São Paulo, sábado, 26 de setembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obra de Jean Vigo foi alvo de censura

Vanguardista na forma, diretor, que fez apenas quatro filmes, foi visto como antimilitarista e anticlerical na França

Após a Segunda Guerra, trabalhos ganharam uma maior difusão na Europa; inspirado pelo pai, defendia um cinema de viés social


DA REPORTAGEM LOCAL

Jean Vigo era ainda menino quando moldou para si um sonho improvável para a época: fazer cinema. Descobrira as imagens com seu tutor, o fotógrafo Gabriel Aubès. Decidiu colocá-las em movimento. Auxiliado por amigos do pai, aproximou-se do cinema, em Paris, mal terminou o liceu. Conseguiu uma vaga como ajudante de operador na FrancoFilm.
Foi o sogro quem deu a ele o dinheiro necessário para que comprasse uma câmera Debrie. Com o equipamento, saiu às ruas para fazer o documentário "A Propósito de Nice". "Em várias oportunidades, ele parecia buscar uma espécie de simbolismo. Depois, deixou-se atrair por um realismo duro à Von Sotroheim (...) Mas também se interessava pelas possibilidades do expressionismo", descreve Paulo Emílio Sales Gomes.
Os voos formais ganharam altura em "Zero de Comportamento" (1933), título que se refere à nota que o impedia de sair do internato. Nascido de necessidade de "contar" e feito com amigos, o filme ecoaria em "Os Incompreendidos" (1959), de François Truffaut.
Os meninos-atores eram todos do 19º arrondissement, bairro popular parisiense; os bombeiros foram vividos por pintores e o papel de chefe de polícia coube a um poeta. O improviso se deixa notar. Mas a poesia espontânea também.
"Se, para uma antologia, fosse preciso escolher uma única sequência representativa do seu estilo, teria de ser a abertura de "Zéro de Conduite'", escreve Gomes, citando a "realidade modesta, mas bem cuidada, que termina na fantasia, passando pelo esquisito".
Visto como instrumento de agitação política, o filme foi censurado na França. Vigo também teria problemas no trabalho seguinte, "Atalante". Os distribuidores resistiram ao filme, pouco convencional. Com sérios problemas de saúde, agravados durante as filmagens, Vigo mal viu o filme ser lançado. Morreu após as primeiras exibições. Seu estilo, tão elogiado quando refutado à época, passou a ser reconhecimento no pós-guerra. Agora, chega ao Brasil. Inteiro. Irregular. Epifânico. (APS)


Texto Anterior: Vida de cinema
Próximo Texto: Anarquista, pai do diretor adotou o nome Almereyda e morreu na prisão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.