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crítica
Mano Brown "deita e rola" no "Roda Viva"
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Mano Brown quase
não concede entrevistas a grandes veículos de imprensa. Anteontem,
ele foi o entrevistado do "Roda
Viva". Ficou a impressão: difícil
lembrar de outro personagem
que tenha colocado a opinião
pública de joelhos como o líder
dos Racionais MC's.
Por excesso de reverência,
por medo de um confronto, o
que for, perdeu-se uma grande
oportunidade de decifrar o que
ele pensa e de questioná-lo sobre assuntos pertinentes com
sua presença no programa da
TV Cultura.
O episódio da última Virada
Cultural, em que um tumulto
entre a Polícia Militar e o público interrompeu o show dos Racionais na praça da Sé, em São
Paulo, sequer foi mencionado.
É fato que existe um, para dizer o mínimo, "atrito" entre a
PM e os Racionais. (Em 1994,
em show no vale do Anhangabaú, os músicos dos Racionais
chegaram a ser detidos pela
PM.) Mano Brown até soltou
algumas iscas sobre o assunto
"Quem protege a favela? A polícia protege?" Mas ficou nisso.
Sobre o ministro Gilberto
Gil, também cantor, também
negro... nada. Não se sabe o que
Mano Brown pensa da administração de Gil na Cultura.
Inteligente, esperto, Mano
Brown deitou e rolou. E ainda
tirou sarro: "Por que você resolveu vir ao "Roda Viva'?". "É
um programa a que assisto. Às
vezes, não tinha noção, usam
umas palavras difíceis..."
Em vários momentos do programa, os entrevistadores preferiram tentar "analisar" as letras da banda ("Isso é só uma rima"...), focaram temas relacionados à "vida na favela", ou a
"diferença" entre Mano Brown
e Pedro Paulo Soares Pereira
-até o clichezão "O que é o
amor pra você?" veio à tona.
No assunto criminalidade, a
conversa (por algum tempo, o
"Roda Viva" foi menos uma entrevista do que um bate-papo)
foi um pouco mais longe.
"Falar de traficante é foda, é
como se tivéssemos falando
dos nossos", diz Brown. "Vamos parar de usar o termo "traficante" e usar "comerciante"."
O vocalista dos Racionais
afirmou ser "a favor" da cota
para negros nas universidades.
Mas que "cota para os negros é
o mínimo, um detalhe". O presidente apareceu: "Gosto do
Lula, sou eleitor do Lula. Um
cara que veio de baixo. Não vai
dar a cabeça dos amigos para os
inimigos. Ele não faria isso".
Deixou a entender que, mais
do que um conflito de raça, se
preocupa com a luta de classes.
"Nossa classe é desunida. A
classe rica é unida. Eles fizeram
a Marta [Suplicy] perder a eleição [para a Prefeitura de SP]."
Revelou-se um pouco ao afirmar que é "um pai ausente".
"Por causa do meu instinto, não
sei ser presente. Não quero que
eles [os filhos] vivam em função da minha vida."
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