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A FORÇA ENTRE NÓS
"Star Wars" é notável mito heróico contemporâneo
ALVARO ANCONA DE FARIA
especial para a Folha
Os mitos de heróis nascem junto
com as civilizações e estão presentes em todas elas. As histórias dos
heróis falam de sagas e situações limite, do embate entre o bem e o
mal e da instauração de uma nova
ordem e uma nova era.
Tanto para a psique de um indivíduo quanto para uma cultura. E
sem dúvida "Star Wars", com todos os seus episódios, constitui-se
como um dos mitos heróicos da
nossa cultura.
No plano individual, o herói vai
estar presente durante toda a vida,
em todos os momentos em que se
faz necessária alguma mudança
profunda, que muitas vezes nos
parece impossível de ser realizada.
Quando a transformação é imperiosa e indispensável para a promoção de um desenvolvimento, se
permanecermos ali para a batalha,
de algum lugar vem a Força, a
energia transformadora. Entre todas essas fases, sem dúvida a adolescência é o maior de todos os momentos heróicos.
Todo adolescente é um Luke
Skywalker que tem de sair de seu
planeta (a família) e partir para a
conquista do mundo. Tem de
abandonar velhos modelos e construir os seus próprios, numa verdadeira cruzada heróica em direção ao desenvolvimento da sua
personalidade.
Nesse sentido, também terá que
lutar contra a tentação de permanecer na origem e aí podemos entender o fato de Luke Skywalker
ter de enfrentar seu próprio pai na
figura do mal de Darth Vader.
Darth Vader não é como os vilões de várias histórias, fraco, sem
charme. Pelo contrário, a força do
personagem chama a atenção e
contagia o público inclusive pelo
seu aspecto físico. Como representante do Lado Negro da Força, ele
quase rouba o espetáculo com a
sua presença.
Já na esfera do coletivo, em "Star
Wars" o mito heróico aparece com
toda a Força. As batalhas entre o
bem e o mal e a consolidação de
uma nova ordem ética vão estar
sempre presentes. E com o "Episódio 1 - A Ameaça Fantasma" fica
ainda mais claro que a Força tem
na verdade dois lados. Cabe a cada
jedi escolher de que lado está.
Como todo mito, o filme estimula o espectador a atualizar questões
psicológicas suas por meio de várias possibilidades: relacionando-se com os diferentes personagens,
projetando-se neles, vivendo os
conflitos referentes ao tema.
A agitação que o lançamento
deste último filme da série vem
provocando, entre adultos da "geração Star Wars" inclusive, com o
aparecimento de espectadores vestidos como os personagens, principalmente Darth Vader, fazendo
performances durante as apresentações etc., só vem confirmar a genialidade de George Lucas como
contador de histórias: sem dúvida,
"Star Wars" é um dos mais importantes mitos heróicos contemporâneos.
Toda cultura tem seus mitos e
suas lendas. Esse conjunto de histórias e imagens constitui o referencial simbólico da humanidade,
que vai sendo transformado e enriquecido permanentemente.
Como já demonstraram vários
autores, entre os quais Carl Gustav
Jung, que a partir dessas observações vai formular seu conceito de
arquétipo, como padrões estruturais e universais da psique humana
que levam à produção de determinados conjuntos de imagens que
mantêm um núcleo comum, independentemente do momento cultural, época ou local. Juntos, os arquétipos compõem o que Jung
chama de inconsciente coletivo,
próprio de toda a humanidade.
Embora os contextos sejam diferentes e os personagens mudem,
os temas e núcleos principais dos
mitos e suas características permanecem.
Alvaro Ancona de Faria é psiquiatra e analista
junguiano
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