|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
3º FESTIVAL DO RIO BR
Em certame comercial, o público decide
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Já faz tempo -no mínimo
dez anos- que os festivais
brasileiros vivem um desgaste,
pois os realizadores dos filmes
mais importantes tendem a vê-los
como uma arena em que têm
mais a perder do que a ganhar.
Ser premiado em festival brasileiro significa pouco, hoje, em termos de conquista do público. Mas
o risco de uma recepção crítica
negativa pode prejudicar a carreira de um filme. Pelo menos os cineastas têm pensado assim, e os
que podem guardam suas obras
para certames estrangeiros.
Para reagir a esse êxodo e atrair
de volta os bons filmes, os festivais mais tradicionais, como os de
Gramado e Brasília, têm procurado aumentar sua premiação em
dinheiro.
O Festival Rio-BR radicaliza essa tendência. Seus prêmios são os
mais elevados do país: R$ 200 mil
para o melhor longa de ficção, R$
100 mil para o melhor documentário e R$ 10 mil para o melhor
curta. Esse dinheiro deverá ser todo investido na comercialização
dos filmes vencedores.
Trata-se, literalmente, de um
prêmio comercial, de pouca importância em termos propriamente artísticos.
Até porque vários dos filmes
concorrentes, nas três categorias,
já rodaram por outros festivais
mais prestigiosos, a maioria deles
sem causar grande comoção.
Os melhores, como o longa "Latitude Zero", o documentário "A
Negação do Brasil" e o curta "Palíndromo", já foram premiados.
Os outros tentam uma segunda
chance, já que no Festival do Rio o
que conta mesmo é a votação do
público. Além disso, alguns dos títulos mais fortes que o festival exibirá estão fora de competição. É o
caso de "Lavoura Arcaica", de
Luiz Fernando Carvalho, e "Dias
de Nietszche em Turim", de Julio
Bressane.
Resta, em todo caso, a expectativa em torno dos dois únicos inéditos em competição, "Bellini e a
Esfinge", de Roberto Santucci Filho, e "Uma Vida em Segredo", de
Suzana Amaral.
Ambos são baseados em obras
literárias. O primeiro, numa novela policial de Tony Bellotto; o
segundo, num romance de Autran Dourado.
Não deixa de ser significativo
que o filme escolhido para abrir o
festival seja "O Xangô de Baker
Street", superprodução com elenco internacional, dirigida por Miguel Faria Jr. e baseada no best-seller de Jô Soares.
Ao lado da competição com base exclusivamente no gosto do
público e da premiação direcionada para a comercialização dos
filmes, a opção por "Xangô" é
mais um indício de que, pelo menos no que diz respeito ao cinema
nacional, o viés predominante no
Rio-BR é o comercial.
Texto Anterior: 3º Festival do Rio BR: Para quem não leu o livro Próximo Texto: Frase Índice
|