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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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LITERATURA

Autor teria querido ajudar uma funcionária da Secretaria do Exterior britânica por quem estava apaixonado

George Orwell delatou 38 intelectuais

WALTER OPPENHEIMER
DO "EL PAÍS", EM LONDRES

O anticomunismo que acompanhou George Orwell (1903-1950) nos últimos anos de sua vida teve confirmada uma passagem obscura: o escritor britânico delatou 38 intelectuais a quem acusava de serem simpatizantes ou potenciais simpatizantes do comunismo.
O professor Timothy Garton Ash, da Universidade de Oxford, assegura que Orwell recorreu à delação devido ao seu amor por Celia Kirwan, funcionária da Secretaria do Exterior britânica. A maior parte das pessoas apontadas por Orwell eram jornalistas.
Ash, que publicou a lista acompanhada por um extenso artigo no diário britânico "The Guardian", assegura que Orwell recorreu à delação devido ao seu amor impossível por Kirwan e por sua preocupação com a coloração socialista da vida política britânica de então.
Kirwan era funcionária de um departamento de informação secreto da Secretaria do Exterior e, com seu gesto ao delatar pessoas, Orwell quis ajudá-la em sua carreira e demonstrar seu amor. Kirwan pediu ajuda ao escritor para combater a onda de propaganda comunista nos momentos mais tensos da Guerra Fria. A lista, que inclui nomes conhecidos mundialmente como o dos atores Charles Chaplin e Michael Redgrave, foi datilografada por Orwell em 1949, quando já estava doente, com tuberculose.
As pessoas apontadas por Orwell eram, em sua opinião, "criptocomunistas, companheiros de viagem ou simpatizantes, e não se deve confiar neles como propagandistas [do Ocidente]".

Herdeira
A lista chegou às mãos de Ash por intermédio da filha de Kirwan, Ariane Banks, que a encontrou depois da morte de sua mãe, no final do ano passado. Ariane a encaminhou a Ash com o pedido de que o historiador a divulgasse.
O professor Ash explica em seu artigo que a lista foi devolvida a Kirwan em 1994 pela Secretaria do Exterior, que nunca a publicou oficialmente. Quase meio século antes, a funcionária havia comunicado à George Orwell que seus superiores tinham considerado muito úteis as informações contidas na lista.
O escritor britânico, que foi um dos muitos intelectuais estrangeiros que lutaram como voluntários em defesa dos republicanos na Guerra Civil Espanhola, e cujo nascimento se comemora agora o centenário, morreu prematuramente. Seus últimos anos de vida reforçaram sua postura anticomunista, tendo em vista a ditadura implementada por Josef Stálin na então União Soviética.
O silêncio dos intelectuais de esquerda ocidentais quanto aos excessos soviéticos sempre irritou Orwell. O autor de "1984", denunciou publicamente esse silêncio em diversas ocasiões.
Já em 1998, o professor Peter Davison havia revelado, pela primeira vez, a existência de uma lista de supostos simpatizantes comunistas delatados por Orwell. Agora, Ash parece ter obtido a prova definitiva.


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