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TEATRO
Performances e intervenções são prejudicadas pelo som da música eletrônica que vaza durante as apresentações
Barulho desmonta ritual do lugarNenhum
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Meia-noite e meia, madrugada
de ontem. Os dançarinos Eber
Inacio e Denise Stutz, do Rio de Janeiro, apresentam "De Cor e pra
Depois" num dos galpões de uma
antiga fábrica desativada. Não
bastasse o burburinho do público
lá fora e, súbito, o som de música
eletrônica ofusca o pouco do silêncio que restava, prejudicando o ritual da performance.
Eis uma das contradições do
chamado lugarNenhum, o espaço
multidisciplinar, terreno paralelo
das intervenções, performances e
espetáculos de dança e teatro no 3º
Festival Internacional de Teatro de
São José do Rio Preto, que termina
amanhã.
O barulho, por vezes ensurdecedor, não joga a favor dos artistas. A
música eletrônica atrai sobretudo
o público jovem das baladas, mais
interessado em saber quem é o DJ
da noite.
De quinta a domingo, o número
de pessoas (capacidade para
2.000) impede que se assista às
performances em espaços fechados, superlotados. No ano passado, o então lugarUmbigo funcionava em um antigo clube da cidade, que acolhia as apresentações
sem tantos problemas.
Na quarta-feira, o musical "Single Singers Bar", do Folias d'Arte
(SP), também era inaudível, mesmo com o vozeirão dos atores devotados ao gênero.
Já para a performance "Sur-Real", da Cia. Palhaços Noturnos
(Rio Preto), quanto mais barulho,
melhor. Na noite de quinta, seres
animados interagiam com as pessoas no galpão principal, realizando números no chão ou no espaço
aéreo, sem uso da palavra.
Pode-se imaginar os ruídos que
aguardam a performance "Imagem", concepção e interpretação
de Marcela Levi e Cláudia Garcia
(RJ). São gestos e movimentos de
"um corpo que se manipula, inventa imagens para si mesmo;
olha-se, toca-se, violenta-se", conforme a sinopse.
Já o compositor Lívio Tragtenberg poderá ter melhor sorte com
a apresentação do resultado de
oficina que realizou durante o festival, batizada curiosamente de
Mal Canto, envolvendo atores e
músicos da cidade.
Outro destaque são os projetos
paulistanos "Carro Verde", que
intervém em espaços públicos (difundindo um som por meio de alto-falante, por exemplo, concepção de Fabiana Serroni), e "A Revolução Não Será Televisionada",
captação e projeção de eventos
"ambulantes" pelas ruas da cidade
(por exemplo, distribuindo balas
usadas de revólveres em faróis),
pela Companhia As Cachorras,
Paula Preta à frente, e por artistas
como Daniel Lima, Daniela Labra,
Fernando Coster e André Montenegro.
Índia
A última estréia internacional do
festival acontece hoje, com "Make-Up", espetáculo da Índia.
Dirigido por Anuradha Kapur, a
performance interpõe imagens
em vídeo e fotografias para ilustrar um diálogo sobre as "traições"
na construção dos papéis femininos no teatro e no cinema. Em cena, Harish Khanna e N.G. Ropshan encarnam estrelas do cinema
indiano, como Bal Gandharva e
Jaishankar Sundari. A intenção é
confundir as estruturas de poder
com a dissimulação da maquiagem do artista.
O jornalista Valmir Santos e a fotógrafa Lenise Pinheiro viajaram a convite da
organização do festival
3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO. Quanto: De R$ 2,50
a R$ 10 ou entrada franca. Até amanhã.
Mais informações pelo tel. 0/xx/17/3215-1830 ou no site
www.festivalriopreto.com.br. Co-patrocinador: Petrobras.
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