São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004

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CINEMA

Canções do compositor ganham novas versões com Sheryl Crow e Lemar em filme que estréia no Festival do Rio hoje

História de Cole Porter vira dramalhão

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Para os amantes da melhor música americana, o filme mais esperado do Festival do Rio estréia hoje: "De-lovely - Vida e Amores de Cole Porter", de Irwin Winkler. Ainda não é o filme que o gênio e a biografia do compositor mereciam, mas tem como atrativo novas versões de uma penca de canções de Porter.
Algumas delas são interpretadas por Kevin Kline, que vive o compositor em "De-lovely". Embora melhor ator do que cantor, Kline dá conta do recado em "Be a Clown", "Experiment", entre outras canções.
Quase todo o resto do repertório fica a cargo de cantores pop. O diretor procurou inserir as interpretações na ação, artifício que nem sempre funciona bem. Entre os destaques estão Elvis Costello cantando "Let's Misbehave", Diana Krall em "Just One of those Things" e Alanis Morissette em "Let's Do it".
Mais distantes do clima que as músicas tinham na época em que foram feitas são as versões de "Begin the Beguine", por Sheryl Crow, e "What Is this Thing Called Love?", por Lemar.

Apelo emocional
Winkler montou um argumento fantasioso, o que lhe desobrigou de ser fiel à biografia de Porter: o compositor já perto da morte, aos 73 anos, assiste a um filme sobre sua vida e comenta com o diretor, vivido por Jonathan Pryce.
Essa opção permite que pessoas fundamentais na vida de Porter -como sua mãe, Kate- não apareçam na história, que se concentra em poucos personagens.
"De-Lovely", naturalmente, não esconde o homossexualismo do Porter, como fez o açucarado "A Canção Inesquecível" ("Night and Day") em 1946, com Cary Grant transformando o compositor em galã -no filme de Winkler, Porter diz ao acabar de ver "A Canção Inesquecível": "Se eu sobreviver a esse filme, sobrevivo a qualquer coisa".
Mas o foco maior ainda é a relação de Porter com sua mulher, Linda, interpretada por Ashley Judd. Mesmo deixando claro que o casamento dos dois era aberto e que ela sabia do envolvimento dele com homens, o filme transforma a história do casal várias vezes em drama, com lágrimas transbordando.
Winkler ressalta a dor de Linda, o aparente egoísmo de Porter e a força do relacionamento entre eles. Até morrer de um enfisema pulmonar em 1954, ela fica ao lado dele, que se torna cada vez mais dependente por causa da queda de cavalo que esmigalhou sua perna direita, enfim amputada em 1958.
A primeira parte de "De-lovely" é alegre e solar, acompanhando a vida de milionário de Porter em Paris e Veneza e o início de sua carreira brilhante como autor de musicais da Broadway.
Com o sofrimento de Linda e as doenças dela e dele, o filme se torna sombrio, terminando, significativamente, com "In the Still of the Night" ("na calada da noite") interpretada por Kline e Judd ao piano.
Um final bonito para um filme que, apesar das canções sensacionais de Porter, é sobretudo um melodrama.
"De-lovely" entra em circuito comercial em outubro, mês do 40º aniversário de morte do compositor.


FESTIVAL DO RIO. "De-lovely - Vida e Amores de Cole Porter". Onde: Roxy (hoje, às 16h30 e 21h30) e Estação Paissandu (amanhã, às 14h e 19h).


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