São Paulo, domingo, 26 de junho de 2005

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DVDTECA FOLHA

Vida do artista pictórico norte-americano fecha coleção

Biografia de Jackson Pollock vai da fama à decadência

DA REPORTAGEM LOCAL

"Pollock", último filme da coleção DVDteca Folha, que é lançado no próximo domingo, é uma biografia que acaba, como quase sempre neste gênero cinematográfico, pedindo grande empenho dos seus atores. No caso, o diretor e protagonista Ed Harris, cuja atuação (brilhante) foi indicada para o Oscar, e Marcia Gay Harden, que obteve a estatueta de melhor atriz coadjuvante.
Diferenciado também é o viés escolhido por Harris, que por dez anos se preparou para levar às telas a história do genial pintor Jackson Pollock (1912-1956).
A fascinação nasceu pela semelhança física entre ambos, e daí, claro, o reconhecimento do ator de que a arte pictórica de Pollock foi das maiores expressões norte-americanas do século 20. Com equipe e elenco acertados, decidiu também ficar responsável pela direção do longa.
Na vida real, Jackson Pollock foi o grande expoente do "acting painting", vingado a partir do expressionismo abstrato, escola artística na Nova York dos anos 40 e que foi sua formação.
Pollock, então, pintava sob essa influência até, por volta dos anos 50, começar algo mais visceral, que utilizava quaisquer instrumentos além do pincel, como colheres e pedaços de pau. Pinceladas, riscos e tintas escorridas sobre a tela, que ficava no chão, eram ações comuns e vistas até nas capas dos discos do saxofonista Ornette Coleman. Usuais e nascidas intuitivamente de Pollock, quando, do nada, ele deixou gotejar tinta sobre a enorme tela que pintava e viu, ali, uma nova expressão artística.
Essa primeira vez está numa belíssima seqüência de "Pollock", que, ao mesmo tempo que exalta a genialidade de seu biografado, também mostra o quanto há de comum nas passagens de sua vida, até o fatal acidente de carro. E seu alcoolismo e pulsão de morte, que o levaram ladeira abaixo, da fama à decadência.

Complexidade
Sua mulher, a também artista plástica Lee Krasner (Marcia Gay Harden), ao mesmo tempo em que largou seu trabalho por amor a Pollock, acabou sufocando-o. Assim como os descaminhos do artista, que ora estava bem e com sua fúria controlada, ora arrasado pelo álcool e pela depressão.
Essa ambigüidade e complexidade dos personagens agradou ao público e à crítica. Há tanto uma câmera que assiste fascinada ao processo criativo do pintor como o registro das suas fraquezas como homem.
Na verdade, Ed Harris sofreu para fazer a versão que pretendia para o seu filme, baseada no livro de Steven Naifeh e Gregory White Smith. Desentendendo-se com não poucos produtores, a cada novo contrato ele tinha que negociar qual montagem teria seu longa-metragem.
No mais, Ed Harris fugiu da glamourização comum a várias biografias cinematográficas para dar espaço a um certo realismo, optando por um tom mais sóbrio nas cenas e deixando a força toda nas obras de Pollock que são mostradas ao longo do filme.


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