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Três décadas depois, situacionismo vive seu apogeu editorial no Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL
O situacionismo não acabou
em maio de 1968, ele estava só começando. A antevisão de Guy Debord, em suas "Teses sobre a Internacional Situacionista e o seu
Tempo", de 1972, não poderia estar mais correta hoje, quando teatros de rua, ocupações de prédios
públicos e nus de protesto tornaram-se prática comum dos novos
manifestantes antiglobalização.
No mercado editorial brasileiro,
ele também revive (ou vive pela
primeira vez). Até 1997 as prateleiras nacionais não comportavam nem mesmo o livro mais emblemático dos situacionistas. Foi
neste ano que a editora Contraponto, do Rio, lançou, tirando um
atraso de 30 anos, o volume "Sociedade do Espetáculo", de Guy
Debord. Dois anos depois, a editora Vozes investiu no extenso
ensaio "Guy Debord", de Anselm
Jappe, sobre o principal expoente
da Internacional Situacionista.
Mas foi a partir do ano passado
que os "situs" ganharam sua principal embaixada no país, a editora
Conrad. De 2002 para cá, eles publicaram a coletânea "I.S. Situacionista, Teoria e Prática da Revolução", o clássico "A Arte de Viver
para as Novas Gerações", de
Raoul Vaneigem, e "TAZ - Zona
Autônoma Temporária", do
"neo-situacionista" Hakim Bey,
entre outros.
As publicações, impressas sob o
selo Baderna, passaram a girar em
torno de um coletivo on-line acessível pelo endereço www.bader
na.org. Além de alguns dos textos
da coleção -quase sempre liberados dos direitos não-comerciais
de reprodução-, o site abre espaço para a manifestação de novos grupos pró ou pós-situacionistas de crítica radical ao capitalismo, como o coletivo literário
italiano Wu-Ming.
"Os situacionistas tiveram a
premonição de incluir versões
stalinistas do Espetáculo em suas
críticas ao capitalismo de Estado.
Mas, ao permanecerem fundamentalmente marxistas, tiveram
um apelo duradouro nos movimentos mais inspirados no anarquismo de hoje", analisa Jim
Flemming, membro do coletivo
sediado em Nova York Autonomedia, braço editorial dos escritores Hakim Bey e Peter Lamborn
Wilson, entre outros.
Embora se defina como um
anarquista ontológico, Bey aproveita e recicla diversas das táticas
situacionistas em seus comunicados/denúncias contra a mesma
sociedade do espetáculo debordiana, entre elas a da psicogeografia, rebatizada por Bey como psicotopografia, em sua obra "TAZ".
No tocante à crítica situacionista ao trabalho, como a aceitação
do sofrimento sugerida por Vaneigem, o grupo alemão Krisis
também dá certa continuidade
aos textos da década de 60 com o
radical "Manifesto contra o Trabalho", publicação recente da
mesma editora Conrad.
A publicação de "Apologia da
Deriva", pela Casa da Palavra,
vem trazer ainda mais oxigênio a
esse filão editorial.
"Eu acho que essa onda de publicações de textos situacionistas
está relacionada com a volta de
idéias dos anos 1960. Algumas das
inquietações dessa época retornaram, mesmo que de forma muito
mais bem comportada e até mesmo já espetacularizada, nas recentes manifestações antiglobalização, e hoje antiguerra", diz Paola Berenstein Jacques, organizadora do volume.
Segundo a urbanista, essa nova
apropriação dos espaços públicos
segue, de alguma forma, os preceitos "situs". "Transformam as
cidades-cenários em cidades-palcos, e o cidadão comum, antes
mero espectador, em ator protagonista.
(DIEGO ASSIS E CASSIANO ELEK MACHADO)
APOLOGIA DA DERIVA - ESCRITOS SITUACIONISTAS SOBRE A CIDADE.
Organização: Paola Berenstein Jacques.
Tradução: Estela dos Santos Abreu.
Editora: Casa da Palavra (tel. 0/xx/21/
2220-5252). Quanto: R$ 31 (160 págs.)
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