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FERNANDO BONASSI
Aviso de saúde
A dissimulação é uma alcunha, uma doença ou uma vergonha que pode e deve ser evitada
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O CIDADÃO ANDA abatido, com
o estômago enjoado, o espírito enojado e o coração ressentido?
Parece ter perdido os sentidos da
representação, o rigor republicano
da decência e a energia, ou inocência, necessária para as tarefas mais
civilizadas do dia-a-dia?
Mal... Você pode muito bem estar
sendo acometido pelas seqüelas danosas da presença venenosa de certo vírus... Um agente errante e lesivo
em suspensão nos ares condicionados da administração... Trata-se de
um vírus suspeito em expansão... O
vírus da dissimulação.
Preste muita atenção à manifestação desse vírus:
A dissimulação sustenta que qualquer coisa sem sustentação repetida
à exaustão pode se tornar realidade,
dependendo da vontade de perdoar
dos amigos mortos que se esqueceram de deitar ou da cegueira insidiosa dos inimigos que não querem se
sujar ao se enterrar.
A dissimulação é mentirosa, mas
por ter imunidade como se fosse
uma verdadeira autoridade e ser
muito criativa em sua irresponsabilidade, é poderosa; podendo assumir
formar executivas, legislativas e judiciárias escandalosas em certas
instâncias fiduciárias de históricos
conluios corporativos.
Que partidos e candidatos eletivos
se organizam em torno de interesses
comuns, isso nós já sabíamos. O que
não sabíamos é o que seria feito dos
interesses coletivos, pois nem mesmo os maiores vigaristas e famosos
fascistas dos partidos mais burgueses recebem os corretivos moralistas de seus nobres pares entronados
e imunizados contra a lei.
Aliás, estão de acordo com a lei, já
que as leis, em acordo, se fizeram
eles mesmos, aliás...
Aliás, política deveria ser perene,
polifônica e distributiva, mas não
passa de patética, pessoal e mesquinha transação furtiva em troca de
auxílio moradia, tíquete refeição,
barbeiro concursado, engraxate especializado, seguranças armados,
contratos acertados, carro blindado,
isenção postal, fiscal e senhorial, poses de pavão e verbas que pagam a
execução de orgias para os casados
com os patrocinadores do supermercado da construção.
Que essa construção toda seja civil
é só no terno moderno que a dissimulação quer ostentar, já que parece mesmo é um golpe militar em sua
capacidade destrutiva da democracia representativa e popular.
Atenção senhores empreiteiros:
fiquem avisados que vossas excelências são os mais visados pelos achaques desses vírus. E será preciso ter saúde mental e moral para conservar-se intacto e sem prejuízo diante
do ataque abusivo do vírus da dissimulação!
Até porque, juízo mesmo o dissimulado não tem, pois pra ele está
sempre "tudo bem", vivendo na condição daquele que se passa por marido traído ou amante ofendido dependendo em boa parte, da arte, dos
conselhos e da ética de seu eleitorado.
O dissimulado não é, obviamente,
o único culpado de sua desagregação, tendo sido seduzido pela preguiça dos que lhes passaram a missão. Mas o dissimulado é co-responsável por aquilo que cativa, já que
sua sacanagem serve de exemplo televisionado ao vivo para a malandragem estarrecida e envergonhada nos
refeitórios dos presídios.
O dissimulado é assim, uma espécie de Pequeno Príncipe de Maquiavel, espalhando o fel de seus exemplos nas doces esperanças das crianças condenadas que vão votar nos
futuros filhos bastardos dos bandidos.
Porque o dissimulado, esperto ou
tapado, e por prezar "ser folgado",
sequer acredita que sejam seus os filhos de seus próprios pecados. Seriam de todos os outros, como se fosse o apoio declarado dos eleitores
corneados o que faz crescer os falos
tarados dos eleitos.
Em tempo: o vírus da dissimulação vai fazer questão de se acompanhar de toda a enrolação do rito processual, defesas fantásticas baseadas
em teorias de conspiração e pela
embromação conveniente do foro
privilegiado, pra que fique bem claro
quem é que manda nessa lerda inquirição de testemunhas.
A dissimulação é uma alcunha,
uma doença ou uma vergonha que
pode e deve ser evitada, sob pena de
contaminação dos mais ingênuos
dentre os nossos irmãos...
Nem é preciso ser juiz ladrão ou
ministra de Estado pra saber que
muitos coitados pagarão a pensão,
mas poucos relaxarão e gozarão com
essas crises e crias malcriadas em
profusão.
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