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LITERATURA
Autor teria querido ajudar uma funcionária da Secretaria do Exterior britânica por quem estava apaixonado
George Orwell delatou 38 intelectuais
WALTER OPPENHEIMER
DO "EL PAÍS", EM LONDRES
O anticomunismo que acompanhou George Orwell (1903-1950)
nos últimos anos de sua vida teve
confirmada uma passagem obscura: o escritor britânico delatou
38 intelectuais a quem acusava de
serem simpatizantes ou potenciais simpatizantes do comunismo.
O professor Timothy Garton
Ash, da Universidade de Oxford,
assegura que Orwell recorreu à
delação devido ao seu amor por
Celia Kirwan, funcionária da Secretaria do Exterior britânica. A
maior parte das pessoas apontadas por Orwell eram jornalistas.
Ash, que publicou a lista acompanhada por um extenso artigo
no diário britânico "The Guardian", assegura que Orwell recorreu à delação devido ao seu amor
impossível por Kirwan e por sua
preocupação com a coloração socialista da vida política britânica
de então.
Kirwan era funcionária de um
departamento de informação secreto da Secretaria do Exterior e,
com seu gesto ao delatar pessoas,
Orwell quis ajudá-la em sua carreira e demonstrar seu amor. Kirwan pediu ajuda ao escritor para
combater a onda de propaganda
comunista nos momentos mais
tensos da Guerra Fria. A lista, que
inclui nomes conhecidos mundialmente como o dos atores
Charles Chaplin e Michael Redgrave, foi datilografada por Orwell em 1949, quando já estava
doente, com tuberculose.
As pessoas apontadas por Orwell eram, em sua opinião, "criptocomunistas, companheiros de
viagem ou simpatizantes, e não se
deve confiar neles como propagandistas [do Ocidente]".
Herdeira
A lista chegou às mãos de Ash
por intermédio da filha de Kirwan, Ariane Banks, que a encontrou depois da morte de sua mãe,
no final do ano passado. Ariane a
encaminhou a Ash com o pedido
de que o historiador a divulgasse.
O professor Ash explica em seu
artigo que a lista foi devolvida a
Kirwan em 1994 pela Secretaria
do Exterior, que nunca a publicou
oficialmente. Quase meio século
antes, a funcionária havia comunicado à George Orwell que seus
superiores tinham considerado
muito úteis as informações contidas na lista.
O escritor britânico, que foi um
dos muitos intelectuais estrangeiros que lutaram como voluntários em defesa dos republicanos na Guerra Civil Espanhola, e
cujo nascimento se comemora
agora o centenário,
morreu prematuramente. Seus
últimos anos de vida reforçaram
sua postura anticomunista, tendo em vista a ditadura implementada por Josef Stálin na então União Soviética.
O silêncio dos intelectuais de
esquerda ocidentais quanto aos
excessos soviéticos sempre irritou Orwell. O autor de "1984",
denunciou publicamente esse silêncio em diversas ocasiões.
Já em 1998, o professor Peter
Davison havia revelado, pela
primeira vez, a existência de
uma lista de supostos simpatizantes comunistas delatados por
Orwell. Agora, Ash parece ter
obtido a prova definitiva.
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