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ERUDITO
Obras foram encontradas por pesquisador italiano na biblioteca do violonista espanhol Andrés Segovia
Repertório de violão solo ganha mais 34 partituras inéditas
IRINEU FRANCO PERPÉTUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O arquivo do maior violonista
do século está finalmente à disposição 14 anos depois de sua morte.
Graças ao trabalho do pesquisador italiano Angelo Gilardino, 34
obras inéditas, dedicadas a Andrés Segovia (1893-1987), passam
a integrar o repertório para violão
solo.
"Essas composições inéditas,
representadas pelos manuscritos
autógrafos dos autores, faziam
parte da biblioteca musical que o
maestro Segovia tinha em sua casa de Madri", explicou à Folha,
por e-mail, Gilardino, que, além
de compositor, é diretor artístico
da Fundação Segovia.
"Depois de sua morte, a biblioteca foi transferida para Linares,
cidade natal de Segovia, para ser
colocada na Casa Museu a ele dedicada", diz. "Segovia havia conservado os manuscritos, embora
não tivesse executado as obras."
O violonista morreu em 2 de junho de 1987. Foi só em maio de
2001, contudo, que Emilia Segovia
de Salobrena, viúva do artista, pediu a Gilardino que examinasse a
biblioteca. Lá, ele selecionou as 34
obras inéditas ou não executadas,
que pretende publicar ao longo
dos próximos três anos.
Entre todos os achados, o de
maior destaque é a "Sonatina",
composta em 1927 pelo compositor e pianista britânico Cyril Scott
(1879-1970), obra cuja existência
se conhecia, mas era considerada
perdida.
Sua estréia mundial será feita no
Wigmore Hall, em Londres, dia
26 de novembro, por um dos
maiores nomes do violão na atualidade, o britânico Julian Bream,
68, que estará celebrando o 50º
aniversário de sua aparição naquela sala.
"Os achados de Gilardino fazem
com que seja reescrita a história
do violão nos anos 20 e 30 do século 20", analisa o violonista brasileiro radicado em Londres Fabio Zanon, que fará, pelo selo
Sanctus, a primeira gravação
mundial da "Sonatina" de Scott.
"Até essa descoberta, a "Sonatina" que Lennox Berkley (1903-1989) escreveu em 1959 é que era
considerada a primeira obra britânica para violão solo", diz Zanon. "Segovia estabeleceu o cânone do repertório do violão no século 20. Ele encomendou muitas
obras e tinha um gosto particular,
de afinidade romântica."
Para Zanon, "as obras que estão
na lista de Gilardino são aquelas
que Segovia não se interessou em
tocar por não estarem tão de acordo com seu gosto".
"Estão representados compositores muito interessantes, como
Berkley, Gaspar Cassado (1897-1966), Federico Mompou (1893-1987) e Alexandre Tansman
(1897-1986)", afirma o violonista.
"Embora pareça muito pouco
provável, não posso excluir que
novas pesquisas no arquivo do
maestro Segovia possam revelar
outras surpresas", diz Gilardino.
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