que concorriam
sob o pseudônimo de Roderick
Jaynes. "Nós não falamos com
ele [Jaynes] ainda. Nós sabemos que ele está infeliz [por ter
perdido o prêmio na categoria],
provavelmente não está bem",
ironizou Ethan.
"É bom, é bom ganhar o Oscar. Quatro prêmios. Está
bom", resumiu Joel.
Triunfo espanhol
O ator espanhol Javier Bardem chegou aos bastidores do
teatro sorrindo, beijando a estatueta e falando em espanhol
com os repórteres de jornais
publicados no idioma.
Indicado em 2001 por "Antes
do Anoitecer", Bardem foi premiado pela Academia por viver
em "Onde os Fracos Não Têm
Vez" Anton Chigurh, um matador de aluguel que persegue um
homem que porta uma maleta
com milhões de dólares achada
entre corpos de uma chacina.
O ator não poupou elogios
aos diretores. "Trabalhar com
os irmãos Coen é uma festa.
São muito sérios no trabalho e
com eles próprios e não criam a
sensação quase sacra como alguns diretores na filmagem",
afirmou. "Mais importante do
que o Oscar é ter feito esse filme, que com certeza me marcou", declarou Bardem, que
completa 39 anos no sábado.
Assim como os diretores,
Bardem também exaltou a força de seus concorrentes.
"Quem deveria ganhar? Não
sei. Isso é uma loteria, e eu venci. Não quer dizer que eu sou o
melhor de todos, com certeza.
[...] Neste ano, veja quem estava. Philip [Seymour Hoffman]
é para mim um dos atores mais
incríveis de todos os tempos."
O ator, que no palco dedicou
o prêmio à sua mãe e ao seu
país, ainda voltou às origens:
"O cinema espanhol tem força,
tem muitos talentos".
O jornalista DANIEL BERGAMASCO viajou a
convite do MySpace.
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