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CRÍTICA
Violência, muita violência e mais violência
THALES DE MENEZES
da Reportagem Local
O cartaz do filme já entrega:
"Chega de ser o bom moço!". No
primeiro papel de vilão de sua carreira, Mel Gibson não perdoa. Interpreta um dos mais frios e cruéis
assassinos do cinema em "O Troco", filme que reacendeu nos EUA
a discussão da adoção de alguma
espécie de "código de ética" para
diminuir a violência nas telas.
É lamentável que qualquer polêmica possa desviar a atenção do
público de algo fundamental: "O
Troco" é um senhor policial, um
exercício de estilo refinado que todo cinéfilo vai admirar.
Refilmagem muito livre do clássico "À Queima-Roupa", dirigido
por John Boorman em 1967, a história conta a trilha de vingança de
Porter, ladrão e assassino.
O filme começa com Porter numa mesa imunda. Um médico com
jeitão de açougueiro tira duas balas de suas costas. Na tradição do
cinema e do romance noir, a voz
poderosa de Gibson irrompe e
Porter conta sua história.
A fotografia do filme carrega
muito nos tons de azul, e a trilha
sonora tenta, com sucesso, reproduzir o melhor de Lalo Schifrin,
compositor dos principais filmes
de Clint Eastwood e Charles Bronson. Ou seja, tudo contribui para
dar uma cara "anos 70".
Em sua estréia na direção, Brian
Helgeland usa e abusa da cartilha
de Sidney Lumet (diretor de "Serpico") e Don Siegel (de "Dirty
Harry"): big closes, cortes rápidos
e uma câmera esperta que evita a
exibição direta do sangue jorrando, mas consegue transmitir a sensação de violência e agressividade
para o espectador.
Excelente roteirista, Helgeland
escreveu obras geniais como "Los
Angeles - Cidade Proibida", "O
Mensageiro" (com Kevin Costner)
e "Teoria da Conspiração" (com
Gibson). No entanto, o talento e a
amizade com o astro não garantiram um trabalho tranquilo. Gibson não gostou da condução das
filmagens, brigou com Helgeland,
assumiu as últimas gravações e foi
responsável pela edição final.
Tudo isso porque Gibson queria
"O Troco" muito violento. E o roteiro só ajuda. Afinal, Porter se recupera dos tiros para ir atrás de
Val, seu sócio, e Lynn, sua namorada, que levaram dele US$ 70 mil.
Porter testemunha a garota morrer
de overdose e seu humor só piora
ao descobrir que Val usou o dinheiro para pagar uma dívida ao
Sindicato, o grupo que manda no
crime organizado em Chicago.
Em busca de seus US$ 70 mil,
Porter pretende matar todos que
cruzarem seu caminho. E eles não
são poucos: Val, uma gangue de
chineses, policiais corruptos e todos os bandidos "sindicalizados"
da cidade. Porter ainda arruma
tempo para retomar um relacionamento conturbado com a prostituta Rosie (a loira gracinha Maria Bello, da série "Plantão Médico").
Porter dá uma aula de frieza e
crueldade. Bate, chuta, esfaqueia,
atira, ameaça, tortura e mata. E
também é esmurrado, chutado, esfaqueado e torturado. Ele e seus
inimigos são farinha do mesmo saco. Nesse turbilhão de cenas bárbaras, a platéia só vai torcer por ele
porque Mel Gibson é o mais carismático superstar do cinema neste
fim de século e provoca combustão
na libido da mulherada.
É possível reclamar da violência
em ritmo de montanha-russa, ou
das pesadas cenas de sadomasoquismo com Val e a prostituta chinesa, mas uma coisa é inegável: para quem tem estômago, assistir a
"O Troco" é uma experiência cinematográfica e tanto.
Filme: O Troco
Produção: EUA, 1999
Direção: Brian Helgeland
Com: Mel Gibson e Gregg Henry
Quando: a partir de hoje nos cines Marabá,
SP Market 8, Paulista 1, Center Norte 3 e
circuito
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