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16º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CURTAS
Kleber Mendonça Filho retrata consumismo de eletrodomésticos nos anos
90
Brasileiro pluga classe média na tomada
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
A classe média invade o curta.
Com "Eletrodoméstica", Kleber
Mendonça Filho se firma no cenário dos "pequenos" filmes nacionais ao levar às telas a história de
uma família que entope a casa de
aparelhos eletrônicos. O consumismo desenfreado é retratado
como o ópio do povo neste retrato
crítico de uma família que não
tem dinheiro para grandes luxos,
ao mesmo tempo que pode comprar mais de uma televisão.
O diretor conta que se inspirou
em várias coisas para montar o
enredo. "Achei engraçado, por
exemplo, a seleção voltar da Copa
do Mundo de 94, num avião fretado, lotado de equipamentos eletroeletrônicos. Além, é claro, de
explorar um certo clima de euforia pós-Plano Real. Nos anos 90, o
brasileiro reequipou suas casas
alegremente, com as benesses do
pagamento a prazo."
Com a receita de "ser absolutamente pessoal", Mendonça Filho
mergulhou em seu Recife natal,
mais especificamente no bairro
do Setúbal, para rodar esta crônica sobre a classe média. "Eu também sou classe média. Achei que
seria simpático filmá-la. Por algum motivo muito estranho, o cinema brasileiro não a filma, ou a
filma muito pouco", diz. Seria
uma espécie de "síndrome do cinema novo"? "O cinema no Brasil
parece ter o compromisso informal de lidar, em grande parte,
com o binômio sertão-favela. No
entanto, existem outros 200 Brasis entre uma coisa e outra. Esses
outros Brasis precisam ser filmados sem medo. As pessoas precisam se filmar sem medo. Vemos
uma grande quantidade de filmes
que servem para discutir temas;
são temas que ganham prêmios.
Gostaria de ver mais nas telas
obras que pensam o cinema."
Trampolim
O cineasta iniciou sua carreira
no vídeo, nos anos 90, mas foi seu
filme anterior, "Vinil Verde", que
alçou seu nome internacionalmente, competindo na Quinzena
dos Realizadores, na última edição do Festival de Cannes, em
maio passado. Não venceu, mas
"continua indo". "Nos próximos
meses, vai ser exibido em Barcelona, Biarritz, Honolulu... "Eletrodoméstica" está na seqüência."
Agora lhe perguntam quando
ele fará seu primeiro "filme".
"Um curta em 35 mm é um filme
de verdade. Para mim, o curta não
é trampolim para longa. É uma
obra que se basta, tão importante
e significativa quanto um longa.
Não creio que um curta deva ser
mais ou menos experimental do
que um longa. Filmes precisam
ser honestos e pessoais, não importando a duração. Quero fazer
curtas e longas."
Mas é difícil furar o preconceito
das salas exibidoras contra o curta. "Realmente é um trabalho de
guerrilha, que continua dois anos
depois do filme lançado. Mas
creio que o curta, programado
com inteligência e tino, pode virar
um produto atraente, capaz de
conquistar público. Não gosto da
idéia do curta como brinde cinematográfico", afirma ele, criticando a cota obrigatória.
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