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LITERATURA
"Villa Kyrial" parte das atividades do mecenas cultural Freitas Valle
Volume transporta leitor
à belle époque paulistana
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sai hoje, da avenida Paulista, no
centro de São Paulo, uma expedição à longínqua Villa Kyrial. Os
passageiros dessa viagem não vão
pegar estradas nem ferrovias,
nem barcos ou aviões.
A Villa Kyrial fica no passado.
Para alcançá-la, agora, só mesmo
com um livro que está sendo lançado hoje na livraria Cultura.
"Villa Kyrial - Crônica da Belle
Époque Paulistana", da jornalista
e historiadora Marcia Camargos,
reergue de modo saboroso as demolidas paredes desse importante e desconhecido capítulo da história de São Paulo.
Com esse nome que hoje evoca
algo como um bairro de uma cidade interplanetária, a Villa era
uma espécie de chácara que funcionava como ponto de encontro
da elite dos intelectuais paulistanos do início do século 20.
Não havia mários e oswalds que
não soubessem o endereço: rua
Domingos de Moraes, número 10.
O espaçoso casarão, símbolo do
refinamento e do glamour até os
anos 30, foi demolido, sendo ocupado hoje por um supermercado
da rede Barateiro.
Implosão maior viveu a imagem do idealizador da Villa, o advogado, político e intelectual José
de Freitas Valle (1870-1958).
É ele o norte do trabalho de
Marcia Camargos -que também
assina, com Vladimir Sacchetta,
colaborador neste livro, e Carmen
Lucia Azevedo a premiada biografia de Monteiro Lobato "Furacão na Botocúndia".
Ela começou sua pesquisa em
meados dos anos 70 e concluiu no
ano passado um doutorado em
história na Universidade de São
Paulo sobre o assunto.
A tese da autora tem como lastro a atuação de Freitas Valle como fomentador cultural (pode-se
dizer mecenas) e como cultor raro
no Brasil de um estilo de vida afinado com a chamada belle époque européia.
Na Villa Kyrial, cercado dos intelectuais da época, Freitas Valle
levava adiante a "estetização da
vida".
Usando pseudônimos como
Maître Jean Jean, que usava para
cozinhar, Jacques D'Avray, com o
qual escrevia poemas, todos em
francês, ou Freval, sua faceta "manipulador de perfumes", ele se
cercava da melhor decoração, das
melhores iguarias combinadas
aos melhores vinhos, da melhor
poesia lida pelos melhores autores, da melhor música apresentada pelos melhores instrumentistas e de muitos "melhores" afora.
O incentivo a essas elites intelectuais-artísticas não ficava apenas
dentro do terreno da Kyrial.
Além de financiar do próprio
bolso exposições pioneiras como
a primeira mostra de Lasar Segall,
em 1913, o deputado e depois senador José de Freitas Valle era
também o articulador dos raros
incentivos estatais à produção
cultural.
Era ele que controlava quem ganharia as bolsas do Pensionato
Artístico do Estado de São Paulo,
programa que mantinha jovens
talentos artísticos estudando na
Europa por até sete anos.
Maestros como Francisco Mignone e Sousa Lima e artistas como
Victor Brecheret e Anita Malfatti
foram alguns dos contemplados,
todos eles com empurrões de
Freitas Valle.
Dessas e de tantas outras histórias difíceis de resumir, a melhor
definição é a de Antonio Candido,
um dos principais críticos brasileiros. "Este livro é de grande importância para a história cultural
de São Paulo e recupera de maneira exemplar uma personalidade
injustamente esquecida, José de
Freitas Valle", escreve na apresentação do volume.
Livro: Villa Kyrial - Crônica da Belle
Époque Paulistana
Autora: Marcia Camargos
Editora: Senac São Paulo
Quanto: R$ 30 (254 págs.)
Lançamento: hoje, a partir das 18h30
Onde: livraria Cultura (av. Paulista,
2.073, tel. 0/xx/11/285-4033)
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