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LÍNGUA
Obra contém 36 aulas com vocabulário, pronúncia, regras de acentuação e exercícios
Professor dá lições de tupi em livro
BRUNO GARCEZ
da Reportagem Local
Os cariocas que apreciam se banhar nas águas da praia de Ipanema mal imaginam que estão mergulhando em um lago fedorento,
um rio imprestável.
Não se trata de uma ofensa a um
dos principais cartões postais do
Rio de Janeiro. A palavra Ipanema
pode ter dois significados no idioma tupi: upaba (lago) + nem (fedorento) ou "y (rio) + panem
(imprestável).
Essa é uma das palavras cuja origem é explicada no livro "Método
Moderno de Tupi Antigo", do
professor Eduardo de Almeida
Navarro, que será lançado hoje.
Navarro é, há cinco anos, professor de tupi antigo do curso de
letras da USP (Universidade de
São Paulo), a única cadeira na área
existente no Brasil.
Assim que começou a dar aulas,
ele percebeu que o material didático disponível no Brasil sobre o
idioma tupi era muito escasso.
Foi então que o professor passou
a criar apostilas para auxiliar seus
alunos no aprendizado do idioma.
As apostilas acabaram servindo
de base para o livro "Método Moderno de Tupi Antigo".
A obra apresenta 36 lições de tupi, contendo vocabulário, pronúncia, regras de fonologia e
acentuação e exercícios práticos.
Para ilustrar as lições são usados
diversos textos históricos, como a
carta de Pero Vaz de Caminha,
poemas escritos em tupi pelo padre jesuíta José de Anchieta e uma
carta escrita em tupi por um dos
participantes da Insurreição Pernambucana, movimento que
aconteceu em 1645 em Pernambuco e que visava expulsar os holandeses do Brasil.
A carta foi encontrada pelo professor Eduardo Navarro na Biblioteca Real de Haya, na Holanda.
Língua-geral
Segundo Eduardo Navarro, o tupi era o idioma mais falado no
Brasil até a metade do século 18.
Na época, o tupi era chamado de
língua-geral.
De acordo com Navarro, o tupi,
naquele momento, não era mais
um idioma restrito aos indígenas,
tendo sofrido adaptações, uma
vez que falado pela maior parte da
população do Brasil.
"O português só foi se impor
nacionalmente a partir de 1758,
quando o marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil e proibiu o ensino de tupi nas escolas",
diz Navarro.
O tupi era uma língua transmitida oralmente. Coube aos jesuítas a
criação do registro escrito do idioma. No entender de Pombal, o uso
do tupi vinha se configurando um
instrumento de poder na mão dos
jesuítas.
"A partir daí, o tupi entrou em
declínio e o Brasil perdeu a oportunidade de ser uma nação bilíngue, como seus vizinhos Bolívia e
Paraguai", diz Navarro.
A Bolívia é, na verdade, trilíngue, uma vez que, além do espanhol, tem dois outros idiomas oficias: o quêchua e o aimará, ambos
idiomas de origem indígena.
No Paraguai, o espanhol convive
com o guarani, idioma parecido
com o tupi. A semelhança, inclusive, já resultou em muitas confusões, conta o professor.
"Não é correto dizer tupi-guarani. uma vez que são idiomas distintos, mas com uma origem indígena comum. Estudos indicam
que as diferenças entre os dois
idiomas se acentuaram a partir
dos séculos 12 e 13", afirma.
A toca dos fujões
Muitos termos correntes usados
em nossa língua, além de nomes
de locais, provêm do tupi.
O estádio Mário Filho, maior estádio de futebol do mundo, é mais
conhecido por uma palavra de
origem tupi, Maracanã. No original, "marakanã", nome de um
pássaro.
No tupi, o "k" soa como o
"q", e o "c" das palavras "querer", "casa" e "colo".
A expressão "nhenhenhém",
usada para designar "resmungo"
ou "falatório interminável", é
uma corruptela do termo tupi
"nhe'enga", que significa língua
ou idioma.
Outro exemplo: os moradores
do bairro Jabaquara, em São Paulo, são habitantes de uma toca de
fujões. Explica-se: o nome do bairro se origina a partir dos termos
"îababa" (fujão) e "kuâra (toca).
O local foi, no período colonial,
um quilombo, onde se refugiavam
escravos.
Livro: Método Moderno de Tupi Antigo
Autor: Eduardo de Almeida Navarro
Editora: Vozes
Quanto: R$ 60 (622 págs.)
Onde: Centro Cultural Fiesp (av. Paulista,
1313, tel. 011/253-5877)
Patrocinador: Fiesp
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