São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2006

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Itamar por inteiro

Mostra com fotos, letras e objetos pessoais marca o lançamento do songbook do compositor, morto em 2003

Vânia Toledo/Divulgação
Itamar Assunção, cujo songbook reúne 98 de suas composições, fotos e depoimentos


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Indignado e dramático, às vezes ele não perdoava nem admiradores. No fim de 2000, logo após enfrentar três cirurgias para tirar um tumor do intestino, não perdeu a chance de alfinetar a platéia de um show em sua homenagem, em São Paulo.
"Espero não ter que encarar outra operação para que vocês voltem aos meus shows", disse ele, provocando sorrisos amarelos entre os fãs. Assim era Itamar Assumpção (1949-2003), dono de uma das obras mais originais da música popular brasileira, mas ainda pouco conhecida do grande público.
Tido como maldito, Itamar teve a obra esnobada pela indústria do disco quase toda a carreira, mas a pecha de artista pouco acessível parece ter os dias contados. De 4 a 16 de julho, no Itaú Cultural, em São Paulo, uma mostra com letras, fotos, desenhos e objetos do artista marca o lançamento do songbook com boa parte de sua produção.
"PretoBrás - Por que que Eu Não Pensei Nisso Antes?" traz em dois volumes as partituras de 98 composições de Itamar. Patrocinado pela Petrobras e distribuído pela Ediouro, o songbook tem fotos, desenhos e manuscritos do autor, além de depoimentos de parceiros e admiradores no meio artístico.
"O Itamar era um titã, culturalmente. Ele discutia de igual para igual com Caetano, Gil, todo mundo. Não sei como, porque ele era um autodidata", comenta Luiz Chagas, jornalista e guitarrista, que organizou o songbook com a jornalista Mônica Tarantino, tendo a colaboração de Serena e Anelis Assumpção, filhas do compositor.
Além das partituras de canções que Itamar gravou nos primeiros quatro álbuns, o volume inicial tem vários textos: a introdução de Luiz Chagas e ensaios do compositor Luiz Tatit, da poeta Alice Ruiz, da professora Maria Betânia Amoroso e da baixista Clara Bastos, que fez as transcrições das canções.
Chagas, que participou de gravações e shows de Itamar por mais de 20 anos, aponta uma característica em sua música: a mutabilidade. "Ninguém nunca assistiu ao mesmo show (de Itamar) duas vezes. Nem na mesma temporada", observa o guitarrista, referindo-se à obsessão do parceiro por ensaios, para modificar constantemente os arranjos de suas músicas.
Uma atitude assim poderia levar a pensar que Itamar fosse avesso à idéia de cristalizar as melodias e harmonias de suas canções em partituras definitivas. Mas, segundo Anelis Assumpção, seu pai (caracterizado como "gênio com vocação para o sacrifício", por Tom Zé, no songbook) já pensava de modo menos radical.
"Ele disse, antes de morrer, que queria que eu fizesse um songbook e que a Clara deveria cuidar das transcrições. Estava mais maduro no sentido de caminhar para dentro do mercado", relembra a cantora, que acompanhou o pai em shows e hoje está na banda DonaZica.
O segundo volume cobre as canções da trilogia "Bicho de 7 Cabeças" (1993), que Itamar gravou com a banda Orquídeas do Brasil, e do álbum "PretoBrás" (1998). Além das partituras, traz discografia, cronologia com os fatos mais importantes na carreira do compositor e depoimentos sobre ele e sua obra.
O depoimento mais inusitado é do crítico José Ramos Tinhorão. Conhecido por seus ataques à influência da música estrangeira no país, ele surpreende ao elogiar Itamar: "Completamente diferente dos ídolos disciplinados, ele conseguia dar uma aura a seu trabalho". Mais uma façanha do carismático "Nego Dito".

PRETOBRÁS - POR QUE QUE EU NÃO PENSEI NISSO ANTES?
Organização:
Luiz Chagas e Mônica Tarantino
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 45 (cada volume com 256 págs.)


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