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"PRAZERES DESCONHECIDOS"
Zhang-ke vê angústia juvenil chinesa
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Toda a juventude do cinema sobrevive hoje na velhíssima Ásia
-na China, no Vietnã, na Coréia,
na Tailândia... Novos diretores
desses países insuflam poderoso
ar fresco nos rançosos modelos
neoacadêmicos atuais. Entre eles,
o chinês Jia Zhang-ke, 30, diretor
de "Prazeres Desconhecidos",
atração da Mostra de São Paulo.
O título do filme vem de um álbum do Joy Division. Como nas
canções do grupo inglês, a melancolia e o niilismo predominam
em "Prazeres Desconhecidos".
Jovens numa cidade perto da
fronteira com a Mongólia vivem o
tempo morto das expectativas
que não se resolvem. Trata-se de
um filme político sobre a juventude chinesa, na encruzilhada da
abertura econômica e cultural do
país, e um retrato existencialista e
universal da adolescência.
Leia a seguir a entrevista de
Zhang-ke, durante o Festival de
Cannes, em maio, feita pela Folha
e dois jornais europeus.
Pergunta - Em que me medida os
jovens de seu filme representam a
juventude atual chinesa?
Jia Zhang-ke - Eles fazem parte
da geração dos filhos únicos. Não
têm irmãos nem irmãs, por causa
do controle de natalidade. Como
têm acesso ao mundo, pela internet, pela TV, podem ver a diferença entre sua vida e a dos outros
países. As coisas estão se transformando em termos econômicos e
sociais na China, mas os padrões
de vida não se alteraram. Isso gera
uma grande depressão nessa juventude. Mas eu não quis retratar
no filme toda uma geração. Interessou-me falar de personagens
numa pequena cidade, sozinhos,
entregues ao próprio destino.
Pergunta - Por que optou por retratar uma pequena cidade?
Zhang-ke - Neste filme, penso
que existem dois personagens
principais: essa nova geração de
jovens, mas também os prédios.
O ambiente que os cerca é importante para descrever suas dificuldades. São prédios industriais de
uma cidade industrial, mas onde
as fábricas não funcionam mais e
muita gente está desempregada.
Os prédios abandonados se relacionam com o abandono social
dos meus personagens.
Pergunta - O uso do digital foi opção econômica ou estética?
Zhang-ke - Não foi por uma razão econômica. Como as coisas
estão mudando de modo muito
rápido na China, eu quis contar
essa história também rapidamente. Mas o que me interessa não é a
técnica: é saber retratar as coisas
de maneira clara e transmitir
emoções através da arte.
PRAZERES DESCONHECIDOS - Unknown Pleasures. Direção: Jia Zhang-ke. Com: Wang Hong Wei. Quando: hoje,
às 19h10, no Unibanco Arteplex 2;
segunda, às 15h, no Unibanco Arteplex
1; quarta, às 14h, Espaço Unibanco 1.
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