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São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2003

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CRÍTICA

"ER" combina o previsível e o novo

BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Nesta última quinta-feira foi exibido no canal por assinatura Warner o 200º episódio do drama médico "ER". Nos Estados Unidos, o seriado já está em sua décima temporada e ainda atinge o terceiro lugar na audiência no concorridíssimo cenário do horário nobre norte-americano. Qual será o segredo da longevidade de "ER"?
É uma pergunta que deve assombrar a noite dos executivos de TV norte-americana. Como é que se faz um seriado de tanto sucesso por tanto tempo? "ER" não é o único há tanto tempo no ar, mas muito provavelmente é o que ainda tem fôlego para mais alguns anos. "Friends", por exemplo, que também está em sua temporada de número dez nos EUA, já está com os dias contados e, mesmo se ainda não estivesse para acabar, há muito que demonstra sinais de desgaste.
Uma pista possível pode ser a combinação quase perfeita entre previsibilidade e novidade. Quase todos os episódios têm a mesma estrutura, alternando os casos que chegam ao pronto-socorro de um grande hospital de Chicago e as complicadas vidas pessoais dos médicos e enfermeiras, e aqui cabe um parêntese curioso sobre as limitações do politicamente correto.
Ainda que ao longo destes dez anos tenham sido mostrados mulheres e homens exercendo a profissão de enfermeiro, não há nem houve nem sequer um enfermeiro homem a ser alçado ao círculo de personagens mais importantes, aqueles que têm vida pessoal. E, só para confirmar, dois dos casais mais famosos de "ER", os recentes Carter/Abby e os charmosíssimos Doug/Carol, eram formados pela clássica (e chauvinista) dobradinha médico-enfermeira.
Embora a estrutura se assemelhe e os dramas dos personagens principais não fujam daquilo de sempre -amores, desamores, encontros, separações, famílias problemáticas etc.-, o fato de a vida e a morte serem o pano de fundo de "ER" introduz, de alguma maneira, um interesse que não se esgota. Sabe-se o que esperar na maioria dos episódios, mas, ainda assim, o desfile das doenças, dos acidentes, das milhares maneiras de morrer oferece algum tipo de revelação permanente. É como se, diante do sofrimento e da dor na ficção, a simples constatação de estar vivo e bem, ou no mínimo melhor do que qualquer um daqueles que estão nos corredores do hospital, se transformasse numa espécie de epifania.
Acrescente-se a isso um ritmo que faz até mesmo filmes de ação parecerem arrastados e que inspirou outras séries de sucesso, como "CSI". A sensação de urgência e a tensão que comanda não apenas os procedimentos médicos, mas também os diálogos e relações entre os personagens são mantidas, de maneira notável, em seu grau máximo há dez anos.
E, além de tudo, foi "ER"que lançou George Clooney para o cinema.

E-mail: biabramo.tv@uol.com.br


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