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FESTIVAL DE CURITIBA
Abujamra encena "As Fúrias" 33 anos depois
da enviada a Curitiba
O diretor Antonio Abujamra tem
nesta noite um encontro marcado
com o fracasso. Às 21h30, no 8º
Festival de Teatro de Curitiba, estréia "As Fúrias", baseado em texto
do espanhol Rafael Alberti.
Em 1966, a peça foi encenada em
São Paulo pelo mesmo Abujamra,
hoje com 66 anos de idade. Segundo ele, foi seu maior fracasso. Para
muitos, seu maior sucesso.
"É uma obra muito perigosa e difícil. Apesar de belo, o espectador
fica distante de um espetáculo tão
evidente e incessante como o ovo
de Colombo", disse à Folha, por telefone, de sua casa em São Paulo.
Como aconteceu há 33 anos, ele
acredita que "não terá sucesso algum". Se está preocupado com isso? "Para mim, sucesso e fracasso
são iguais: dois impostores."
"As Fúrias", montada agora com
o atual grupo de Abujamra, Os Privilegiados, é uma metáfora da Espanha dominada pelo general
Francisco Franco (1939-1975).
A peça narra a história de Gorgo,
uma velha dominadora, que prende em uma torre sua bela sobrinha,
Altéia. A única esperança da prisioneira é um dia ser salva por seu
amor, o primo Cástor.
Gorgo vive com duas irmãs, Aulaga e Uva, tão velhas quanto ela.
Depois da morte do irmão, Gorgo
corta suas barbas e se autodenomina o homem da casa.
"O texto demonstra claramente
que qualquer pessoa que busque
viver do seu jeito, se ferra, pois o
poder não deixa. Se você não pagar
IPVA, se ferra. Se não pagar ICMS,
também. Por isso existe a infelicidade", afirma o diretor.
Criada em 1991, a companhia Os
Privilegiados, liderada por Abujamra, já encenou no Festival de
Curitiba "O Casamento" e "O Auto
da Compadecida".
Segundo ele, "As Fúrias" -que
estréia no Rio de Janeiro no dia 2
de abril-, muda de certa forma a
postura do grupo em relação ao
evento paranaense. Para ele, inclusive, está na hora de a companhia
acabar.
"Chega de Curitiba. Os Privilegiados tem 9 anos, está na hora de
terminar. Estamos fazendo uma
peça em que a crueldade é o ponto
máximo. Crueldade é sempre maravilhosa. Mas, ao mesmo tempo,
esse espetáculo significa a volta da
poesia ao teatro", conta .
Simpático, mas com uma voz
cansada, Antonio Abujamra delicadamente encerra a conversa.
Antes de se despedir, diz: "O papo
é sempre melhor do que aquilo que
acaba saindo no jornal. Mas tudo
bem..."
(ERIKA SALLUM)
Quando: hoje, às 21h30, amanhã e domingo, às 20h, no teatro Guaíra (r. Quinze de Novembro, s/nº, centro, Curitiba, tel. 041/322-2628). R$ 20
A jornalista
Erika Sallum viaja a convite da organização do festival
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