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Biografia de Isabella mira seus públicos
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
de Nova York
Um livro para explicar a seus diversos públicos quem é Isabella
Rossellini. É assim que a atriz e
modelo justifica sua autobiografia,
"Some of Me" -que pode ser traduzida como "Uma Parte de
Mim"-, lançada em Nova York.
"Você não é a filha da atriz Ingrid Bergman?", pergunta um.
"Seu pai, o grande cineasta Roberto Rossellini, foi um gênio", diz
um segundo. "Você não é a atriz
de 'Veludo Azul'?", indaga um terceiro. Ou simplesmente comenta:
"Você é a garota da Lancôme".
O grupo que a identifica como a
filha de Ingrid Bergman é de pessoas de classe média, 60 anos de
idade. O que a chama de filha de
Rossellini, de intelectuais amantes
da cultura européia. O de "Veludo
Azul", de liberais de 35 anos. O da
Lancôme, de mulheres de 25 a 60.
"Tento matar um pouco a curiosidade de cada um dos meus
fãs, que abrangem vários grupos
diferentes", disse Isabella à Folha,
durante sessão de autógrafos que
lotou a Barnes & Nobles em Nova
York, provocando fila na entrada
da livraria, na Quinta Avenida.
Isabella fala um pouco de cada
uma das fases de sua vida e conta
passagens interessantes, que ela
mesma não consegue explicar.
Uma delas foi a decisão de chamar sua filha de Elettra Ingrid.
"Foi uma forma de homenagear
meus pais. Minha avó paterna se
chamava Elettra, e minha mãe, Ingrid", conta Rossellini.
"Até hoje muita gente me pergunta como eu pude chamar minha filha de Elettra, o oposto do
complexo de Édipo. No fundo, eu
mesma não sei. Talvez tenha sido
mesmo, como diria Freud, uma
coisa do meu inconsciente. Eu tinha fascinação pelo meu pai."
Roberto Rossellini é descrito como "uma mãe judia", mas que
amava passar o dia na cama.
"Mais do que qualquer coisa, eu
me lembro de meu pai deitado."
A receita de Ingrid Bergman para
se tornar uma boa atriz merece
menção. A primeira exigência era
ter boa saúde. "Mas para levar
uma vida feliz, além de boa saúde,
ela dizia que era importante ter
memória curta."
Isabella fala muito da morte. Em
uma das paredes de sua casa, mantém retratos de seus antepassados.
Não por mera coincidência, o livro é dedicado aos "fantasmas" de
sua existência. "Tenho conversas
imaginárias com meus mortos
quase que diariamente."
A carreira
Uma das principais partes da
obra é dedicada a seu trabalho como modelo exclusivo da Lancôme
por 14 anos, até que fosse demitida
"por ter ousado passar dos 40".
O contrato incluía uma cláusula
moral: se Isabella se envolvesse
num escândalo, a empresa poderia
demiti-la.
"Mas negociamos, e eles aceitaram que, para eu ser dispensada, o
escândalo deveria ser num grande
centro urbano. Pelo menos fiquei
com algum espaço para respirar."
Seus relacionamentos amorosos
com os cineastas Martin Scorsese e
David Lynch e com o ator Gary
Oldman também são analisados,
bem como sua atuação em filmes
como "Veludo Azul" e "Amada
Imortal".
Mas, após a leitura do livro, nota-se que, dos diferentes públicos e
admiradores que a atriz tem, os
"apaixonados" pelo rosto da Lancôme são os mais fortes.
E tanto é verdade que até sua filha, um dia indagada no jardim-de-infância sobre o que faria
se se perdesse num aeroporto, respondeu: "Procuraria por um pôster da minha mãe e esperaria ao lado dele até alguém me ajudar".
Livro: Some of Me
Autora: Isabella Rossellini
Lançamento: Random House
Quanto: US$ 29,95 (179 págs.)
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