São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
CRÍTICA ROMANCE Hélio Pólvora estreia no gênero com trama rural fatalista
NELSON DE OLIVEIRA ESPECIAL PARA A FOLHA Hélio Pólvora, para quem "literatura é doença, é fatalidade", nunca escondeu sua admiração por dois mestres: Graciliano Ramos (1892-1953) e William Faulkner (1897-1962). Em sua obra, o ficcionista e crítico baiano de 82 anos sempre procurou conciliar os opostos: a economia discursiva de Graciliano e a exuberância expressionista de Faulkner. Dois autores que denunciaram com vigor a doença e o fatalismo do espaço rural. Rústico e violento: assim é o mundo do romance de estreia de Hélio Pólvora. Mas, se esse mundo está longe das grandes cidades elétricas, também está distante da paisagem rural contemporânea. Nele não há antenas parabólicas nem tratores, seus habitantes não têm celular nem acompanham a novela das oito. É um mundo medieval, hoje talvez só possível na ficção. A falta de marcas históricas e geográficas faz dele um lugar fora do tempo e do espaço concretos. Reconhecemos sua linguagem e seus costumes sertanejos, mas não sabemos exatamente onde e em que época se localiza. INJÚRIA O protagonista de "Inúteis Luas Obscenas", senhor Guimarães, é surdo há muito tempo. Ninguém se lembra mais de seu nome. Ao falar com ele ou a respeito dele, dizem somente "o Surdo". Mas há momentos em que surge a suspeita: surdo mesmo? Ou apenas quando lhe é conveniente? O Surdo é um velho comum com habilidades incomuns. Cercado de gente rude e vingativa, ele é sempre sábio e sereno. Não é alguém capaz de se opor às pressões do meio social miserável em que vive, mas isso não o impede de se destacar dessa paisagem, por meio das suas tiradas poéticas. O Surdo tem dois filhos: Regina e Jonas. A vida segue sem grandes percalços até o dia em que Jonas foge com Celina, filha do coronel Castro Guerra. Depois de uma breve perseguição, o casal é capturado e Jonas é emasculado. A partir desse ponto, a trama adensa-se e o ódio se espalha. Vivendo sob o mesmo teto, Regina e Celina tornam-se inimigas cruéis. Celina passa a flertar com o Surdo. Jonas é abatido pela impotência e pelo ciúme. Os capítulos são curtos, e os quatro personagens alternam-se na narração. Os mesmos fatos têm, por isso, versões um pouco diferentes. Essa estratégia ficcional faulkneriana sustenta muito bem a trama. Há até mesmo duas opções de desenlace, a de Regina e a de Celina. Duas versões um pouco diferentes do mesmo ódio. NELSON DE OLIVEIRA é autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral) INÚTEIS LUAS OBSCENAS AUTOR Hélio Pólvora EDITORA Casarão do Verbo QUANTO R$ 36,90 (248 págs.) AVALIAÇÃO bom Texto Anterior: Crítica/Romance: Novo livro de Adriana Lisboa cultiva o desencanto sem perder de vista a poesia Próximo Texto: Opinião/Direitos Autorais: Apenas "copyright" pode garantir progresso Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |