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Chico ri de Dona Flor e Caetano canta Amado e Caymmi
Lançamento de reedição da obra do autor baiano teve homenagens, leituras e música ontem, no Sesc Pinheiros
Músicos frustraram expectativa do público que queria vê-los juntos em evento promovido pela Companhia das Letras
Tuca Vieira/Folha Imagem
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Chico Buarque deixa o palco após ler trecho do romance "Dona Flor e Seus Dois Maridos"
EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Como era esperado, Caetano
Veloso e Chico Buarque foram
os destaques do evento de lançamento da reedição das obras
completas de Jorge Amado
(1912-2001), pela Companhia
das Letras, ontem à noite, no
Sesc Pinheiros, em São Paulo.
Se, por um lado, ambos frustraram a expectativa do público, que, fartamente munido de
câmeras, esperava ver os dois
cantores juntos no palco, por
outro envolveram a platéia, cada um de seu modo peculiar.
O carioca entrou no palco de
jeans, tênis e camisa branca,
com seu jeito tímido. Sentou-se
à mesa para ler trecho de "Dona
Flor e Seus Dois Maridos" e corou, soltando risadinhas, ao comentar o ar safado da protagonista depois que o finado Vadinho volta dos mortos.
Já Caetano, também de jeans
e exibindo seu farto cabelo grisalho, cantou Dorival Caymmi
("É Doce Morrer no Mar", cuja
letra é de Amado) e tropeçou na
letra de "Milagres do Povo",
composição sua para a trilha da
minissérie "Tenda dos Milagres" (baseada em obra do escritor baiano). "Quando é para
cantar uma letra do Caymmi eu
faço tudo certo, nas minhas, eu
erro", disse o cantor. "Isso é
coisa do Jorge."
Dirigido por Vadim Nikitin, o
espetáculo mesclou leituras de
trechos de obras -por Chico
("Dona Flor e Seus Dois Maridos"), Milton Hatoum ("A Morte e a Morte de Quincas Berro
D'Água"), e Caetano ("Mar
Morto")-, homenagens -do
escritor moçambicano Mia
Couto e do historiador Alberto
da Costa e Silva-, e dramatizações. Também foram exibidas
cenas do documentário "Jorge
Amado", de João Moreira Sal-
les, e de um depoimento gravado pela viúva Zélia Gattai, que
não pôde comparecer.
Em sua fala, Gattai lembrou
que, perto de terminar "Dona
Flor", Amado estava "aflito"
com o desenlace da trama. Ela
então sugeriu matar a personagem. O escritor se recusou e,
após perder a noite escrevendo,
acordou a mulher com a solução: "Ó, Zélia, essa sua amiga se
revelou uma boa descarada. Vadinho voltou nu, ela dormiu
com ele e Dr. Teodoro, e achou
ótimo". O público aplaudiu.
Jeito açucarado
O mestre-de-cerimônias foi
o ator baiano Luis Miranda. A
ele, juntaram-se no palco os
atores Marat Descartes, Luah
Guimarãez e Edna Aguiar.
Costa e Silva salientou que o
que distingue um escritor de
romances de um verdadeiro romancista, como Amado, são
seus personagens, "que vivem
durante a leitura e depois que o
livro é fechado". Já Mia Couto
ressaltou que, por meio da obra
do escritor baiano, "o Brasil regressava à Africa", e devolvia ao
continente a fala [o português]
"num jeito açucarado".
A noite acabou com Caetano
contando um episódio curioso:
convidado para entrevistar o
escritor para "O Pasquim", ele
perguntou se sua relação com o
candomblé era política, ideológica, cultural ou se tinha dimensão religiosa. O escritor
respondeu que, diferentemente do amigo Caymmi, não acreditava em nada. Mas que já tinha visto "muitos milagres no
candomblé, milagres do povo
brasileiro".
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