ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Filmes como "Matrix" (1 e "Reloaded"), "X-Men" e até "Guerra nas Estrelas" têm chamado atenção para seus figurinos. Influentes, respingam seu imaginário nas ruas e nas passarelas, como "Blade Runner" -que inspirou Tom Ford na Gucci; "O Piano", inspiração do belga Dries van Noten, e "The Mission", alegoria para Alexander McQueen. O que acontece quando se dá o inverso e são os criadores a fazer parte da equipe, desenhando para a tela grande? Um olhar sobre essa produção está na saborosa mostra "Filme Fashion", no Centro Cultural Banco do Brasil a partir de amanhã.
"Aqui o figurino é protagonista", apresenta a curadora Alexandra Farah. "Nosso foco é o encontro das duas indústrias mais glamourosas do planeta: a alta-moda e o cinema." São 34 longas, com criações de nove estilistas internacionais e seis brasileiros, mais a programação paralela, em 50 seções gratuitas.
A organização é cronológica e o ponto de partida é "Esta Noite ou Nunca", de 1931, com o figurino de Coco Chanel para Gloria Swanson. "Desde os anos 20, Hollywood promovia o visual das atrizes como parte do marketing, mas foi só depois de perder dinheiro com os caprichos das passarelas -a moda mudava rápido e o filme já saía ultrapassado- que Chanel foi recrutada", comenta a curadora. "O Ano Passado em Marienbad", de Alain Resnais, vem depois, daquele tempo que Farah define como "o ano do pretinho no cinema": 1961, mesma data de "Bonequinha de Luxo", símbolo-maior dessa mostra, com a maestria de Givenchy, que vale todo o sábado. Muito atual.
O grande mérito de "Filme Fashion", entretanto, está no rigor da pesquisa (o catálogo vale um livro). Confira Zsa Zsa Gabor vestindo Schiaparelli em "Moulin Rouge" (o original); Marlene Dietrich -incrível- vestindo Dior em "Pavor nos Bastidores", de Hitchcock; Catherine Deneuve em YSL em "A Bela da Tarde". Dois mitos.
Delícia ver Robert Redford de Ralph Lauren em "O Grande Gatsby". Gaultier tem momentos históricos com Peter Greenaway, Almodóvar e Luc Besson, na ficção fofa "O Quinto Elemento".
A mostra abre com "Dolls", com belíssimos figurinos do mestre japonês Yohji Yamamoto, em que um casal de mendigos perambula pegando roupas em varais. Poético e conceitual.
Entre os brasileiros, destaque para Dener vestindo Maria Della Costa em "Moral em Concordata", do diretor e depois editor de moda Fernando de Barros; Guilherme Guimarães para Danuza Leão em "Terra em Transe", de Glauber Rocha, e Markito -brilhante- para Neville d'Almeida em "Rio Babilônia", com a participação da modelo Pat Cleveland, ícone fashion homenageada também no desfile de Chanel, em março último.


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