São Paulo, Segunda-feira, 26 de Julho de 1999
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TELEVISÃO
Groisman poupa para futuro rico

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

De tanto pedir para que os garotos falassem, Serginho Groisman conseguiu que um garoto lhe fizesse um convite para trabalhar na Rede Globo. É claro que ele aceitou.
Além de reconhecer uma consagração quando uma se apresenta, ele viu nesse convite uma oportunidade para colocar ao sol um maracujá, há tantos anos trancafiado numa gaveta.
No momento, ele vive o horror de transportar os grilhões de um contrato que parece não querer acabar.
Enquanto a liberdade não vem, o Groisman resolveu brincar de carioquês. Chamou alunos do colégio Santo Inácio, de muita rigidez num passado de implacável disciplina, e garotos da favela da Rocinha, preocupados com a disseminação da Aids, assunto constante nos programas da rádio Rocinha, e gente de várias cidades do Estado.
Como celebridades, vieram Elza Soares vestida para a guerra, Dona Zica, da Mangueira, e Marcelo D2, que pelo jeito é famoso apenas em certos círculos. Ele faz o gênero de rebeldia sempre útil e muito ritmada. Sua roupa tem fat beats escrita em vários lugares. Mais um dialeto a identificar.
Embora dona Zica tenha o ar e o comportamento de uma rainha-mãe, ela não assume ares e opiniões superiores. "O que a senhora acha do pagode?" Vítima dos ódios mais modernos e superiores, o pagode, para dona Zica, é música, e toda música é louvável.
Dona Zica trazia, aliás, um livro no colo. Era sua autobiografia. Para uma senhora de mais de 80 anos, as páginas eram poucas. Dona Zica é gente fina, não quer uma importância falsa, como é comum nos que se autobiografam. Seu livro vem com um CD que gravaram em sua homenagem. Isso não é exagero, é afeto.
Mas o Serginho Groisman não está atrás dos garotos. O pessoal está mais ou menos fazendo o programa que a liberdade permite. A Elza Soares foi aplaudida e, quando provocada por um ou dois Garrinchas, virou fera. Quando cantou, foi do sopranino ao feroz. Está com muito mais do que apenas fôlego. Musicalmente, ela se deu às mil maravilhas com o D2. Engrenaram um ritmo de muita animação e muita festa. Pena que sem grande novidade.
D2 tinha dito que o pessoal de Salvador não se enturmou com ele. Será que foi intriga do Gil, do Caetano ou da própria Gal? O D2 não faz mal a ninguém. Nem aos ouvidos.
É verdade que andou agredindo um pessoal que só gosta de música que dê para balançar o rabo. Não é esse o tipo de música que o D2 faz? Com alguma mensagem na letra, mas só balanço no ritmo.
Dona Zica gostou. Não balançou, mas disse que gostou. O D2 não quer pouco. "Quero ser o Romário da música."
É impressionante como o Sergio Groisman pode fazer agora um programa sem interferir em seu andamento. Chama os comerciais e tudo fica melhor quando não tem um garoto para falar.
Eles não sabem se expressar e acabam ininteligíveis em sua curiosidade.
Talvez Sérgio Groisman esteja deixando que o programa corra sozinho sempre que possível para poupar para um futuro mais rico qualquer idéia nova que, repentina, possa surgir. Não é assim que fazem os profissionais?


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