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"COPPÉLIA"
A dança entre o mecânico e o natural
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
O Ballet do Teatro Municipal do Rio voltou aos palcos
de São Paulo. Com Ana Botafogo
e André Valadão nos papéis principais, o Ballet estreou "Coppélia"
no último dia 18, no Municipal. A
montagem é mais do que competente, os solistas são mais do que a
montagem, e "Coppélia", neste
dia e hora, sugere muito mais do
que se pode imaginar.
O libreto original de "Coppélia"
(1870) foi inspirado no conto "O
Homem de Areia", do alemão
E.T.A. Hoffmann (1776-1822).
Num período quando engenhocas e efeitos artificiais davam "vida" aos manequins, não surpreende que a narrativa vá construindo sua alegoria das paixões
do homem em torno dessa comédia de amor. É também do contraste entre o mecânico e o natural que a dança se faz.
A música de Léo Delibes (1836-91) é um dos cavalos de batalha do
repertório; sempre fez e sempre
fará sucesso, mesmo numa noite
como a da semana passada, com o
som distorcido nas caixas boa
parte do espetáculo.
Se é fato que o Ballet não veio
com todos os seus integrantes,
também é verdade que não sofreu
por isso. O corpo de baile estava
bem, sem grandes problemas; alguns deslizes individuais nas pontas criaram desigualdades, mas
foi só. Nas danças regionais, como a mazurca e a czarda, o grupo
estava forte e coeso. Destaque para a última seção, um mar de pernas e braços alternadamente se
confundindo e desconfundindo,
criando um corpo único lançado
em múltiplas direções.
Ana Botafogo dançou Swanilda.
A suspensão do seu corpo e a suavidade dos braços dão brilho a cada passo e fazem com que ela deslize em cena com grande fluidez.
Houve grandes momentos de virtuosismo: por exemplo, no segundo ato, quando ela imita a boneca
no início de seus movimentos e
dança uma espanhola; ou quase
no final, em que ela saltita impressionantemente sobre as pontas
dos pés. Pequenos deslizes em giros e equilíbrios são minúcias e
não afetam o desempenho dessa
grande estrela da dança.
E o partner, André Valadão? Seguro e atencioso. Seus giros são
fluidos e precisos, pois sua habilidade em lidar com os desequilíbrios permite que não perca jamais o seu eixo. A dupla conquistou a platéia a cada aparição.
O conflito entre idealismo e realismo, que serve de fundo a este
balé tão leve e encantador, parece
um tema especialmente apropriado para o atual momento do Brasil. A alegoria decerto não foi planejada, mas nem por isso deixa de
fazer sentido. É bom pensar que o
balé pode nos fazer pensar, além
de sonhar.
Coppélia
Onde: Teatro Municipal do Rio (pça.
Floriano, s/nš, tel: 0/xx/21/ 2262-3935,
Rio de Janeiro)
Quando: hoje e amanhã, às 20h30; sáb.,
às 21h, dom., às 17h
Quanto: de R$ 8 a R$ 180
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