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TEATRO
Montagem brasileira também está selecionada para festival internacional de verão na capital francesa
Augusto Boal leva sua "Carmen" aos jardins de Paris
RONALDO SOARES
DE PARIS
O teatrólogo Augusto Boal vai
encenar em Paris, de hoje até sábado, a versão "sambópera" que
ele criou para "Carmen".
Segundo Boal, o termo que ele
escolheu para definir sua criação
designa "um novo gênero: uma
ópera e um musical brasileiro".
"Misturamos os ritmos, as melodias, as cores, as culturas", diz o
teatrólogo, no texto de apresentação do espetáculo.
Fruto de uma parceria com o
poeta Celso Branco e com o maestro Marcos Leite -que assina a
direção musical-, a versão tupiniquim de "Carmen" tem, de
acordo com Boal, a intenção de
restituir o caráter "pluricultural"
da obra original.
"O pluriculturalismo dessa
montagem já estava presente na
história original, que foi escrita
por um francês morador da Espanha (...). Na muçulmana Andaluzia, o francês nos conta a história
de uma cigana. Os ciganos são nômades. Em cada região que atravessam, eles se expõem à cultura
local", afirma o teatrólogo.
Para ele, "todas essas culturas
foram filtradas pelos libretistas da
ópera cômica do século 19". "A
idéia de uma cultura "pura" é pura
abstração, sem existência concreta. Todas as tentativas de preservar a pureza da cultura são vãs,
como a pureza étnica."
Boal evoca também seu período
no exílio -nos anos 70, durante o
regime militar no Brasil, ele morou na França, onde criou o Teatro do Oprimido- para justificar
a concepção de "ópera universal"
que criou para "Carmen".
"Eu sou um exilado, sei do que
estou falando. Essa cigana se apaixona por um homem do país basco, onde se fala a mais estrangeira
de todas as línguas espanholas."
Para ele, "Carmen" é a mais brasileira de todas as óperas. "Em Paris, Mérimée e Bizet imaginaram
uma Carmen baiana, carioca
mesmo. Quando escuto essa música, sinto o cheiro da feijoada e
do vatapá. Heresia? Por que não?
Carmen era uma herege."
O teatrólogo garante, no entanto, que não quis "folclorizar" Bizet. "Sempre respeitando suas belas melodias, nós permitimos aos
ritmos culturais brasileiros se
apropriarem delas", explica.
"Em nosso espetáculo, que é um
amálgama cultural e não uma
combinação, mantivemos alguns
elementos de todas as culturas
que intervêm na história, inclusive a nossa", afirma.
A versão brasileira de "Carmen", que será encenada nos jardins do Palais Royal, também foi
selecionada para um festival internacional de verão em Paris intitulado "Quartier d'Été".
O evento reúne números de
dança, teatro, circo e música. Neste ano, além das companhias
francesas, o festival também selecionou participantes de países como Brasil, Argentina, Itália, Taiwan, Egito, Japão, Haiti e Madagascar.
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