São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

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3º FESTIVAL DO RIO BR

Em certame comercial, o público decide

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Já faz tempo -no mínimo dez anos- que os festivais brasileiros vivem um desgaste, pois os realizadores dos filmes mais importantes tendem a vê-los como uma arena em que têm mais a perder do que a ganhar.
Ser premiado em festival brasileiro significa pouco, hoje, em termos de conquista do público. Mas o risco de uma recepção crítica negativa pode prejudicar a carreira de um filme. Pelo menos os cineastas têm pensado assim, e os que podem guardam suas obras para certames estrangeiros.
Para reagir a esse êxodo e atrair de volta os bons filmes, os festivais mais tradicionais, como os de Gramado e Brasília, têm procurado aumentar sua premiação em dinheiro.
O Festival Rio-BR radicaliza essa tendência. Seus prêmios são os mais elevados do país: R$ 200 mil para o melhor longa de ficção, R$ 100 mil para o melhor documentário e R$ 10 mil para o melhor curta. Esse dinheiro deverá ser todo investido na comercialização dos filmes vencedores.
Trata-se, literalmente, de um prêmio comercial, de pouca importância em termos propriamente artísticos.
Até porque vários dos filmes concorrentes, nas três categorias, já rodaram por outros festivais mais prestigiosos, a maioria deles sem causar grande comoção.
Os melhores, como o longa "Latitude Zero", o documentário "A Negação do Brasil" e o curta "Palíndromo", já foram premiados. Os outros tentam uma segunda chance, já que no Festival do Rio o que conta mesmo é a votação do público. Além disso, alguns dos títulos mais fortes que o festival exibirá estão fora de competição. É o caso de "Lavoura Arcaica", de Luiz Fernando Carvalho, e "Dias de Nietszche em Turim", de Julio Bressane.
Resta, em todo caso, a expectativa em torno dos dois únicos inéditos em competição, "Bellini e a Esfinge", de Roberto Santucci Filho, e "Uma Vida em Segredo", de Suzana Amaral.
Ambos são baseados em obras literárias. O primeiro, numa novela policial de Tony Bellotto; o segundo, num romance de Autran Dourado.
Não deixa de ser significativo que o filme escolhido para abrir o festival seja "O Xangô de Baker Street", superprodução com elenco internacional, dirigida por Miguel Faria Jr. e baseada no best-seller de Jô Soares.
Ao lado da competição com base exclusivamente no gosto do público e da premiação direcionada para a comercialização dos filmes, a opção por "Xangô" é mais um indício de que, pelo menos no que diz respeito ao cinema nacional, o viés predominante no Rio-BR é o comercial.


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