São Paulo, Sexta-feira, 26 de Março de 1999
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"A MÚSICA E O SILÊNCIO"
Filme se inspirou em artigo de jornal

ADRIANE GRAU
em San Francisco

Sentada na platéia do Shrine Auditorium há um ano, a diretora alemã Caroline Link sabia que a estatueta de melhor filme estrangeiro dificilmente iria parar em suas mãos.
A disputa tinha como favoritos o brasileiro "O Que É Isso, Companheiro?" e o holandês "Caráter", que acabou levando o Oscar naquele ano.
Seu "A Música e o Silêncio", no entanto, já havia cumprido uma bem-sucedida carreira internacional, acumulando prêmios nos festivais de Tóquio, Chicago e Bavária.
O sucesso de "A Música e o Silêncio" nas telas alemãs colocou na pauta do dia os direitos dos surdos-mudos naquele país. Novas leis que reconhecem a linguagem de sinais com as mãos estavam sendo elaboradas.
"Quando eu fiz o filme, descobri que as escolas alemãs forçavam as crianças a ler os lábios", revelou a diretora em entrevista à Folha.
"Ao invés de poderem se comunicar livremente usando a linguagem universal dos surdos-mudos, tinham que apenas escutar o que os outros lhes diziam."
Para contar a história da menina Lara, que fala e escuta normalmente, mas tem pais surdos-mudos, a diretora buscou atores com deficiência auditiva.
"Descobri que na Alemanha não há atores surdos-mudos profissionais", disse ela.
O ator Howie Seago, que faz o papel de pai, é americano, e Emamnuelle Laborit, que interpreta a mãe, é francesa. Um intérprete inglês-francês-surdo-mudo teve que ser contratado durante as filmagens.
Caroline Link, cuja carreira inclui vários programas de televisão na Alemanha, teve inspiração para escrever o roteiro do filme em 1992, quando visitava uma amiga em Los Angeles.
"Li um artigo de jornal sobre uma menina que podia falar e escutar, mas que tinha pais surdos-mudos", diz ela.
"Encantei-me com a idéia de ela ser uma pequena embaixadora dos próprios pais pelo mundo afora, em assuntos mundanos como ir ao banco, à reunião da escola e atender o telefone."
Após ler o artigo, Caroline imediatamente mudou sua passagem de volta para Munique, onde vive e passou três meses aprendendo a linguagem dos surdos-mudos, indo a peças de teatro com atores surdos-mudos e observando a vida de seus novos amigos deficientes.


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