São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 2006

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30º Mostra de SP

Ciclo traz cinema político italiano

Visconti e Pasolini ficaram de fora do recorte dedicado ao quase-gênero, surgido nos anos 60 e 70

Retrospectiva exibe 26 longas de diretores como Bernardo Bertolucci, Marco Bellocchio, Ettore Scola, Mario Monicelli e Dino Risi


JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Com a possível exceção do cinema revolucionário soviético, nenhuma outra cinematografia abordou a política com tanta constância e variedade de enfoques como a italiana da segunda metade do século 20.
Com raízes no neo-realismo de Rossellini e De Sica e forte influência do jornalismo e do documentário, o cinema político italiano floresceu particularmente nos anos 60 e 70.
A retrospectiva dedicada a esse quase-gênero pela 30ª Mostra de Cinema de São Paulo permite conhecer ou rever as vertentes dessa vigorosa produção. Acompanhando a retrospectiva, será lançado o livro "Cinema Político Italiano -Anos 60 e 70".
Entre os 26 longas-metragens selecionados, alguns deles inéditos no circuito brasileiro, há filmes para quem gosta mais de cinema e filmes para quem gosta mais de política.
No primeiro caso estão, por exemplo, as obras de juventude de autores como Marco Bellocchio e Bernardo Bertolucci.
São filmes em que a inquietação estética e as questões existenciais não são sacrificadas pelo discurso político ou pela intenção de denúncia.

Cruzamento
A narrativa descontínua de "Antes da Revolução", de Bertolucci, com o tema das pulsões confusas da juventude entre o amor e a revolução (motivo que voltaria num filme recente do diretor, "Os Sonhadores"), entrecruza de certa forma as experiências estéticas da nouvelle vague, a investigação filosófica de Antonioni e a fúria política do cinema novo brasileiro, ao qual Bertolucci foi ligado.
Em "A China Está Próxima", de Bellocchio, a questão da luta de classes é deslocada para o universo das relações afetivas e sexuais no interior de um partido supostamente de esquerda.
Depois do realismo crispado de "De Punhos Cerrados" ( tragédia familiar), o tom de "A China..." é de ácida ironia, com políticos frouxos, sexo clandestino e intrigas de província.
No outro extremo do espectro estão os filmes francamente militantes, que chegaram quase a configurar uma fórmula: tema candente, tom documental, estrutura de investigação policial... e Gian Maria Volonté.
Não é exagero: o grande ator está em clássicos do gênero como "Investigação sobre um Cidadão acima de Qualquer Suspeita" (Francesco Rosi, 1972), "Sacco e Vanzetti" (Giuliano Montaldo, 1971) e "Giordano Bruno" (Montaldo, 1973).
Os temas vão da intolerância político-religiosa aos oligopólios petrolíferos, da especulação imobiliária à corrupção policial. São, em geral, filmes sisudos como o rosto pétreo de Volonté. Por sorte, há também a vertente da comédia dramática italiana para amenizar o clima. Nesse departamento, destacam-se os filmes de Dino Risi ("Este Crime Chamado Justiça"), Ettore Scola ("Nós que Nos Amávamos Tanto", "Feios, Sujos e Malvados") e Mario Monicelli ("Un Borghese Piccolo Piccolo").
No recorte escolhido ficaram de fora grandes autores que não deixaram de ser políticos, como Visconti e Pasolini. Mas não importa: o que está dentro vale por um curso intensivo.


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