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LIVROS/LANÇAMENTOS
"MEMÓRIAS DO MEDITERRÂNEO"
Obra sobre a Antiguidade foi feita como desafio
Livro raro mostra Fernand Braudel face à "tentação"
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 1968, ano em que escreveu
"Memórias do Mediterrâneo
-°Pré-História e Antiguidade",
lançado agora no Brasil, o historiador francês Fernand Braudel
(1902-1985) já era célebre por alguns motivos:
1. Sua obra mais importante, "O
Mediterrâneo e o Mundo Mediterrânico" (49), já era conhecida
como importante tratado sobre o
Ocidente no século 16 e no que ele
se transformaria a partir daí.
2. Sua visão de história, que articulava o diálogo entre longa e curta duração, revolucionara o modo
de pensar dos historiadores.
3. Já herdara de Lucien Febvre e
Marc Bloch o comando da Escola
dos Annales, grupo que seria responsável pela Nova História.
4. Tinha passado pelo Brasil, onde formara um ilustre grupo de
professores da recém-criada USP,
com Lévi-Strauss e Roger Bastide.
Poderia parecer improvável, então, que Braudel, um historiador
que dedicou a obra ao estudo do
século 16, à Europa moderna,
aceitasse escrever um livro sobre a
Pré-História e a Antiguidade.
Mas foi o que ele fez, em 1968, a
convite do editor suíço Albert Skira. O próprio Braudel justifica-se
no texto, dizendo ter aceitado a
empreitada por "curiosidade",
"imprudência" e "tentação".
Braudel entregou o manuscrito
pronto de "Memórias do Mediterrâneo - Pré-História e Antiguidade" cerca de um ano depois.
Mas Skira morreu em 1973, sem
ter publicado o livro. O texto permaneceu guardado por mais de
20 anos até vir à tona em 1998, em
uma edição francesa (ed. Fallois).
O texto lançado agora no Brasil
é uma co-edição entre a editora
Terramar, de Lisboa, e a distribuidora carioca de livros Multinova.
"É um documento para os que
querem entender o pensamento
de Braudel", disse Carlos Araújo,
editor da Terramar, à Folha.
"Ainda que traga informações desatualizadas sobre arqueologia."
Para contornar esse problema, a
edição foi revista por uma equipe
de arqueólogos e especialistas
franceses. As informações erradas
não foram alteradas, mas o texto
vem acompanhado de notas de
rodapé, que fazem as correções.
Em "Memórias do Mediterrâneo", Braudel põe em prática seu
modo de pensar a história -ele a
concebia espraiada por grandes
espaços geográficos e temporais.
Faz uso da geologia e arqueologia da época para reconstituir os
princípios da ocupação do Mediterrâneo -como representante
dos Annales, era um defensor da
idéia de que a história devia se alimentar de outras disciplinas.
Dedica longo espaço para investigar motivos, materiais e sociais,
do sucesso dos fenícios na navegação e no comércio da época.
Braudel também posiciona-se
contra a historiografia que tomava Roma como Estado imperialista cruel, relativizando as razões
pelas quais tornou-se, por tanto
tempo, senhora do Mediterrâneo.
O livro tem impressões que
Braudel colheu ao sobrevoar baixinho, às vezes de hidroavião, o
Mediterrâneo. Sua mente parece
fervilhar com imagens das guerras e civilizações do passado: "Se,
de súbito, todas as batalhas de outrora ocorressem num mesmo
momento, ver-se-ia uma imensa
linha de combate desde a ilha de
Corfu até Ácio, Lepanto (Grécia),
ilha de Malta, Zama (então Numídia), Djerba (Tunísia)...".
MEMÓRIAS DO MEDITERRÂNEO - ("Les
Mémoires de la Méditerranée"). De:
Fernand Braudel. Tradução: Teresa
Antunes Cardoso, José Lopes, Isabel
Aubyn e Amélia Joaquim. Co-edição:
Terramar (Lisboa, Portugal, 00/xx/351/21/315-6874, www.terramar.pt) e
Multinova (RJ, Brasil, 0/xx/21/576-8545,
www.multinova.com.br). Primeira
edição. Quanto: R$ 54,90 (343 págs.)
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