São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007

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crítica

Mano Brown "deita e rola" no "Roda Viva"

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Mano Brown quase não concede entrevistas a grandes veículos de imprensa. Anteontem, ele foi o entrevistado do "Roda Viva". Ficou a impressão: difícil lembrar de outro personagem que tenha colocado a opinião pública de joelhos como o líder dos Racionais MC's.
Por excesso de reverência, por medo de um confronto, o que for, perdeu-se uma grande oportunidade de decifrar o que ele pensa e de questioná-lo sobre assuntos pertinentes com sua presença no programa da TV Cultura.
O episódio da última Virada Cultural, em que um tumulto entre a Polícia Militar e o público interrompeu o show dos Racionais na praça da Sé, em São Paulo, sequer foi mencionado.
É fato que existe um, para dizer o mínimo, "atrito" entre a PM e os Racionais. (Em 1994, em show no vale do Anhangabaú, os músicos dos Racionais chegaram a ser detidos pela PM.) Mano Brown até soltou algumas iscas sobre o assunto "Quem protege a favela? A polícia protege?" Mas ficou nisso.
Sobre o ministro Gilberto Gil, também cantor, também negro... nada. Não se sabe o que Mano Brown pensa da administração de Gil na Cultura.
Inteligente, esperto, Mano Brown deitou e rolou. E ainda tirou sarro: "Por que você resolveu vir ao "Roda Viva'?". "É um programa a que assisto. Às vezes, não tinha noção, usam umas palavras difíceis..."
Em vários momentos do programa, os entrevistadores preferiram tentar "analisar" as letras da banda ("Isso é só uma rima"...), focaram temas relacionados à "vida na favela", ou a "diferença" entre Mano Brown e Pedro Paulo Soares Pereira -até o clichezão "O que é o amor pra você?" veio à tona.
No assunto criminalidade, a conversa (por algum tempo, o "Roda Viva" foi menos uma entrevista do que um bate-papo) foi um pouco mais longe.
"Falar de traficante é foda, é como se tivéssemos falando dos nossos", diz Brown. "Vamos parar de usar o termo "traficante" e usar "comerciante"."
O vocalista dos Racionais afirmou ser "a favor" da cota para negros nas universidades. Mas que "cota para os negros é o mínimo, um detalhe". O presidente apareceu: "Gosto do Lula, sou eleitor do Lula. Um cara que veio de baixo. Não vai dar a cabeça dos amigos para os inimigos. Ele não faria isso".
Deixou a entender que, mais do que um conflito de raça, se preocupa com a luta de classes. "Nossa classe é desunida. A classe rica é unida. Eles fizeram a Marta [Suplicy] perder a eleição [para a Prefeitura de SP]."
Revelou-se um pouco ao afirmar que é "um pai ausente". "Por causa do meu instinto, não sei ser presente. Não quero que eles [os filhos] vivam em função da minha vida."


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