São Paulo, quarta-feira, 26 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO
Montagem brasileira também está selecionada para festival internacional de verão na capital francesa
Augusto Boal leva sua "Carmen" aos jardins de Paris

RONALDO SOARES
DE PARIS

O teatrólogo Augusto Boal vai encenar em Paris, de hoje até sábado, a versão "sambópera" que ele criou para "Carmen".
Segundo Boal, o termo que ele escolheu para definir sua criação designa "um novo gênero: uma ópera e um musical brasileiro". "Misturamos os ritmos, as melodias, as cores, as culturas", diz o teatrólogo, no texto de apresentação do espetáculo.
Fruto de uma parceria com o poeta Celso Branco e com o maestro Marcos Leite -que assina a direção musical-, a versão tupiniquim de "Carmen" tem, de acordo com Boal, a intenção de restituir o caráter "pluricultural" da obra original.
"O pluriculturalismo dessa montagem já estava presente na história original, que foi escrita por um francês morador da Espanha (...). Na muçulmana Andaluzia, o francês nos conta a história de uma cigana. Os ciganos são nômades. Em cada região que atravessam, eles se expõem à cultura local", afirma o teatrólogo.
Para ele, "todas essas culturas foram filtradas pelos libretistas da ópera cômica do século 19". "A idéia de uma cultura "pura" é pura abstração, sem existência concreta. Todas as tentativas de preservar a pureza da cultura são vãs, como a pureza étnica."
Boal evoca também seu período no exílio -nos anos 70, durante o regime militar no Brasil, ele morou na França, onde criou o Teatro do Oprimido- para justificar a concepção de "ópera universal" que criou para "Carmen".
"Eu sou um exilado, sei do que estou falando. Essa cigana se apaixona por um homem do país basco, onde se fala a mais estrangeira de todas as línguas espanholas."
Para ele, "Carmen" é a mais brasileira de todas as óperas. "Em Paris, Mérimée e Bizet imaginaram uma Carmen baiana, carioca mesmo. Quando escuto essa música, sinto o cheiro da feijoada e do vatapá. Heresia? Por que não? Carmen era uma herege."
O teatrólogo garante, no entanto, que não quis "folclorizar" Bizet. "Sempre respeitando suas belas melodias, nós permitimos aos ritmos culturais brasileiros se apropriarem delas", explica.
"Em nosso espetáculo, que é um amálgama cultural e não uma combinação, mantivemos alguns elementos de todas as culturas que intervêm na história, inclusive a nossa", afirma.
A versão brasileira de "Carmen", que será encenada nos jardins do Palais Royal, também foi selecionada para um festival internacional de verão em Paris intitulado "Quartier d'Été".
O evento reúne números de dança, teatro, circo e música. Neste ano, além das companhias francesas, o festival também selecionou participantes de países como Brasil, Argentina, Itália, Taiwan, Egito, Japão, Haiti e Madagascar.

Texto Anterior: Documentário: Paulo Thiago filma Drummond
Próximo Texto: Cinema: Debate analisa o filme "Homo Sapiens 1900"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.