São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2000


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MÚSICA

Adriana Calcanhotto lança disco delicado

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Em formato voz e quase só violão, a cantora gaúcha Adriana Calcanhotto lança-se à correnteza dos discos ao vivo em "Público", quinto álbum de carreira, em grande medida de revisão de seu antecessor, "Maritmo", lançado em 1998.
A pressa revisionista é indiscutível e não havia muito por quê. Mas, em que pese isso, "Público" é um disco delicado.
Cantando, ela mostra se aperfeiçoar, embora escorregue no expressionismo em certos finais de frase. No todo, seu canto está doce, macio.

Além das revisões
Passadas revisões tipo "Esquadros" (92), a fraca "Cariocas" (94), "Vambora" (98), "Vamos Comer Caetano" (98, e, sim, ela efetivou -empresários etc.- sua integração à tropa de choque caetânica), o que sobra de "Público"?
Bem, há a releitura a propósito (mas meio hippie) de "Clandestino" (98), do corpulento Manu Chao, justamente agora lançado no Brasil.
Há a versão simpatia para "Devolva-me" (66), simpatia pura da dupla jovem guarda Leno & Lilian.
"Uns Versos", dela própria, Adriana resgata do repertório de Maria Bethânia, que primeiro a gravara em "Âmbar" (96). É duro competir, mas, vá lá, ficou bem bonito.
Há, no setor "literário", digamos assim, "O Outro", poema de Mario de Sá-Carneiro musicado por ela.
Acompanha a interpretação da peça do escritor modernista português uma graciosa historieta que Adriana conta com timidez aos espectadores do show.
No mesmo setor, ela declama, solene e monocórdica, "Remix Século 20", de Waly Salomão.
Nesta faixa, o delírio do poeta se vê confinado ao amontoado previsível de termos "prafrentex" -"arroba", "antivírus" (em inglês esperto), "mega-sena", "dodecafônico" e outros. É tolo, só isso.

Pós-tropicalismo
Da seara (pós)tropicalista é também "Dona de Castelo", tomada de Jards Macalé e Waly Salomão (e aqui se dá o contraste entre os dois flashes de Waly), originalmente do fenomenal quase esquecido LP "Aprender a Nadar" (74), de Macalé. Da trilha do filme "Doces Poderes", foi gravada em 96.
Esta última faz parte de uma pós-seção, de estúdio, com "Medo de Amar nº 3" (Péricles Cavalcanti), "Maresia" (Antonio Cícero/Paulo Machado) -tirada de "Certos Acordes" (81), de Marina Lima- e um remix de (oh, céus) "Remix Século 20".
Medo de Amar nº 3" e "Maresia" vêm com uma roupagem pop, à Lulu Santos (a produção é de Dudu Marote), algo esquizofrênica.
No contexto, talvez apontem direções para o futuro de Adriana, mas não é possível dizer. Talentosa, ela ainda padece de personalidade artística indecisa, oscilante. Temos tempo.


Avaliação:   

Disco: Público
Artista: Adriana Calcanhotto
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 20, em média

Show: Adriana Calcanhotto
Quando: amanhã, às 21h30; sex. e sáb. às 22h; dom. às 20h
Onde: Palace (alameda dos Jamaris, 213, Moema, tel. 0/xx/11/5051-4900)
Quanto: de R$ 20 a R$ 50


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