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Zuenir Ventura revê 68 olhando para o presente
Em "1968 - O Que Fizemos de Nós", jornalista elege raves como emblema da juventude atual
Livro, que sai em caixa com nova edição de best-seller do autor sobre "ano que não terminou", tem entrevistas com Caetano, FHC e Zé Dirceu
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1988, Zuenir Ventura publicou "1968 - O Ano que Não
Terminou", que já chegou à
marca de 400 mil exemplares
vendidos. Em 2008, o jornalista
lança uma edição revisada de
seu best-seller com "1968 - O
Que Fizemos de Nós", livro que
não pretende ocupar a nova data redonda apenas com mais
um balanço do que aconteceu
há quatro décadas.
Ao rever o primeiro "1968",
Zuenir concebeu um segundo
em que buscasse, segundo ele,
"continuidades e rupturas" entre a quase mítica "geração de
68" e jovens de hoje.
"Não há hoje "a" geração. Há
tribos, galeras, turmas. Por isso, achei que a estrutura não
devia ter uma ordem rígida. É
mais fragmentada", diz ele, 76,
referindo-se à primeira metade
do livro, em que faz pequenas
reportagens para retratar os
tempos atuais e pô-los em contraste com 68 -na segunda, entrevista nomes importantes da
época falando de ontem e hoje.
"Quis corrigir um pouco essa
má vontade que a gente tem
com a nova geração. Também
era assim em 68, mas os jovens
eram muito agressivos e respondiam: "não confie em ninguém com mais de 30 anos". O
João Batista Ferreira, ex-padre
que era um dos poucos com
mais de 30 em quem os jovens
confiavam e que hoje é psicanalista de jovens, diz que há um 68
dentro de 2008 e nos conclama
a ter um olhar mais generoso.
Precisamos lavar os olhos e
tentar entender o que eles são,
o que eles querem", afirma.
Narcisismo
Zuenir foi a campo, então, e
procurou entender o culto ao
corpo dos dias de hoje, da obsessão pela magreza aos piercings, como mostra o capítulo
"Viva o Corpo Brasileiro".
Mas o investimento maior
está nas 30 páginas de "Sexo,
Drogas e Rave". Ele relata, com
doses de humor e espanto, sua
ida a uma grande festa embalada a música eletrônica e ecstasy, e elege as raves como emblema da juventude atual.
"Você encontra nesse tipo de
festa o que eu chamo de busca
meio agônica do paroxismo; ou
seja, da vertigem, da voragem,
do risco. Ao mesmo tempo em
que é uma coisa coletiva, as pessoas ficam muito ensimesmadas, mais preocupadas com elas
do que com os outros. Há um
narcisismo", diz.
Ele, no entanto, não aponta
no livro nenhum dedo condenatório para esses jovens e vê
seu comportamento como quase natural, já que os projetos
coletivos, especialmente os políticos, não fascinam mais.
Utopia ingênua
Dos desdobramentos positivos de 68, Zuenir Ventura destaca vários no livro, como o
maior respeito às preferências
sexuais e aos direitos da mulher, e o fortalecimento dos
movimentos negro e gay. Na ala
negativa, estão a violência
("acreditava-se numa violência
edificante, pedagógica, o que
dava a você o direito de ser violento, mas não ao outro, e hoje
sabemos que toda violência gera violência") e as drogas.
"Havia uma certa utopia ingênua ao achar que as drogas
poderiam ser um instrumento
de abertura das consciências.
Mas essa realidade se mostrou
perversa. No fundo, há uma
multinacional das drogas que
gera mortes. É uma tragédia
deste século que herdamos do
anterior", diz ele.
Entrevistas
A segunda parte do livro tem
sete entrevistas (veja trechos
nesta página). Começa com
Heloisa Buarque de Hollanda,
crítica literária que sediou o
Réveillon que abria "O Ano que
Não Terminou", e termina com
José Dirceu, líder estudantil
preso em 68, libertado graças
ao seqüestro do embaixador
americano em 69 -do qual participaram Franklin Martins e
Fernando Gabeira, também
entrevistados- e que teve o
mandato de deputado federal
cassado em 2005 sob suspeita
de comandar o mensalão.
César Benjamim, preso por
cinco anos durante a ditadura
militar e hoje um cientista político dissidente do PT, conta
uma história que, embora não
inédita, é pouco conhecida: Lula teria jantado e "derrubado
três litros de uísque" com Alberico Souza Cruz dias depois do
debate com Fernando Collor,
no segundo turno da eleição
presidencial de 1989. Alberico
era satanizado pelos petistas
por ter sido o principal responsável pela edição (favorável a
Collor) do debate exibido nos
telejornais da TV Globo. "Não
vou brigar com a Globo, não é,
Cesinha?", teria dito o hoje presidente da República.
Na entrevista de Caetano Veloso, está, para Zuenir, a frase
que resume melhor a possibilidade de um "novo 68": "Para
ser [uma coisa] parecida com
aquilo, tem de ser muito diferente daquilo".
Agora lançados numa caixa,
os livros deverão ser vendidos
separadamente em breve.
1968 - O QUE FIZEMOS DE NÓS
Autor: Zuenir Ventura
Editora: Planeta
Quanto: R$ 75 (224 págs.; caixa inclui "1968, O Ano que Não Terminou", 286 págs.)
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