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Crítica/"Belle Toujours - Sempre Bela"
Ausência de Deneuve atrapalha criação de obra-prima
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
É uma lástima que Catherine Deneuve tenha recusado voltar ao papel
da bela Séverine de "Bela da
Tarde": a idéia de retomar o
clássico personagem criado para o filme de Luis Buñuel 40
anos depois era um achado. E o
desenvolvimento que deu aos
personagens, exemplar.
"Belle Toujours - Sempre Bela" seria uma obra-prima, caso
não faltasse ali, justamente,
Deneuve. Porque no cinema
certas personagens são indissociáveis de seus criadores. Não
existe Séverine sem Deneuve,
assim como não existiria Michael Corleone sem Al Pacino.
O que restou, e não é pouco, é
a idéia de Oliveira, de promover
o reencontro da Bela com o sr.
Husson. No caso de Husson,
Michel Piccoli retoma o papel,
o que é bem importante. Ele era
talvez o mais pervertido dos
freqüentadores do bordel onde
a Bela pontificava, e com toda
certeza aquele que mais tensão
criava, já que era amigo do marido de Séverine.
Husson a vê durante um concerto, mas não consegue entrar
em contato com a mulher. A
partir daí temos contato com
esse homem hoje idoso e solitário, mas incontestavelmente
feliz por ter vivido aquela estranha aventura com uma mulher
invulgar.
Invulgarmente perversa, como ele bem explica ao barman a
quem desabafa ou às prostitutas que encontra, que lhe parecem amadoras perto da Bela da
Tarde.
O problema é que ele acaba
por encontrá-la, e ela aceita
marcar um encontro, onde
Husson julga que saberá o que
foi feito daquela mulher, hoje
aparentemente muito rica.
Mais, julga que enfim conseguirá entender o mistério de uma
mulher que amava seu marido
enormemente, mas de uma
maneira sadomasoquista que a
levava a entregar-se a outros
homens.
À parte a decepção que é vermos Bulle Ogier num papel
destinado a Catherine Deneuve
(por quem? pelos céus, talvez),
podemos desfrutar da solução
de Oliveira para o mistério Séverine, que aliás não se dissipará -até pelo contrário.
Quanto a Deneuve, só se pode lamentar: impediu que uma
obra de modo magnífica se tornasse obra-prima acabada e
impediu-se o privilégio de dar
um fecho de ouro para um dos
personagens mais fascinantes
que já se pôde ver numa tela de
cinema.
BELLE TOUJOURS - SEMPRE BELA
Direção: Manoel de Oliveira
Onde: hoje, às 16h50, no Frei Caneca
Arteplex 1; sáb., às 16h10, no Cine
Bombril Sala 1; qua., às 18h30, no Reserva Cultural Sala 2; qui. (dia 2), às
18h, no Memorial da América Latina
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