São Paulo, sábado, 26 de agosto de 2000


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MÚSICA
Perfil do herói Renato Russo deixa o "lado escuro" para depois

Otávio Dias de Oliveira - 16.jun.94/Folha Imagem
O cantor, compositor e roqueiro Renato Russo (1960-96), líder da Legião Urbana, que é focalizado no livro "O Trovador Solitário"


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O herói pós-moderno Renato Russo (1960-96) é o personagem-tema de nova biografia da série "Perfis do Rio", "Renato Russo - O Trovador Solitário", escrita pelo jornalista carioca Arthur Dapieve, 37.
De texto preciosista e fluente, o livro acompanha com afinco a trajetória do ex-líder da banda brasiliense Legião Urbana, mas sem alcançar a condição-clichê de "biografia definitiva" do artista.
Alguns pontos são esclarecidos, mas poucos são aprofundados, escarafunchados -bem, OK, é um perfil, não uma descida ao inferno. Renato é tido como "autodestrutivo" (impressão colhida de outra jornalista, Ana Maria Bahiana), fala-se do episódio em que cortou os pulsos, aos 15 anos, mas a zona escura que o conduzia a tais humores não é motivo de maiores análises.
Sabe-se, por Dapieve, que Renato aos 18 anos já havia reconhecido para si e para a família sua homossexualidade -mas pouco se revela sobre como tal condição contribuiu para encaminhar sua obra e sua vida.
Chega-se a certa hora ao indomável, aos episódios assustadores de batalha campal que a Legião, última das bandas pop políticas brasileiras, protagonizou em Brasília, em 88. Herói político-romântico, cronista amoroso distanciado (diz Dapieve, por exemplo, que "Eduardo e Mônica" não era imitação da vida), Renato naquele momento vivia ponto de virada, de exemplo proclamado pelos fãs a messias amado/odiado por multidões amedrontadoras.
Mesmo rejeitando a sina messiânica que começava a caramelizar sua figura, artisticamente a viagem violenta resultou no barroco álbum "As Quatro Estações" (89), que só viria reforçar a imagem conturbada, de sexo com religião, drogas mais contemplação, vaidade e ascese.
Deve ter sido esse o grande mistério deixado por Renato -mais que a pequena revolução gerada pela admissão pública de sua sexualidade ainda no crucial 89, a convivência com a Aids ou a tempestade de granizo de seus últimos dias de vida.
Houve essa fase em que artistas pop mergulharam no messianismo, quase na religião rock -no Brasil, além dele, talvez somente Raul Seixas-, e o que levou Renato Russo a essa teia, antes e depois de morrer, é tarefa deixada para depois.


Renato Russo - O Trovador Solitário
   Autor: Arthur Dapieve Lançamento: Relume Dumará Quanto: R$ 15 (183 págs.)




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