São Paulo, Segunda-feira, 26 de Julho de 1999
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Devedor, "Jaquito" recebeu US$ 4,5 milhões pela venda

da Reportagem Local

A transferência da concessão de televisão da Manchete, que era da família Bloch, para a Rede TV!, do empresário Amilcare Dallevo Jr., torna mais remota a possibilidade de que o Banco do Brasil receba de volta um empréstimo hoje estimado em mais de R$ 70 milhões.
A dívida no BB foi feita ao longo de diversos anos por várias empresas da família Bloch e seria paga por meio de anúncios na emissora.
O problema é que a TV Manchete, embora continue existindo, não é mais dona de um canal de televisão. Portanto, o banco não tem onde veicular os anúncios.
A família Bloch deve ao BB desde a década de 1950. O débito chegou a R$ 160 milhões, entre outras razões porque o banco pagou mais de 65 mil cheques sem fundos emitidos pelo grupo.
Em 1990, o BB executou a empresa na Justiça. Em 1997, sem ter conseguido receber nada, tentou um acordo. Uma pequena parte da dívida foi paga em dinheiro e em imóveis. Outro pedaço foi parcelado em cinco anos, e a maior parte - 76% do total - foi trocada pelo direito de veicular anúncios.
O problema é que, na operação de transferência da televisão, as empresas da família Bloch foram divididas em três grupos. A TV, que é uma concessão do governo, foi transferida para Amilcare Dallevo Jr.
A empresa chamada TV Manchete foi comprada pelo banqueiro Fábio Saboya. Tem uma dívida estimada em R$ 100 milhões com vários credores e é dona de imóveis espalhados pelo país.
A Bloch Editores, que tem revistas, rádios e gráficas, continua nas mãos da família Bloch e é controlada por Pedro Jack Kapeller, o "Jaquito".
Os documentos obtidos pela Folha mostram que, embora devesse milhões ao governo, Kapeller conseguiu transferir a empresa, livrar-se de boa parte das dívidas e ainda receber, com o conhecimento do Ministério das Comunicações, US$ 4,5 milhões em sete pagamentos anuais (veja documento acima).
Até agora, Kapeller insistia na versão de que não recebera um tostão. Procurado pela Folha, ele não quis se manifestar.
Na negociação com o ministro Pimenta da Veiga, das Comunicações, Dallevo assumiu a TV com o compromisso de saldar apenas as dívidas da Manchete com o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e o FGTS. O ministro não incluiu a dívida do Banco do Brasil nas conversas.
Assim, para receber o dinheiro, o BB terá de acionar as empresas na Justiça. Além de processos de cobrança judicial se arrastarem por muitos anos, o próprio banco tem sido lento em cobrar a Manchete.
O BB não recebe nada das empresas do Grupo Bloch desde dezembro de 1998. Mas só na semana passada, quase sete meses depois, anunciou que vai executar o débito judicialmente. Pretende recuperar o crédito em anúncios, com o recebimento de bens ou dinheiro vivo.
Diferentemente de Amilcare Dallevo, o banco entende que todas as empresas, inclusive a Rede TV!, são solidárias no pagamento da dívida.
Caso a justiça aceite esse entendimento, o BB terá direito de veicular 3.888 anúncios de 30 segundos no horário nobre da Rede TV!. Se veicular um anúncio por dia, o BB levará dez anos para recuperar o dinheiro que emprestou. O cálculo está sujeito a alteração de acordo com a variação dos juros da dívida e do preço dos anúncios.
(MB)


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