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análise
No palco, ex-hippies pareciam republicanos
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Entrevistado pela CNN
às vésperas da cerimônia de entrega do Oscar,
o ator inglês Ben Kingsley explicou por que não gosta de
acompanhar a transmissão.
"Não é um show sobre um vencedor, mas sobre quatro derrotados", disse ele.
Kingsley experimentou o sabor da vitória por "Gandhi"
(1982) e sentiu o da derrota por
"Bugsy" (1991), "Sexy Beast"
(2000) e "Casa de Areia e Névoa" (2003).
De fato, há uma dose de sadismo na exposição dos cinco
indicados, em suas poltronas,
confortados pelos acompanhantes enquanto aguardam a
abertura do envelope com o resultado. Só escapa do constrangimento quem prefere ficar em
casa, como Woody Allen fez nas
21 ocasiões em que disputou o
prêmio (com três vitórias), e
acaba substituído por uma foto
no mosaico dos rostos em disfarçada expectativa.
O apelo funciona apenas para
figuras que o espectador seja
capaz de reconhecer, o que reduz o show dos derrotados às
categorias dos atores e direção.
Se é o que no fundo interessa,
talvez seja a hora de a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood se
inspirar no enxuto prêmio do
Screen Actors Guild, o sindicato dos atores, e abreviar a cerimônia para manter a audiência.
Ritmo apressado
Foi notável o esforço, neste
ano, para apressar o ritmo e reduzir ao máximo os tempos vazios provocados pelos prêmios
obscuros. Ainda assim, a quantidade de categorias e a enfadonha apresentação das canções
indicadas tornaram muito difícil a compactação. Para complicar, a greve dos roteiristas espremeu em duas semanas o período de redação do programa e
expôs um acabamento mais
bruto do que o habitual.
Paralelamente, havia o 80º
aniversário a comemorar com a
apresentação de quadros especiais. A tentativa de reverenciar
os ídolos do passado enquanto
se valorizavam os do presente
deu a impressão de que o conceito da cerimônia deste ano foi
trabalhado de maneira apressada, sem que as conexões entre uma coisa e outra sustentassem todo o programa.
Não deixa de ser curioso que
essa estrutura solene e anacrônica, sobretudo para o espectador jovem do século 21, tenha
ainda o poder de se sobrepor a
qualquer ameaça de rebeldia,
por mais comportada que seja.
Foi o Oscar dos irmãos Coen,
os responsáveis por filmes dissonantes como "Gosto de Sangue" (1984) e "O Grande Lebowski" (1998). No entanto, no
palco, eles pareciam ex-hippies
que se transformaram em republicanos e trabalham em
Wall Street.
Cabe a novos talentos como
Diablo Cody, a tatuada roteirista de "Juno", apontar no futuro
para um outro cenário, em que
as piadas políticas do apresentador não sejam o único respiro
de vida em um ambiente com
cheiro de naftalina. Afinal, o
negócio deles não é o show business?
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