São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

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OSCAR 2008

"Só adaptamos o romance de um grande americano"

Tom blasé marca a vitória de Joel e Ethan Coen, de "Onde os Fracos Não Têm Vez", na 80ª edição do prêmio da Academia

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

Uma reação tímida, quase fria, estava estampada em Joel e Ethan Coen nos bastidores do Kodak Theater logo após a maior consagração da dupla de irmãos cineastas pela indústria do cinema dos EUA. Com estatuetas em mãos, os americanos haviam acabado de vencer os Oscars de melhor filme, direção e roteiro adaptado por "Onde os Fracos Não Têm Vez", e ainda tinham visto o espanhol Javier Bardem levar o prêmio de ator coadjuvante pelo longa.
No palco, Ethan havia sido monossilábico: "Eu não tenho muito a acrescentar ao que já disse mais cedo. Obrigado". Joel complementara: "Estamos muito gratos a todos vocês por nos deixar a continuar brincando na nossa caixa de areia, então obrigado a todos".
Nos bastidores da 80ª edição do principal prêmio da indústria do cinema, os Coen seguiram o ritual imposto pela Academia das Artes e Ciências Cinematográficas. Na coxia do teatro, posaram para fotos com Martin Scorsese -que lhes entregara o prêmio de direção- e seguiram para uma entrevista coletiva com jornalistas de todo o mundo, incluindo a reportagem da Folha.
Mantiveram sempre o ar blasé e o tom de que nada daquilo era tão importante assim. Fizeram questão de valorizar a obra original que resultou no filme e de elogiar os outros quatro indicados ao prêmio principal da noite: "Sangue Negro", "Desejo e Reparação", "Conduta de Risco" e "Juno".
"Eu acho que foi um ano especial em termos que -isso parece clichê, mas....- todos os filmes foram muito interessantes para mim pessoalmente, e esse não é sempre o caso", disse Ethan, 50. "Havia filmes fantasticamente bons. Nós só adaptamos o romance de um grande americano, Cormac McCarthy, e tentamos fazer justiça ao livro", completou.
Sobre a rotina de trabalho da dupla, os cineastas reafirmaram sua filosofia de trabalho, cooperativa, sem hierarquia. "Nós sempre fizemos filmes do mesmo jeito. Não há divisão de trabalho. É um esforço colaborativo de cima a baixo. Ninguém manda em ninguém. E é assim que queremos continuar fazendo nossos próximos filmes", declarou Joel, 53.
Os diretores ainda brincaram com os jornalistas ao comentar a derrota na categoria montagem (para "Ultimato Bourne"), em que concorriam sob o pseudônimo de Roderick Jaynes. "Nós não falamos com ele [Jaynes] ainda. Nós sabemos que ele está infeliz [por ter perdido o prêmio na categoria], provavelmente não está bem", ironizou Ethan.
"É bom, é bom ganhar o Oscar. Quatro prêmios. Está bom", resumiu Joel.

Triunfo espanhol
O ator espanhol Javier Bardem chegou aos bastidores do teatro sorrindo, beijando a estatueta e falando em espanhol com os repórteres de jornais publicados no idioma. Indicado em 2001 por "Antes do Anoitecer", Bardem foi premiado pela Academia por viver em "Onde os Fracos Não Têm Vez" Anton Chigurh, um matador de aluguel que persegue um homem que porta uma maleta com milhões de dólares achada entre corpos de uma chacina.
O ator não poupou elogios aos diretores. "Trabalhar com os irmãos Coen é uma festa. São muito sérios no trabalho e com eles próprios e não criam a sensação quase sacra como alguns diretores na filmagem", afirmou. "Mais importante do que o Oscar é ter feito esse filme, que com certeza me marcou", declarou Bardem, que completa 39 anos no sábado.
Assim como os diretores, Bardem também exaltou a força de seus concorrentes.
"Quem deveria ganhar? Não sei. Isso é uma loteria, e eu venci. Não quer dizer que eu sou o melhor de todos, com certeza. [...] Neste ano, veja quem estava. Philip [Seymour Hoffman] é para mim um dos atores mais incríveis de todos os tempos."
O ator, que no palco dedicou o prêmio à sua mãe e ao seu país, ainda voltou às origens: "O cinema espanhol tem força, tem muitos talentos".


O jornalista DANIEL BERGAMASCO viajou a convite do MySpace.


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