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CONTOS/"QUESTIONÁRIO"
Cadão Volpato traz forma atual para universo literário
SANTIAGO NAZARIAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
A edição do novo livro de
contos de Cadão Volpato,
"Questionário", tratou-o como
um objeto estreito e comprido,
como um manual ou uma caderneta telefônica. Pode ser uma edição pertinente, mas não muito
prática. Pelo livro ser muito estreito, a gravidade das páginas sobre a brochura não é suficiente
para mantê-las abertas e é necessário usar ambas as mãos para ler.
Por isso o marca-páginas destacável na orelha vem bem a calhar...
Mas tudo bem, pela sua estrutura, o livro pode até ser lido assim,
quase como uma consulta. Cada
conto inicia-se com uma pergunta. E são perguntas das mais bizarras. "O Que o Palhaço Fez
Aquela Noite no Circo?" e "O Que
É um Rico?" são alguns dos títulos
que abrem narrativas-respostas
de diversos personagens. Pode
parecer algo muito comum atualmente. Há revistas mensais estruturadas dessa forma. Por e-mail,
circulam aqueles questionários
esdrúxulos com perguntas do tipo: "Que ferramenta de jardim
você gostaria de ser?". Entretanto,
este é o grande mérito do livro,
utilizar uma forma ágil e atual a
serviço de um universo verdadeiramente literário. Como as perguntas surgem fora de contexto,
as respostas também são fragmentos, sem grandes pistas de
onde vieram e para onde vão. Personagens contam episódios frugais, mas ganham contornos poéticos. Lembra o "ritual de escuta
às vozes", andar pelas ruas e captar fragmentos de conversas
alheias. Essa liberdade deliciosa
de Volpato garante a unidade do
livro, ao mesmo tempo em que
permite exercitar diferentes estilos e realidades. E, ao contrário de
muitas obras que apelam para a
fragmentação como uma forma
de mascarar a falta de assunto,
"Questionário" parece ter ainda
mais assunto do que páginas.
Seus contos abrem muito mais
questões do que respondem. Seus
personagens mais se insinuam do
que se revelam, deixando ao leitor
a tarefa de completar os espaços
em branco.
Fico imaginando como Volpato
conseguiu terminar seu livro. Deve ser viciante, sempre com novas
perguntas puxando novas narrativas. Aliás, o livro pode ser visto
como uma oficina literária. Quem
quiser escrever, experimente responder ao questionário do autor,
começando pelo final: "Por que
escrevo?". Definitivamente, esse é
um questionário qualitativo.
Santiago Nazarian, escritor, é autor de
"A Morte Sem Nome" e "Feriado de Mim
Mesmo" (ed. Planeta)
Questionário
Autor: Cadão Volpato
Editora: Iluminuras
Quanto: R$ 25 (96 págs.)
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