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São Paulo, sábado, 26 de julho de 2003

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TEATRO

Performances e intervenções são prejudicadas pelo som da música eletrônica que vaza durante as apresentações

Barulho desmonta ritual do lugarNenhum

VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Meia-noite e meia, madrugada de ontem. Os dançarinos Eber Inacio e Denise Stutz, do Rio de Janeiro, apresentam "De Cor e pra Depois" num dos galpões de uma antiga fábrica desativada. Não bastasse o burburinho do público lá fora e, súbito, o som de música eletrônica ofusca o pouco do silêncio que restava, prejudicando o ritual da performance.
Eis uma das contradições do chamado lugarNenhum, o espaço multidisciplinar, terreno paralelo das intervenções, performances e espetáculos de dança e teatro no 3º Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto, que termina amanhã.
O barulho, por vezes ensurdecedor, não joga a favor dos artistas. A música eletrônica atrai sobretudo o público jovem das baladas, mais interessado em saber quem é o DJ da noite.
De quinta a domingo, o número de pessoas (capacidade para 2.000) impede que se assista às performances em espaços fechados, superlotados. No ano passado, o então lugarUmbigo funcionava em um antigo clube da cidade, que acolhia as apresentações sem tantos problemas.
Na quarta-feira, o musical "Single Singers Bar", do Folias d'Arte (SP), também era inaudível, mesmo com o vozeirão dos atores devotados ao gênero.
Já para a performance "Sur-Real", da Cia. Palhaços Noturnos (Rio Preto), quanto mais barulho, melhor. Na noite de quinta, seres animados interagiam com as pessoas no galpão principal, realizando números no chão ou no espaço aéreo, sem uso da palavra.
Pode-se imaginar os ruídos que aguardam a performance "Imagem", concepção e interpretação de Marcela Levi e Cláudia Garcia (RJ). São gestos e movimentos de "um corpo que se manipula, inventa imagens para si mesmo; olha-se, toca-se, violenta-se", conforme a sinopse.
Já o compositor Lívio Tragtenberg poderá ter melhor sorte com a apresentação do resultado de oficina que realizou durante o festival, batizada curiosamente de Mal Canto, envolvendo atores e músicos da cidade.
Outro destaque são os projetos paulistanos "Carro Verde", que intervém em espaços públicos (difundindo um som por meio de alto-falante, por exemplo, concepção de Fabiana Serroni), e "A Revolução Não Será Televisionada", captação e projeção de eventos "ambulantes" pelas ruas da cidade (por exemplo, distribuindo balas usadas de revólveres em faróis), pela Companhia As Cachorras, Paula Preta à frente, e por artistas como Daniel Lima, Daniela Labra, Fernando Coster e André Montenegro.

Índia
A última estréia internacional do festival acontece hoje, com "Make-Up", espetáculo da Índia.
Dirigido por Anuradha Kapur, a performance interpõe imagens em vídeo e fotografias para ilustrar um diálogo sobre as "traições" na construção dos papéis femininos no teatro e no cinema. Em cena, Harish Khanna e N.G. Ropshan encarnam estrelas do cinema indiano, como Bal Gandharva e Jaishankar Sundari. A intenção é confundir as estruturas de poder com a dissimulação da maquiagem do artista.


O jornalista Valmir Santos e a fotógrafa Lenise Pinheiro viajaram a convite da organização do festival

3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO. Quanto: De R$ 2,50 a R$ 10 ou entrada franca. Até amanhã. Mais informações pelo tel. 0/xx/17/3215-1830 ou no site www.festivalriopreto.com.br. Co-patrocinador: Petrobras.


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