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MÚSICA
Adriana Calcanhotto lança disco delicado
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Em formato voz e quase só violão, a cantora gaúcha Adriana
Calcanhotto lança-se à correnteza
dos discos ao vivo em "Público",
quinto álbum de carreira, em
grande medida de revisão de seu
antecessor, "Maritmo", lançado
em 1998.
A pressa revisionista é indiscutível e não havia muito por quê.
Mas, em que pese isso, "Público"
é um disco delicado.
Cantando, ela mostra se aperfeiçoar, embora escorregue no expressionismo em certos finais de
frase. No todo, seu canto está doce, macio.
Além das revisões
Passadas revisões tipo "Esquadros" (92), a fraca "Cariocas"
(94), "Vambora" (98), "Vamos
Comer Caetano" (98, e, sim, ela
efetivou -empresários etc.-
sua integração à tropa de choque
caetânica), o que sobra de "Público"?
Bem, há a releitura a propósito
(mas meio hippie) de "Clandestino" (98), do corpulento Manu
Chao, justamente agora lançado
no Brasil.
Há a versão simpatia para "Devolva-me" (66), simpatia pura da
dupla jovem guarda Leno & Lilian.
"Uns Versos", dela própria,
Adriana resgata do repertório de
Maria Bethânia, que primeiro a
gravara em "Âmbar" (96). É duro
competir, mas, vá lá, ficou bem
bonito.
Há, no setor "literário", digamos assim, "O Outro", poema de
Mario de Sá-Carneiro musicado
por ela.
Acompanha a interpretação da
peça do escritor modernista português uma graciosa historieta
que Adriana conta com timidez
aos espectadores do show.
No mesmo setor, ela declama,
solene e monocórdica, "Remix
Século 20", de Waly Salomão.
Nesta faixa, o delírio do poeta se
vê confinado ao amontoado previsível de termos "prafrentex"
-"arroba", "antivírus" (em inglês esperto), "mega-sena", "dodecafônico" e outros. É tolo, só isso.
Pós-tropicalismo
Da seara (pós)tropicalista é
também "Dona de Castelo", tomada de Jards Macalé e Waly Salomão (e aqui se dá o contraste
entre os dois flashes de Waly),
originalmente do fenomenal quase esquecido LP "Aprender a Nadar" (74), de Macalé. Da trilha do
filme "Doces Poderes", foi gravada em 96.
Esta última faz parte de uma
pós-seção, de estúdio, com "Medo de Amar nº 3" (Péricles Cavalcanti), "Maresia" (Antonio Cícero/Paulo Machado) -tirada de
"Certos Acordes" (81), de Marina
Lima- e um remix de (oh, céus)
"Remix Século 20".
Medo de Amar nº 3" e "Maresia" vêm com uma roupagem
pop, à Lulu Santos (a produção é
de Dudu Marote), algo esquizofrênica.
No contexto, talvez apontem
direções para o futuro de Adriana, mas não é possível dizer. Talentosa, ela ainda padece de personalidade artística indecisa, oscilante. Temos tempo.
Avaliação:
Disco: Público
Artista: Adriana Calcanhotto
Lançamento: BMG
Quanto: R$ 20, em média
Show: Adriana Calcanhotto
Quando: amanhã, às 21h30; sex. e sáb. às 22h; dom. às 20h
Onde: Palace (alameda dos Jamaris, 213, Moema, tel. 0/xx/11/5051-4900)
Quanto: de R$ 20 a R$ 50
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