|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DISCO/LANÇAMENTO
Banda pop mineira lança segundo CD pela Sony reclamando que "tá faltando emprego no planeta'
Jota Quest reinventa "Planeta dos Macacos'
da Reportagem Local
Banda pop de nome inspirado
em personagem de desenho animado, o J.Quest -rebatizado Jota
Quest, porque a referência ao herói Johnny Quest estava incomodando a Hanna-Barbera- mira
agora o filme e seriado setentista
"Planeta dos Macacos".
Seu novo álbum -o segundo, se
descontado o CD independente de
estréia, 80% reproduzido em
"J.Quest" (96)-, "De Volta ao
Planeta..." abusa da estética dos
homens-macacos na programação
visual e na faixa-título, sobre
"macacada reunida" num planeta em que "tá faltando emprego".
"Não temos a pretensão de fazer
música politizada, mas quisemos
falar desse assunto. Ninguém está
falando que o planeta está crescendo e que não tem mais nem onde morar", explica o vocalista Rogério Flausino, 26.
"Tenho 26 primos. Os 26 estão
desempregados", exemplifica o
baterista Paulinho Fonseca, 31.
"Somos todos de classe média
baixa, e nossos pais nunca estiveram em situação financeira tão
ruim quanto agora. Nós é que estamos sustentando nossas famílias", ajuda Flausino.
"Queríamos relacionar a "macacada' com a desorganização do
país, criticar as "macaquices' dos
dirigentes", continua o baixista
PJ, 28. "A gente quer mexer com
Brasília", acrescenta Flausino.
"Todo mundo está olhando para Marte, para a Lua, nós quisemos olhar para o nosso umbigo",
completa o guitarrista Marco Túlio, 27. "Não somos extraterrestres, somos "intraterrestres'",
emenda PJ.
Criada em Belo Horizonte (MG),
a banda chamou atenção de mídia
e público ("J.Quest" vendeu 100
mil cópias) por fazer, embora formada por cinco rapazes brancos,
"black music brasileira".
O primeiro sucesso foi uma releitura de "As Dores do Mundo"
(75), de Hyldon, uma das pontas
da trindade black brasileira, completada por Tim Maia e Cassiano.
Eles admitem que, do CD anterior para esse, houve uma suavização das características "black".
"Tínhamos uma referência mais
radical do que era a banda, o caminho black era bem mais radical.
Hoje somos uma banda pop com
referência forte de black music",
define Marco Túlio.
"Resolvemos dar uma passeada
por outras áreas, até mesmo do
próprio black. O Roberto Carlos
dos anos 70, que era bem black, é
uma referência importante. Tinha
uns solos de guitarra inacreditáveis", afirma Flausino.
A cover, desta vez, mostra também tendência ao branqueamento. Sai Hyldon, entra "Tão Bem",
de Lulu Santos. "Fizemos brincando, com um arranjo mais moderno. Não é um clássico daqueles
que deixam a gente com medo, foi
bom fazer", diz Flausino.
Mas a tecla em que a banda mais
gosta de bater é a da experiência de
palco. Antes do contrato com a
Sony Music, já havia feito mais de
80 shows. Na turnê do disco
"J.Quest", fez mais 130.
"Hoje em dia qualquer banda
faz o que quiser no estúdio, mas
muitas não mostram nada no palco. Isso é o que eu acho mais falso
em música hoje", reclama PJ.
"Artista que tem show forte tem
longevidade, ganha respeito",
concorda Marco Túlio.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|