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30º Mostra de SP
Ciclo traz cinema político italiano
Visconti e Pasolini ficaram de fora do recorte dedicado ao quase-gênero, surgido nos anos 60 e 70
Retrospectiva exibe 26 longas de diretores como Bernardo Bertolucci, Marco
Bellocchio, Ettore Scola, Mario Monicelli e Dino Risi
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Com a possível exceção do cinema revolucionário soviético,
nenhuma outra cinematografia
abordou a política com tanta
constância e variedade de enfoques como a italiana da segunda metade do século 20.
Com raízes no neo-realismo
de Rossellini e De Sica e forte
influência do jornalismo e do
documentário, o cinema político italiano floresceu particularmente nos anos 60 e 70.
A retrospectiva dedicada a
esse quase-gênero pela 30ª
Mostra de Cinema de São Paulo
permite conhecer ou rever as
vertentes dessa vigorosa produção. Acompanhando a retrospectiva, será lançado o livro
"Cinema Político Italiano
-Anos 60 e 70".
Entre os 26 longas-metragens selecionados, alguns deles
inéditos no circuito brasileiro,
há filmes para quem gosta mais
de cinema e filmes para quem
gosta mais de política.
No primeiro caso estão, por
exemplo, as obras de juventude
de autores como Marco Bellocchio e Bernardo Bertolucci.
São filmes em que a inquietação estética e as questões existenciais não são sacrificadas
pelo discurso político ou pela
intenção de denúncia.
Cruzamento
A narrativa descontínua de
"Antes da Revolução", de Bertolucci, com o tema das pulsões
confusas da juventude entre o
amor e a revolução (motivo que
voltaria num filme recente do
diretor, "Os Sonhadores"), entrecruza de certa forma as experiências estéticas da nouvelle vague, a investigação filosófica de Antonioni e a fúria política do cinema novo brasileiro,
ao qual Bertolucci foi ligado.
Em "A China Está Próxima",
de Bellocchio, a questão da luta
de classes é deslocada para o
universo das relações afetivas e
sexuais no interior de um partido supostamente de esquerda.
Depois do realismo crispado
de "De Punhos Cerrados" ( tragédia familiar), o tom de "A
China..." é de ácida ironia, com
políticos frouxos, sexo clandestino e intrigas de província.
No outro extremo do espectro estão os filmes francamente
militantes, que chegaram quase a configurar uma fórmula:
tema candente, tom documental, estrutura de investigação
policial... e Gian Maria Volonté.
Não é exagero: o grande ator
está em clássicos do gênero como "Investigação sobre um Cidadão acima de Qualquer Suspeita" (Francesco Rosi, 1972),
"Sacco e Vanzetti" (Giuliano
Montaldo, 1971) e "Giordano
Bruno" (Montaldo, 1973).
Os temas vão da intolerância
político-religiosa aos oligopólios petrolíferos, da especulação imobiliária à corrupção policial. São, em geral, filmes sisudos como o rosto pétreo de Volonté. Por sorte, há também a
vertente da comédia dramática
italiana para amenizar o clima.
Nesse departamento, destacam-se os filmes de Dino Risi
("Este Crime Chamado Justiça"), Ettore Scola ("Nós que
Nos Amávamos Tanto", "Feios,
Sujos e Malvados") e Mario
Monicelli ("Un Borghese Piccolo Piccolo").
No recorte escolhido ficaram
de fora grandes autores que não
deixaram de ser políticos, como
Visconti e Pasolini. Mas não
importa: o que está dentro vale
por um curso intensivo.
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