São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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Filme foi brincadeira, diz Oswaldo Montenegro

"Léo e Bia" foi visto por 206 pessoas em SP no último fim de semana

"Sou acusado de ter uma estética hippie. Mas aí penso: "Tenho mesmo". O que eu posso fazer se tem gente que detesta?"

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

"Foi ruim, né?", afirma, sem uma ponta de surpresa ou frustração no olhar, Oswaldo Montenegro, 54.
A observação do cantor diz respeito aos 206 espectadores que assistiram ao seu filme, "Léo e Bia", no final de semana passado, quando estreou em apenas uma sala de cinema em São Paulo.
Decepção? "Não, eu não imaginava nada. Não tenho expectativas precisas em relação a nenhum projeto que faço", diz o artista que, há décadas, conhece os altos e baixos, os adjetivos que vão do "genial" ao "imbecil".
"Claro que torço por tudo que faço, mas sempre me pautei por uma saudável irresponsabilidade", insiste, com uma modulação na voz que faz jus à fama de hippie.
Na semana seguinte ao lançamento de seu primeiro filme, Montenegro recebeu a Folha no café de um hotel, em São Paulo.
Entre cigarrilhas Phillies e Coca-Cola light, mostrou que, mais do que qualquer um de nós, conhece de trás para a frente as piadinhas e críticas que o cercam.
Mas nada parece abalar Oswaldo Montenegro. Pior cantor do Brasil? Idiota? Hippie chato?
"O artista não tem que conseguir unanimidade. Sou acusado de ter uma estética hippie. Mas aí penso: "Tenho mesmo". O que eu posso fazer se tem gente que detesta? Tem gente que adora também. Divirto-me um pouco com isso", diz, com a moral de quem, há três décadas, lota shows pelo Brasil.

CABELO
Até para evitar que pegassem no seu pé, o cantor fez "Léo e Bia" com dinheiro do próprio bolso, sem usar leis de incentivo.
"Não me considero um cineasta. Quis fazer uma experiência audiovisual, uma brincadeira formal", explica.
O filme, que começa com um grupo de teatro deitado no chão, fumando maconha, leva à tela um musical da década de 1980.
Como muitas coisas de Montenegro -e como ele próprio-, "Léo e Bia" tem um quê de obra datada e... hippie. É, no entanto, absolutamente original.
Talvez por isso tenha entusiasmado o público e parte da crítica no Festival de Cinema de Recife no primeiro semestre deste ano.
"Como sempre, não esperava nada, até porque, na vida, já li coisas do tipo: "Gosto da sua música, mas não suporto seu cabelo". Fiquei contente com a reação ao filme", afirma ele.
A fala de Montenegro tem um quê dos seus versos. "...É como se eu não percebesse nada/ Liga não, é coisa de cantor", canta ele em "Fado Doido".
Já em "Bandolins", Montenegro parecia preconizar a sina de ser sempre meio fora de moda: "E como se não fosse um tempo/ Em que já fosse impróprio/ Se dançar assim/ Ela teimou e enfrentou o mundo/ Se rodopiando/ Ao som dos bandolins".
Rodopiando sem ligar para o mundo, Montenegro diz que, no seu trabalho, o que tem valor mesmo é quando sabe que sua canção "fez companhia a alguém".
No mais, acha que gigantes, na música, foram Villa-Lobos, Bach, Mozart. "A catedral foi feita por eles. A gente faz só canções."


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