São Paulo, sexta-feira, 26 de setembro de 2008

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Peça retrata atriz fundamental do teatro brechtiano

Primeiro texto de Amir Labaki para teatro relembra Lotte Lenya, uma das mais importantes intérpretes do século 20

Dirigido por Regina Galdino e com Mônica Guimarães, monólogo revê trajetória por meio de declarações em entrevistas e cartas


GABRIELA MELLÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Amir Labaki usa sua experiência com documentário a serviço do teatro. Curador do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade e articulista da Folha, ele faz sua estréia nos palcos como autor de "Lenya", monólogo entremeado por canções sobre a trajetória de Lotte Lenya (1898-1981), dirigido por Regina Galdino e interpretado por Mônica Guimarães, em cartaz a partir de hoje no Sesc Avenida Paulista.
Atriz de importância fundamental para a difusão do teatro brechtiano nos Estados Unidos, Lenya deve sua fama sobretudo a um papel de vilã no filme "Moscou Contra 007" (1963). "É um delicioso paradoxo que uma das intérpretes teatrais mais importantes do século 20 tenha encontrado seu maior reconhecimento como coadjuvante de uma aventura de James Bond", diz Labaki.
Mais do que protagonista de Brecht, Lenya foi uma artista revolucionária. "Suas interpretações trouxeram uma forma diferente, dramática, de se mostrar música no teatro", diz Guimarães. Lenya foi mulher e uma das principais intérpretes do compositor Kurt Weill -parceiro do dramaturgo alemão em, entre outras, "Ópera dos Três Vinténs", que teve parte do repertório imortalizada por nomes como Louis Armstrong e Nina Simone.

Aspecto documental
A peça faz justiça à Lenya e humaniza Weill e Brecht. "Quis recuperar Lenya do esquecimento, Weill da superficialidade e Brecht do mito", diz o autor, que teve cuidado documental na elaboração do texto.
A Lenya concebida por ele rememora sua trajetória por meio de declarações reais, originadas em entrevistas e cartas: "Apenas 15% das falas foram criadas por mim", estima.
Diretora e intérprete da peça vêem o aspecto documental de "Lenya" como uma de suas qualidades. "Há lirismo, dor, vazios e humor", diz Guimarães. "Amir revela emoções e contradições do personagem, de forma sensível e direta", acrescenta Galdino. "O alicerce documental desse texto, ao contrário de torná-lo não-encenável, instiga a direção a buscar soluções teatrais", diz.
Ela dá dinâmica ao monólogo apresentando-o sob três pontos de vista: o da atriz narradora, o da personagem que vive a situação dramática e o de Lenya velha e nostálgica. Também se serve de algumas ousadias teatrais dos anos 20 e 30, como projeções de filmes e o uso de canções para romper o ilusionismo. Apóia-se principalmente na interpretação de Guimarães, a quem o texto é dedicado.
"Como Lenya, Mônica tem um despojamento hipnótico e elegeu como seu instrumento mais característico a voz e o canto teatral", elogia o autor.
Diferentemente do irmão Aimar Labaki, dramaturgo e crítico teatral experiente, Amir usa os palcos para libertar-se: "Teatro é para Aimar um sacerdócio pagão e cívico. Para mim, como dizia Graham Greene, um de meus romancistas prediletos, que foi um dramaturgo ocasional, teatro é uma liberação".


LENYA
Quando: sex., sáb. e dom., às 20h; até 26/10
Onde: no Sesc Avenida Paulista (av. Paulista, 119, 13º andar; tel. 0/xx/11/ 3179-3700)
Quanto: de R$ 5 a R$ 20
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos




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