São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

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ERUDITO

Obras foram encontradas por pesquisador italiano na biblioteca do violonista espanhol Andrés Segovia

Repertório de violão solo ganha mais 34 partituras inéditas

IRINEU FRANCO PERPÉTUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O arquivo do maior violonista do século está finalmente à disposição 14 anos depois de sua morte. Graças ao trabalho do pesquisador italiano Angelo Gilardino, 34 obras inéditas, dedicadas a Andrés Segovia (1893-1987), passam a integrar o repertório para violão solo.
"Essas composições inéditas, representadas pelos manuscritos autógrafos dos autores, faziam parte da biblioteca musical que o maestro Segovia tinha em sua casa de Madri", explicou à Folha, por e-mail, Gilardino, que, além de compositor, é diretor artístico da Fundação Segovia.
"Depois de sua morte, a biblioteca foi transferida para Linares, cidade natal de Segovia, para ser colocada na Casa Museu a ele dedicada", diz. "Segovia havia conservado os manuscritos, embora não tivesse executado as obras."
O violonista morreu em 2 de junho de 1987. Foi só em maio de 2001, contudo, que Emilia Segovia de Salobrena, viúva do artista, pediu a Gilardino que examinasse a biblioteca. Lá, ele selecionou as 34 obras inéditas ou não executadas, que pretende publicar ao longo dos próximos três anos.
Entre todos os achados, o de maior destaque é a "Sonatina", composta em 1927 pelo compositor e pianista britânico Cyril Scott (1879-1970), obra cuja existência se conhecia, mas era considerada perdida.
Sua estréia mundial será feita no Wigmore Hall, em Londres, dia 26 de novembro, por um dos maiores nomes do violão na atualidade, o britânico Julian Bream, 68, que estará celebrando o 50º aniversário de sua aparição naquela sala.
"Os achados de Gilardino fazem com que seja reescrita a história do violão nos anos 20 e 30 do século 20", analisa o violonista brasileiro radicado em Londres Fabio Zanon, que fará, pelo selo Sanctus, a primeira gravação mundial da "Sonatina" de Scott.
"Até essa descoberta, a "Sonatina" que Lennox Berkley (1903-1989) escreveu em 1959 é que era considerada a primeira obra britânica para violão solo", diz Zanon. "Segovia estabeleceu o cânone do repertório do violão no século 20. Ele encomendou muitas obras e tinha um gosto particular, de afinidade romântica."
Para Zanon, "as obras que estão na lista de Gilardino são aquelas que Segovia não se interessou em tocar por não estarem tão de acordo com seu gosto".
"Estão representados compositores muito interessantes, como Berkley, Gaspar Cassado (1897-1966), Federico Mompou (1893-1987) e Alexandre Tansman (1897-1986)", afirma o violonista.
"Embora pareça muito pouco provável, não posso excluir que novas pesquisas no arquivo do maestro Segovia possam revelar outras surpresas", diz Gilardino.



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