São Paulo, Sexta-feira, 26 de Março de 1999
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FESTIVAL DE CURITIBA
Abujamra encena "As Fúrias" 33 anos depois

da enviada a Curitiba

O diretor Antonio Abujamra tem nesta noite um encontro marcado com o fracasso. Às 21h30, no 8º Festival de Teatro de Curitiba, estréia "As Fúrias", baseado em texto do espanhol Rafael Alberti.
Em 1966, a peça foi encenada em São Paulo pelo mesmo Abujamra, hoje com 66 anos de idade. Segundo ele, foi seu maior fracasso. Para muitos, seu maior sucesso.
"É uma obra muito perigosa e difícil. Apesar de belo, o espectador fica distante de um espetáculo tão evidente e incessante como o ovo de Colombo", disse à Folha, por telefone, de sua casa em São Paulo.
Como aconteceu há 33 anos, ele acredita que "não terá sucesso algum". Se está preocupado com isso? "Para mim, sucesso e fracasso são iguais: dois impostores."
"As Fúrias", montada agora com o atual grupo de Abujamra, Os Privilegiados, é uma metáfora da Espanha dominada pelo general Francisco Franco (1939-1975).
A peça narra a história de Gorgo, uma velha dominadora, que prende em uma torre sua bela sobrinha, Altéia. A única esperança da prisioneira é um dia ser salva por seu amor, o primo Cástor.
Gorgo vive com duas irmãs, Aulaga e Uva, tão velhas quanto ela. Depois da morte do irmão, Gorgo corta suas barbas e se autodenomina o homem da casa.
"O texto demonstra claramente que qualquer pessoa que busque viver do seu jeito, se ferra, pois o poder não deixa. Se você não pagar IPVA, se ferra. Se não pagar ICMS, também. Por isso existe a infelicidade", afirma o diretor.
Criada em 1991, a companhia Os Privilegiados, liderada por Abujamra, já encenou no Festival de Curitiba "O Casamento" e "O Auto da Compadecida".
Segundo ele, "As Fúrias" -que estréia no Rio de Janeiro no dia 2 de abril-, muda de certa forma a postura do grupo em relação ao evento paranaense. Para ele, inclusive, está na hora de a companhia acabar.
"Chega de Curitiba. Os Privilegiados tem 9 anos, está na hora de terminar. Estamos fazendo uma peça em que a crueldade é o ponto máximo. Crueldade é sempre maravilhosa. Mas, ao mesmo tempo, esse espetáculo significa a volta da poesia ao teatro", conta .
Simpático, mas com uma voz cansada, Antonio Abujamra delicadamente encerra a conversa. Antes de se despedir, diz: "O papo é sempre melhor do que aquilo que acaba saindo no jornal. Mas tudo bem..."
(ERIKA SALLUM)


Quando: hoje, às 21h30, amanhã e domingo, às 20h, no teatro Guaíra (r. Quinze de Novembro, s/nº, centro, Curitiba, tel. 041/322-2628). R$ 20


A jornalista Erika Sallum viaja a convite da organização do festival


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