São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2008

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Brasil vai repetir "Bienal do vazio" em Veneza

Em vez de projetos, representação nacional levará depoimentos de personalidades e anônimos à principal mostra de arquitetura

DA REPORTAGEM LOCAL

Se haverá a "Bienal do vazio", em outubro próximo no Ibirapuera, por que não a "Bienal do não-arquiteto", em Veneza? A representação brasileira na próxima Bienal de Arquitetura de Veneza investirá nesse conceito algo radical, que dialoga com o tema geral da 11ª edição do evento, de 14 de setembro a 23 de novembro. O curador norte-americano Aaron Betsky elegeu para o evento na cidade italiana o tema "arquitetura além da construção".
Quem assina a proposta curatorial brasileira é o paulistano Roberto Loeb, 67, premiado da área e responsável por projetos como o Centro da Cultura Judaica, em São Paulo, e a sede da Natura, em Cajamar (SP).
"Foi engraçado ter próximo esse conceito da Bienal do Ivo [Mesquita, curador da 28ª Bienal de São Paulo, conhecida como "Bienal do vazio']. Acho que temos pontos em comum em nossos projetos", diz Loeb. Se a Bienal que acontece no parque Ibirapuera deixará completamente desocupado um dos andares do pavilhão onde é sediada, o pavilhão brasileiro em Veneza (projetado em 1963 por Henrique Mindlin e Giancarlo Palanti), com cerca de 200 m2, será preenchido com painéis, caixas de som, mesas, cadeiras e cadernos (alguns deles em branco). Nada dos tradicionais croquis e maquetes.
"Será uma espécie de abrigo", avalia o arquiteto, que intitulou o espaço com outra provocação, "Não-Arquiteto". "Em um evento só de arquitetura, não deixará de criar um ruído."

Relação com o espaço
O ponto de partida da mostra brasileira será a coleta de cem depoimentos das mais diversas personalidades, de intelectuais às pessoas mais comuns. "Vamos ouvir padeiros, prostitutas, zeladores, secretárias", diz Loeb. Para todos, será proposto um pequeno questionário sobre a relação deles com o espaço. "Eles contarão qual o espaço mais marcante que têm, qual espaço sonham e sua relação com a cidade."
A partir das respostas e com desenhos e fotografias cedidos pelos participantes, serão criados painéis bilíngües (em português e inglês) que sintetizem a relação dos entrevistados com a arquitetura. Nem todos ganharão painéis, mas haverá cadernos com a síntese dos depoimentos, que poderão ser lidos pelos visitantes. Algumas das entrevistas também serão veiculadas por caixas de som, acompanhadas de sonoridades urbanas colhidas em São Paulo.
"Alguns dos cadernos estarão em branco, o público poderá descrever suas experiências com a arquitetura, com o espaço. É quase uma proposta artística", resume Loeb, cuja proposta diz ter sido aprovada por outros arquitetos. "Os grandes arquitetos são as pessoas. O importante nesse projeto é ouvir o outro", afirma Loeb, que qualifica a participação brasileira como "um interessante exercício de reflexão". (MARIO GIOIA)


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