São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2001

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Encenação trará "melodramas" raros no primeiro ato

DA REPORTAGEM LOCAL

A "Carmen" que os paulistanos poderão assistir difere em alguns pontos das demais produções da mesma ópera encenadas recentemente em São Paulo.
O maestro Jamil Maluf diz ter suprimido os recitativos (falas cantadas que separam as árias) acrescentados à partitura depois da morte de Bizet. No lugar deles, adotou a opção original dos textos falados. No primeiro ato foram resgatados dois "melodramas" (falas com fundo orquestral) nunca ou raramente ouvidos no Brasil.
Eis os principais trechos da entrevista do maestro. (JBN)

Folha - É mais fácil ou mais difícil reger uma ópera tão conhecida e tão frequentemente montada?
Jamil Maluf
- No caso da "Carmen", é mais difícil. Ela exige do regente decisões radicais no momento de abordar a partitura. Bizet fez inúmeros cortes numa obra que acreditava, antes da estréia, ser excessivamente longa. Mas morreu pouco depois.

Folha - Qual a solução ideal?
Maluf
- Importamos da Alemanha a edição crítica, publicada em 1964, do Fritz Oeser. Ela traz as indicações do que Bizet cortou, mas ela tem como desvantagem incluir os recitativos escritos depois da morte do compositor por Antoine Guiraud.

Folha - É com eles que ela será encenada?
Maluf
- Preservei os cortes de Bizet, mas não as modificações de Guiraud. Amigo do compositor, ele transformou as falas dos personagens em cantos com acompanhamento orquestral.

Folha - Em francês ou português?
Maluf
- Eu desejaria em português, como fiz com "A Flauta Mágica", de Mozart, opção rejeitada pela direção geral do espetáculo.

Folha - E os "melodramas"?
Maluf
- O melodrama é quando o cantor fala um texto, mas a orquestra ao fundo toca uma música. A novidade da produção está no resgate de dois melodramas do primeiro ato. Será a primeira ou uma das raras vezes em que eles, que foram trazidos à luz em 1964 pela edição crítica, serão ouvidos em São Paulo.

Folha - Será uma produção mais curta ou mais longa que a encenada pelo Municipal em 1998?
Maluf
- Ela vai durar, com os dois intervalos, três horas e meia. Não sei como comparar com a de 1998.

Folha - Qual a mágica que fez desse Bizet tamanho sucesso?
Maluf
- É a simplicidade e a efetividade. Foi uma ópera admirada por Puccini, Stravinski, Debussy, compositores que professavam escolas estéticas diferentes.


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