São Paulo, sábado, 26 de abril de 1997.

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CINEMA
Retrospectiva dos 50 anos do festival escolhe 21 filmes da Europa de um total de 33; `Deus e o Diabo' participa
Seleção de Cannes assume eurocentrismo

AMIR LABAKI
da Equipe de Articulistas

Cannes assume seu eurocentrismo na retrospectiva histórica da 50¦ edição. O ciclo "Descobertas" exibe 33 títulos de cineastas que o festival ajudou a catapultar para a fama internacional. Quase dois terços (21 filmes) são europeus.
A tensa relação do evento com o cinema americano confirma-se pela escolha de apenas quatro filmes -todos independentes. A presença marginal da América Latina na história do festival é espelhada pela escolha de apenas dois títulos: o brasileiro "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, e o mexicano "Maria Candelaria", de Emilio Fernandez.
"Descobertas" reafirma Cannes como vitrine privilegiada dos "cinemas novos" ("free cinema" britânico, "nouvelle vague" francesa, novo cinema alemão, movimentos do Leste Europeu e o Cinema Novo brasileiro). Dez dos selecionados foram feitos nos anos 60 e três em 1959. É a era de "Os Incompreendidos" de Truffaut, "The Sporting Life" de Lindsay Anderson, "Os Não-Reconciliados" de Miklos Jancsó, "Trens Estritamente Vigiados" de Jiri Menzel -e de "Deus e o Diabo".
A década de 70, era de retomada da hegemonia hollywoodiana com a ascensão da geração de Coppola, De Palma, Lucas e Spielberg, é proporcionalmente menos representada, com apenas três filmes. Já os anos 80, marcados sobretudo em sua segunda metade por uma nova onda de pluralização internacional, emplacou seis títulos.
A base da seleção, pautada antes em cineastas do que em filmes ou movimentos, caracteriza o festival como um ortodoxo seguidor da "teoria do autor".
Apenas dois dos realizadores escolhidos exibiram filmes em Cannes apenas uma vez (Dennis Hopper e Jiri Menzel). Quase todos têm exibido o filme de sua primeira participação no evento.
Só dez dos diretores "revelados" (menos de um terço) receberam, com trabalhos posteriores, a Palma de Ouro. Nenhum dos títulos venceu o festival.
Os critérios talvez expliquem a ausência de "O Pagador de Promessas" de Anselmo Duarte, primeiro filme do Terceiro Mundo a levar a Palma de Ouro, em 1962.
Duarte nunca exibiu outro filme em Cannes. Voltou apenas como jurado em 1971, ano do triunfo de "O Mensageiro" de Joseph Losey -que não teve seu voto.

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