São Paulo, sábado, 26 de outubro de 2002

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"PRAZERES DESCONHECIDOS"

Zhang-ke vê angústia juvenil chinesa

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Toda a juventude do cinema sobrevive hoje na velhíssima Ásia -na China, no Vietnã, na Coréia, na Tailândia... Novos diretores desses países insuflam poderoso ar fresco nos rançosos modelos neoacadêmicos atuais. Entre eles, o chinês Jia Zhang-ke, 30, diretor de "Prazeres Desconhecidos", atração da Mostra de São Paulo.
O título do filme vem de um álbum do Joy Division. Como nas canções do grupo inglês, a melancolia e o niilismo predominam em "Prazeres Desconhecidos".
Jovens numa cidade perto da fronteira com a Mongólia vivem o tempo morto das expectativas que não se resolvem. Trata-se de um filme político sobre a juventude chinesa, na encruzilhada da abertura econômica e cultural do país, e um retrato existencialista e universal da adolescência.
Leia a seguir a entrevista de Zhang-ke, durante o Festival de Cannes, em maio, feita pela Folha e dois jornais europeus.

Pergunta - Em que me medida os jovens de seu filme representam a juventude atual chinesa?
Jia Zhang-ke -
Eles fazem parte da geração dos filhos únicos. Não têm irmãos nem irmãs, por causa do controle de natalidade. Como têm acesso ao mundo, pela internet, pela TV, podem ver a diferença entre sua vida e a dos outros países. As coisas estão se transformando em termos econômicos e sociais na China, mas os padrões de vida não se alteraram. Isso gera uma grande depressão nessa juventude. Mas eu não quis retratar no filme toda uma geração. Interessou-me falar de personagens numa pequena cidade, sozinhos, entregues ao próprio destino.

Pergunta - Por que optou por retratar uma pequena cidade?
Zhang-ke -
Neste filme, penso que existem dois personagens principais: essa nova geração de jovens, mas também os prédios. O ambiente que os cerca é importante para descrever suas dificuldades. São prédios industriais de uma cidade industrial, mas onde as fábricas não funcionam mais e muita gente está desempregada. Os prédios abandonados se relacionam com o abandono social dos meus personagens.

Pergunta - O uso do digital foi opção econômica ou estética?
Zhang-ke -
Não foi por uma razão econômica. Como as coisas estão mudando de modo muito rápido na China, eu quis contar essa história também rapidamente. Mas o que me interessa não é a técnica: é saber retratar as coisas de maneira clara e transmitir emoções através da arte.


PRAZERES DESCONHECIDOS - Unknown Pleasures. Direção: Jia Zhang-ke. Com: Wang Hong Wei. Quando: hoje, às 19h10, no Unibanco Arteplex 2; segunda, às 15h, no Unibanco Arteplex 1; quarta, às 14h, Espaço Unibanco 1.




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