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CINEMA
Retrospectiva dos 50 anos do festival escolhe 21 filmes da Europa de um total de 33; `Deus e o Diabo' participa
Seleção de Cannes assume eurocentrismo
AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas
Cannes assume seu eurocentrismo na retrospectiva histórica da
50¦ edição. O ciclo "Descobertas"
exibe 33 títulos de cineastas que o
festival ajudou a catapultar para a
fama internacional. Quase dois
terços (21 filmes) são europeus.
A tensa relação do evento com o
cinema americano confirma-se
pela escolha de apenas quatro filmes -todos independentes. A
presença marginal da América Latina na história do festival é espelhada pela escolha de apenas dois
títulos: o brasileiro "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber
Rocha, e o mexicano "Maria Candelaria", de Emilio Fernandez.
"Descobertas" reafirma Cannes como vitrine privilegiada dos
"cinemas novos" ("free cinema" britânico, "nouvelle vague"
francesa, novo cinema alemão,
movimentos do Leste Europeu e o
Cinema Novo brasileiro). Dez dos
selecionados foram feitos nos anos
60 e três em 1959. É a era de "Os
Incompreendidos" de Truffaut,
"The Sporting Life" de Lindsay
Anderson, "Os Não-Reconciliados" de Miklos Jancsó, "Trens
Estritamente Vigiados" de Jiri
Menzel -e de "Deus e o Diabo".
A década de 70, era de retomada
da hegemonia hollywoodiana com
a ascensão da geração de Coppola,
De Palma, Lucas e Spielberg, é
proporcionalmente menos representada, com apenas três filmes. Já
os anos 80, marcados sobretudo
em sua segunda metade por uma
nova onda de pluralização internacional, emplacou seis títulos.
A base da seleção, pautada antes
em cineastas do que em filmes ou
movimentos, caracteriza o festival
como um ortodoxo seguidor da
"teoria do autor".
Apenas dois dos realizadores escolhidos exibiram filmes em Cannes apenas uma vez (Dennis Hopper e Jiri Menzel). Quase todos têm
exibido o filme de sua primeira
participação no evento.
Só dez dos diretores "revelados" (menos de um terço) receberam, com trabalhos posteriores, a
Palma de Ouro. Nenhum dos títulos venceu o festival.
Os critérios talvez expliquem a
ausência de "O Pagador de Promessas" de Anselmo Duarte, primeiro filme do Terceiro Mundo a
levar a Palma de Ouro, em 1962.
Duarte nunca exibiu outro filme
em Cannes. Voltou apenas como
jurado em 1971, ano do triunfo de
"O Mensageiro" de Joseph Losey
-que não teve seu voto.
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