São Paulo, sábado, 26 de maio de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Obra será inaugurada hoje no Museu do Açude, no Rio, onde vai ficar permanentemente instalada

Penetrável reedita conceitos de Oiticica

RODRIGO MOURA
DA REPORTAGEM LOCAL

Hélio Oiticica (1937-1980) por ele mesmo, mais de duas décadas depois de sua morte. É esse o sentido das atividades que este ano celebram um dos mais inventivos artistas visuais que o Brasil gerou. O calendário tem seu primeiro ponto alto amanhã, quando o Museu do Açude, no Rio, inaugura o penetrável permanente "Magic Square nš 5 - De Luxe".
O "quadrado mágico" de Oiticica é construído pela primeira vez, seguindo as especificações deixadas pelo artista em maquete e projeto de 1978 -uma grande estrutura arquitetônica de cor, com oito paredes de 4,5 m de altura e comprimento, ocupando 225 m2 de área em uma clareira na floresta da Tijuca.
"Queremos colocar as obras pela primeira vez de maneira condizente com os conceitos de Hélio", diz César Oiticica Filho, sobrinho do artista e curador do Projeto HO. "Sempre tentamos construir um penetrável desse tipo, o que ele nunca conseguiu. É crucial para o trabalho."
O curador vai conjugar o penetrável do Museu do Açude com a exposição "Além do Espaço", que debutou em novembro de 2000 na Bienal de Havana e será aberta dia 26 de julho no Rio (data do aniversário do artista), ocupando o Centro de Arte Hélio Oiticica e seu entorno.
Para dar ênfase à sua visão de uma arte ambiental, ligada ao espaço extramuseológico -"Museu é o mundo", dizia-, serão mostrados (a palavra é pouco precisa) "parangolés" na sua concepção original, com as capas sendo vestidas pelos espectadores que vivem a experiência da obra.
Próximo ao centro, será montado outro penetrável, este pela primeira vez também na escala original pensada pelo artista. "Invenção da Luz" é composto de iluminação artificial e painéis brancos de 8 m x 8 m, ocupando 64 m2.
A instalação dessas obras quebra o jejum de um ano sem individuais do artista abrigadas pelo Centro de Arte Hélio Oiticica. "Ficamos sem verba e sem condições. O espaço [mantido pela Prefeitura do Rio" deixou de priorizar exposições de Hélio, e a reserva técnica está com problemas", reclama César.
Enquanto isso, os Estados Unidos assistem à mostra "Quasi Cinema", com curadoria de Carlos Basualdo, calcada nos trabalhos em que Oiticica buscava "deslinearizar" o cinema -com abertura em setembro no Wexner Center de Ohio e itinerância em Nova York (New Museum) e Londres (Whitechapel Galery).
O Museu de Arte Moderna do Rio, entrementes, planeja realizar uma grande exposição de Oiticica no ano que vem, ainda sem data certa. O cerne volta a ser as proposições ambientais, com parangolés e penetráveis. A instituição também vai adquirir este ano trabalhos do artista com recursos obtidos junto à Petrobras.
"Magic Square nš 5" só saiu da maquete graças à parceria entre o Museu do Açude e o Projeto HO. A realização da obra, que esperou seis meses de pesquisa para que se obtivesse a cor especificada por Oiticica, integra a linha de instalações permanentes do museu, que já conta com trabalhos de Iole de Freitas e Ana Maria Maiolino. A montagem na clareira reforça o espírito da obra, que suscita jogos de cor a partir da luz do sol.
Na abertura, a cantora Adriana Calcanhotto e o poeta Waly Salomão "incorporam a revolta", para usar uma frase inscrita em um dos parangolés, e realizam performances a partir das capas.


MAGIC SQUARE Nš 5 - DE LUXE - Penetrável permanente de Hélio Oiticica (1937-1980). Onde: Museu do Açude (estrada do Açude, 746, tel. 0/xx/21/492-5219, Rio de Janeiro). Quando: inauguração hoje, a partir das 12h. De qui. a dom., das 11h às 17h. Quanto: R$ 2.


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