São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Crítica

História de amor e citações valem o filme

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de propagandear seu amor pelos carros (no desenho homônimo), eis que a Pixar faz uma espécie de mea-culpa e apresenta o seu "Uma Verdade Inconveniente", disfarçado de ficção científica de robôs.
É "Wall-E", que conta a história do robô-gari do título, o último habitante do grande lixão que virou a Terra num futuro distante, enquanto a humanidade vive no espaço, preguiçosa ao ponto da imobilidade, consumindo irracionalmente, subordinada às máquinas que pensa controlar.
É o tipo de coisa que poderia ser enfadonha (e, em alguns trechos, é mesmo), mas "Wall-E" é também uma rara história de amor em animação e uma homenagem aos filmes mudos -e é aí que se sai bem.
O robozinho antiquado, triste e desengonçado, com cara e jeito do ET de Spielberg, tem como única companhia uma barata (o estúdio, aparentemente, pegou gosto pelos bichos de esgoto) e seu VHS de "Hello, Dolly!" até a chegada de Eva, a máquina moderna que dispara a paixão em Wall-E e a ação no desenho.
Como sempre nas animações do estúdio, é possível escrever uma enciclopédia só com as referências e citações que pipocam na tela -de "Star Wars" a "2001", dos Jetsons a "Alien" (a voz do computador da nave espacial é de Sigourney Weaver), da Atari à Apple (a robô Eva é, claramente, um Mac).
Que a Pixar consiga emocionar a platéia usando a restrita expressividade dos robôs é mais uma prova de talento seu e da equipe de som do filme.
Quanto às contradições -como o discurso anticonsumista, que não podia ser mais hipócrita, vindo de uma subsidiária da Disney-, elas são problema da empresa, não da obra.


WALL-E
Produção:
EUA, 2008
Direção: Andrew Stanton
Quando: estréia amanhã nos cines Eldorado, Pátio Higienópolis e circuito; classificação: livre
Avaliação: bom


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