|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Filme foi brincadeira, diz Oswaldo Montenegro
"Léo e Bia" foi visto por 206 pessoas em SP no último fim de semana
"Sou acusado de ter uma estética hippie. Mas aí penso: "Tenho mesmo". O que eu posso fazer se tem gente que detesta?"
ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO
"Foi ruim, né?", afirma,
sem uma ponta de surpresa
ou frustração no olhar, Oswaldo Montenegro, 54.
A observação do cantor diz
respeito aos 206 espectadores que assistiram ao seu filme, "Léo e Bia", no final de
semana passado, quando estreou em apenas uma sala de
cinema em São Paulo.
Decepção? "Não, eu não
imaginava nada. Não tenho
expectativas precisas em relação a nenhum projeto que
faço", diz o artista que, há décadas, conhece os altos e baixos, os adjetivos que vão do
"genial" ao "imbecil".
"Claro que torço por tudo
que faço, mas sempre me
pautei por uma saudável irresponsabilidade", insiste,
com uma modulação na voz
que faz jus à fama de hippie.
Na semana seguinte ao
lançamento de seu primeiro
filme, Montenegro recebeu a
Folha no café de um hotel,
em São Paulo.
Entre cigarrilhas Phillies e
Coca-Cola light, mostrou
que, mais do que qualquer
um de nós, conhece de trás
para a frente as piadinhas e
críticas que o cercam.
Mas nada parece abalar
Oswaldo Montenegro. Pior
cantor do Brasil? Idiota? Hippie chato?
"O artista não tem que
conseguir unanimidade. Sou
acusado de ter uma estética
hippie. Mas aí penso: "Tenho
mesmo". O que eu posso fazer se tem gente que detesta?
Tem gente que adora também. Divirto-me um pouco
com isso", diz, com a moral
de quem, há três décadas, lota shows pelo Brasil.
CABELO
Até para evitar que pegassem no seu pé, o cantor fez
"Léo e Bia" com dinheiro do
próprio bolso, sem usar leis
de incentivo.
"Não me considero um cineasta. Quis fazer uma experiência audiovisual, uma
brincadeira formal", explica.
O filme, que começa com
um grupo de teatro deitado
no chão, fumando maconha,
leva à tela um musical da década de 1980.
Como muitas coisas de
Montenegro -e como ele
próprio-, "Léo e Bia" tem
um quê de obra datada e...
hippie. É, no entanto, absolutamente original.
Talvez por isso tenha entusiasmado o público e parte
da crítica no Festival de Cinema de Recife no primeiro semestre deste ano.
"Como sempre, não esperava nada, até porque, na vida, já li coisas do tipo: "Gosto
da sua música, mas não suporto seu cabelo". Fiquei contente com a reação ao filme",
afirma ele.
A fala de Montenegro tem
um quê dos seus versos. "...É
como se eu não percebesse
nada/ Liga não, é coisa de
cantor", canta ele em "Fado
Doido".
Já em "Bandolins", Montenegro parecia preconizar a sina de ser sempre meio fora de
moda: "E como se não fosse
um tempo/ Em que já fosse
impróprio/ Se dançar assim/
Ela teimou e enfrentou o
mundo/ Se rodopiando/ Ao
som dos bandolins".
Rodopiando sem ligar para o mundo, Montenegro diz
que, no seu trabalho, o que
tem valor mesmo é quando
sabe que sua canção "fez
companhia a alguém".
No mais, acha que gigantes, na música, foram Villa-Lobos, Bach, Mozart. "A catedral foi feita por eles. A gente
faz só canções."
Texto Anterior: Raio-X: Cao Hamburger Próximo Texto: Frase Índice | Comunicar Erros
|