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MÚSICA
Perfil do herói Renato Russo deixa o "lado escuro" para depois
Otávio Dias de Oliveira - 16.jun.94/Folha Imagem
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O cantor, compositor e roqueiro Renato Russo (1960-96), líder da Legião Urbana, que é focalizado no livro "O Trovador Solitário" |
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O herói pós-moderno Renato Russo (1960-96) é o personagem-tema de nova biografia da
série "Perfis do Rio", "Renato
Russo - O Trovador Solitário", escrita pelo jornalista carioca Arthur Dapieve, 37.
De texto preciosista e fluente, o
livro acompanha com afinco a
trajetória do ex-líder da banda
brasiliense Legião Urbana, mas
sem alcançar a condição-clichê de
"biografia definitiva" do artista.
Alguns pontos são esclarecidos,
mas poucos são aprofundados,
escarafunchados -bem, OK, é
um perfil, não uma descida ao inferno. Renato é tido como "autodestrutivo" (impressão colhida de
outra jornalista, Ana Maria Bahiana), fala-se do episódio em que
cortou os pulsos, aos 15 anos, mas
a zona escura que o conduzia a
tais humores não é motivo de
maiores análises.
Sabe-se, por Dapieve, que Renato aos 18 anos já havia reconhecido para si e para a família sua homossexualidade -mas pouco se
revela sobre como tal condição
contribuiu para encaminhar sua
obra e sua vida.
Chega-se a certa hora ao indomável, aos episódios assustadores
de batalha campal que a Legião,
última das bandas pop políticas
brasileiras, protagonizou em Brasília, em 88. Herói político-romântico, cronista amoroso distanciado (diz Dapieve, por exemplo, que "Eduardo e Mônica" não
era imitação da vida), Renato naquele momento vivia ponto de virada, de exemplo proclamado pelos fãs a messias amado/odiado
por multidões amedrontadoras.
Mesmo rejeitando a sina messiânica que começava a caramelizar sua figura, artisticamente a
viagem violenta resultou no barroco álbum "As Quatro Estações"
(89), que só viria reforçar a imagem conturbada, de sexo com religião, drogas mais contemplação,
vaidade e ascese.
Deve ter sido esse o grande mistério deixado por Renato -mais
que a pequena revolução gerada
pela admissão pública de sua sexualidade ainda no crucial 89, a
convivência com a Aids ou a tempestade de granizo de seus últimos dias de vida.
Houve essa fase em que artistas
pop mergulharam no messianismo, quase na religião rock -no
Brasil, além dele, talvez somente
Raul Seixas-, e o que levou Renato Russo a essa teia, antes e depois de morrer, é tarefa deixada
para depois.
Renato Russo - O Trovador
Solitário
Autor: Arthur Dapieve
Lançamento: Relume Dumará
Quanto: R$ 15 (183 págs.)
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