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Encenação trará "melodramas" raros no primeiro ato
DA REPORTAGEM LOCAL
A "Carmen" que os paulistanos
poderão assistir difere em alguns
pontos das demais produções da
mesma ópera encenadas recentemente em São Paulo.
O maestro Jamil Maluf diz ter
suprimido os recitativos (falas
cantadas que separam as árias)
acrescentados à partitura depois
da morte de Bizet. No lugar deles,
adotou a opção original dos textos falados. No primeiro ato foram resgatados dois "melodramas" (falas com fundo orquestral) nunca ou raramente ouvidos
no Brasil.
Eis os principais trechos da entrevista do maestro.
(JBN)
Folha - É mais fácil ou mais difícil
reger uma ópera tão conhecida e
tão frequentemente montada?
Jamil Maluf - No caso da "Carmen", é mais difícil. Ela exige do
regente decisões radicais no momento de abordar a partitura. Bizet fez inúmeros cortes numa
obra que acreditava, antes da estréia, ser excessivamente longa.
Mas morreu pouco depois.
Folha - Qual a solução ideal?
Maluf - Importamos da Alemanha a edição crítica, publicada em
1964, do Fritz Oeser. Ela traz as indicações do que Bizet cortou, mas
ela tem como desvantagem incluir os recitativos escritos depois
da morte do compositor por Antoine Guiraud.
Folha - É com eles que ela será encenada?
Maluf - Preservei os cortes de Bizet, mas não as modificações de
Guiraud. Amigo do compositor,
ele transformou as falas dos personagens em cantos com acompanhamento orquestral.
Folha - Em francês ou português?
Maluf - Eu desejaria em português, como fiz com "A Flauta Mágica", de Mozart, opção rejeitada
pela direção geral do espetáculo.
Folha - E os "melodramas"?
Maluf - O melodrama é quando
o cantor fala um texto, mas a orquestra ao fundo toca uma música. A novidade da produção está
no resgate de dois melodramas do
primeiro ato. Será a primeira ou
uma das raras vezes em que eles,
que foram trazidos à luz em 1964
pela edição crítica, serão ouvidos
em São Paulo.
Folha - Será uma produção mais
curta ou mais longa que a encenada pelo Municipal em 1998?
Maluf - Ela vai durar, com os
dois intervalos, três horas e meia.
Não sei como comparar com a de
1998.
Folha - Qual a mágica que fez desse Bizet tamanho sucesso?
Maluf - É a simplicidade e a efetividade. Foi uma ópera admirada
por Puccini, Stravinski, Debussy,
compositores que professavam
escolas estéticas diferentes.
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