São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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CLAUDIO TORRES "DIABÓLICA"

da Equipe de Articulistas

Claudio Torres, 35, que, no último Festival de Brasília, ganhou o Candango de direção pelo episódio "Diabólica", de "Traição", falou à Folha sobre a construção do filme.
(JGC)

Folha - "Diabólica" foi o último episódio de "Traição" a ser filmado. Isso ajudou ou atrapalhou?
Claudio Torres -
Os dois outros episódios, que já estavam prontos, eram muito diferentes um do outro.
"O Primeiro Pecado" era uma comédia leve. "Cachorro!" era uma paulada.
Eu tinha que fazer, de certo modo, a ponte entre os dois, uma coisa mais híbrida.
Folha - A atmosfera de seu segmento é marcadamente fantástica, com uma cenografia quase gótica. Por quê?
Torres -
Sempre li a obra do Nelson Rodrigues como uma espécie de "Twilight Zone" do macho brasileiro.
As histórias são sempre o pior pesadelo do macho: a mulher do cara dá para o melhor amigo dele, ou então ele se apaixona pela cunhada etc.
Sempre gostei do lado onírico, fantástico, do Nelson, que aparece por exemplo em "Vestido de Noiva".
Com o diretor de fotografia, Breno Silveira, e o diretor de arte, Gualter Pupo, resolvi criar no filme uma imagem próxima à dos quadrinhos de terror.
Desenhei o primeiro plano várias vezes, a lápis, depois com carvão.
Folha - Seu projeto de longa-metragem, "Redentor", também envereda pelo fantástico. Fale um pouco sobre ele.
Torres -
É uma comédia épico-imobiliária sobre a vida e a morte de um jornalista a quem Deus confiou a missão de salvar a alma de um amigo de infância.
Deus aparece no filme várias vezes: é a estátua do Cristo Redentor.
Folha - "Diabólica" trata de um motivo recorrente de Nelson Rodrigues, o da ninfeta. Como você compara as ninfetas dele com a Lolita de Nabokov?
Torres -
Nabokov estava mais preocupado em descrever o tarado. Nelson tinha paixão por aquele momento em que o sexo desperta na menina.
Nelson gritava contra a hipocrisia. Ele dizia: "Não tratem suas mocinhas como crianças porque elas já fazem crianças".
Tivemos sorte de ter uma atriz da idade da personagem, a Ludmila Dayer.
Ela impôs como condição não beijar o Daniel Dantas. Aí tive a idéia de usar o personagem do delegado (Francisco Cuoco) como censura.
Cada vez que o Daniel ia beijar a Ludmila, cortava para o Cuoco, que era a lei, os costumes.


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