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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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MÚSICA

América cega


Alheia à política, banda Linkin Park foge, com "Meteora", da sombra do sucesso anterior


THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

Como suceder o disco de estréia mais vendido do milênio? Não importam guerras ou o maior atentado terrorista da história sofrido pelos EUA; para o Linkin Park, vale o que o The Jam cantou em "Going Underground": o público quer o que o público recebe.
No distante final de 2000, época pré-Iraque e pré-11 de setembro, o sexteto californiano lançou "Hybrid Theory", CD que se acomodou na seção nu-metal (o rock pesado que utiliza bases e rimas do rap) das lojas do mundo e teve 15 milhões de unidades vendidas -a maioria para adolescentes já fãs de outras bandas do gênero, como Limp Bizkit e Papa Roach.
Em "Meteora", está ali, embalada por vocais e guitarras estridentes, a mesma angústia niilista adolescente de "Hybrid Theory". À Folha, um dos dois vocalistas do Linkin Park, Chester Bennington, 27, explica por que o grupo fechou os olhos para as referências socioeconômicas e políticas que invadiram o restante do mundo pop desde os últimos dois anos.
"A minha vida não mudou [depois dos atentados]. Ou melhor, mudou pouco. Basicamente, nós não somos políticos, somos músicos, então acho que não é nossa responsabilidade. Não tenho conhecimento suficiente para discutir política profundamente", diz Bennington, por telefone, de Los Angeles. "Faço a minha parte nas eleições. Não vejo como fazer muito mais além disso."
O vocalista revela, no entanto, certa preocupação com um clima "paranóico e intolerante" que ronda os EUA. "Estamos num país livre e com liberdade de expressão. Não se deve perseguir alguém ou algum grupo indiscriminadamente."

Apelo erudito
Bennington refuta críticas de que a banda teria optado, com esse "distanciamento político" de "Meteora", por tentar conservar um maior número possível de fãs (o disco, em oito semanas, vendeu dois milhões de cópias só nos Estados Unidos).
"Antes nós éramos comparados com Crazy Town e Limp Bizkit [grupos de nu-metal]. Agora, nos relacionam com Tool e Pink Floyd [de apelo mais progressivo e erudito]. Houve uma mudança drástica na percepção que as pessoas têm sobre a banda."
E ele segue explicando o que, nesse intervalo entre "Hybrid Theory" e "Meteora", importou para o Linkin Park no estúdio.
"Não queríamos nos repetir. As vendas importam, claro, toda banda quer vender discos. Mas nós não tínhamos nenhuma expectativa em conseguir, com esse disco, o sucesso do anterior."
Não houve, segundo Bennington, nenhuma pressão ou "síndrome do segundo disco" que tenham afetado o grupo.
"A mídia e a gravadora são os únicos que se importam com as vendas. Não pensávamos, enquanto gravávamos: "Ah, se não vendermos 15 milhões de discos seremos despedidos. Até porque muitas vezes não está nas suas mãos se um disco fará sucesso. O sucesso de um disco depende de vários fatores".

Nu-metal
Nessa linha, o vocalista distancia sua banda de outras que ajudaram o nu-metal a se tornar o gênero preferido entre os adolescentes do final dos 90/começo dos anos 2000.
"Não considero o Linkin Park uma banda nu-metal. Eles [os outros grupos] quase sempre soam iguais, é aquela coisa punk-pop. Acho que nós fazemos música mais original, que ninguém mais faz. A imprensa pode nos encaixar em vários rótulos."


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