São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2000 |
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TEATRO Integrantes do movimento Arte Contra a Barbárie se reúnem hoje no Oficina, em São Paulo, e lançam novo manifesto Atores e diretores debatem falta de ética na cultura DA REPORTAGEM LOCAL Criado há um ano e meio por companhias e artistas de teatro de São Paulo, além de intelectuais de outras áreas, o movimento Arte Contra a Barbárie lança hoje um manifesto que pede mais ética na cultura. O conteúdo do documento, o terceiro produzido pelo grupo, será revelado no encontro que acontecerá no palco-corredor do teatro Oficina. No centro das discussões, estarão a "mercantilização imposta à cultura", as leis de incentivo que "revertem lucro para a própria iniciativa privada" e "o compromisso ético e social do teatro". Segundo o dramaturgo Aimar Labaki, 39, um dos eixos do movimento é tentar estabelecer um diálogo do teatro com a sociedade. "Está ocorrendo uma privatização das atividades culturais que têm um mínimo de sobrevivência assegurada. É preciso que o espectador tenha consciência de que o teatro é também uma condição fundamental para o exercício da cidadania", afirma. Para o diretor e cenógrafo Gianni Ratto, 84, o próprio artista pode ser um "bárbaro" diante do sistema de produção cultural do país. "O artista tem que ter uma postura corajosa, não pode se desvirtuar, esquecer a ética do ofício e ignorar a realidade histórica." "É preciso furar o poder econômico. Arte não é mercadoria, representa o sentimento do povo", afirma César Vieira, diretor do grupo Teatro União e Olho Vivo, que se diz abismado com a "indústria do patrocínio cultural". O problema, segundo o diretor José Celso Martinez Corrêa, seriam os banqueiros e empresários que estariam capitalizando o teatro e a cultura em geral. "Estão exterminando o teatro, transformando tudo em iniciativa privada, em "teatro de vitrine", sem nenhum vínculo com a evolução cultural", diz Zé Celso, 62. Entre os tópicos do encontro de hoje estão "A Dimensão Ética do Nosso Ofício", exposto por Gianni Ratto, "Existem Outras Vozes", pela pesquisadora Iná Camargo Costa, e "Para Que o Pensamento Volte a Ter Importância", tema de Aimar Labaki. O Arte Contra a Barbárie começou no final de 1998, com reuniões que aconteciam no teatro Aliança Francesa, sede do Tapa, um dos grupos embrionários no movimento, ao lado de Folias D'Arte, Parlapatões, Patifes e Paspalhões, Pia Fraus e Companhia do Latão. Atualmente, as reuniões semanais, todas as segundas-feiras, acontecem no Oficina e são protagonizadas por pelo menos 90 nomes de artistas ou companhias que atuam no teatro paulista. Convidados especiais, como o geógrafo Milton Santos e o filósofo Paulo Arantes, que estiveram em uma reunião no ano passado, também participam dos debates. Tanto Zé Celso como César Vieira atribuem ao movimento a mesma importância que a classe teatral teve no período do regime militar (1964-1985). "E não se está falando de engajamento político ou panfletário", ressalva Aimar Labaki. "O Arte Contra a Barbárie não reivindica verba e nem se sobrepõe às entidades, como sindicatos ou secretaria de Cultura. Queremos é fazer teatro, transformar atitude em atividades." (VALMIR SANTOS) Evento: Arte Contra a Barbárie Quando: hoje, às 20h Onde: teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, Bela Vista, tel. 0/xx/11/3106-2818 Quanto: entrada franca Texto Anterior: Relâmpagos - João Gilberto Noll: O noivo Próximo Texto: Flavio de Souza dirige leitura de "Algo Azul" Índice |
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