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Peça retrata atriz fundamental do teatro brechtiano
Primeiro texto de Amir Labaki para teatro relembra Lotte Lenya, uma das mais importantes intérpretes do século 20
Dirigido por Regina Galdino e com Mônica Guimarães, monólogo revê trajetória por meio de declarações
em entrevistas e cartas
GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Amir Labaki usa sua experiência com documentário a
serviço do teatro. Curador do
Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade e
articulista da Folha, ele faz sua
estréia nos palcos como autor
de "Lenya", monólogo entremeado por canções sobre a trajetória de Lotte Lenya (1898-1981), dirigido por Regina Galdino e interpretado por Mônica Guimarães, em cartaz a
partir de hoje no Sesc Avenida
Paulista.
Atriz de importância fundamental para a difusão do teatro
brechtiano nos Estados Unidos, Lenya deve sua fama sobretudo a um papel de vilã no
filme "Moscou Contra 007"
(1963). "É um delicioso paradoxo que uma das intérpretes teatrais mais importantes do século 20 tenha encontrado seu
maior reconhecimento como
coadjuvante de uma aventura
de James Bond", diz Labaki.
Mais do que protagonista de
Brecht, Lenya foi uma artista
revolucionária. "Suas interpretações trouxeram uma forma
diferente, dramática, de se
mostrar música no teatro", diz
Guimarães. Lenya foi mulher e
uma das principais intérpretes
do compositor Kurt Weill
-parceiro do dramaturgo alemão em, entre outras, "Ópera
dos Três Vinténs", que teve
parte do repertório imortalizada por nomes como Louis
Armstrong e Nina Simone.
Aspecto documental
A peça faz justiça à Lenya e
humaniza Weill e Brecht. "Quis
recuperar Lenya do esquecimento, Weill da superficialidade e Brecht do mito", diz o autor, que teve cuidado documental na elaboração do texto.
A Lenya concebida por ele rememora sua trajetória por
meio de declarações reais, originadas em entrevistas e cartas:
"Apenas 15% das falas foram
criadas por mim", estima.
Diretora e intérprete da peça
vêem o aspecto documental de
"Lenya" como uma de suas
qualidades. "Há lirismo, dor,
vazios e humor", diz Guimarães. "Amir revela emoções e
contradições do personagem,
de forma sensível e direta",
acrescenta Galdino. "O alicerce
documental desse texto, ao
contrário de torná-lo não-encenável, instiga a direção a buscar soluções teatrais", diz.
Ela dá dinâmica ao monólogo
apresentando-o sob três pontos de vista: o da atriz narradora, o da personagem que vive a
situação dramática e o de Lenya velha e nostálgica. Também
se serve de algumas ousadias
teatrais dos anos 20 e 30, como
projeções de filmes e o uso de
canções para romper o ilusionismo. Apóia-se principalmente na interpretação de Guimarães, a quem o texto é dedicado.
"Como Lenya, Mônica tem
um despojamento hipnótico e
elegeu como seu instrumento
mais característico a voz e o
canto teatral", elogia o autor.
Diferentemente do irmão Aimar Labaki, dramaturgo e crítico teatral experiente, Amir usa
os palcos para libertar-se: "Teatro é para Aimar um sacerdócio
pagão e cívico. Para mim, como
dizia Graham Greene, um de
meus romancistas prediletos,
que foi um dramaturgo ocasional, teatro é uma liberação".
LENYA
Quando: sex., sáb. e dom., às 20h;
até 26/10
Onde: no Sesc Avenida Paulista (av.
Paulista, 119, 13º andar; tel. 0/xx/11/
3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
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